O órgão da ONU estima que, em 11 anos, o Brasil poderá superar a produção de grãos dos Estados Unidos e se tornar a principal potência agrícola do planeta. Vantagens como a disponibilidade de terras e água, clima favorável e tecnologia de ponta, que tornou as lavouras mais produtivas, deixariam o país em uma posição de vantagem difícil de ser superada por outra nação.
A FAO também conta com o Brasil para superar o problema da fome no mundo. Porém, com a crise financeira internacional, os agricultores enfrentam a falta de crédito. Além disso, a produção agrícola não está sendo ampliada e os estoques mundiais de alimentos estão baixos.
Nesse cenário, a previsão é de que o número de pessoas mal-alimentadas deve passar de um bilhão neste ano.
De acordo com especialistas, para que o Brasil assuma a liderança na produção de grãos, é preciso primeiro vencer alguns entraves como a legislação ambiental, a escassez de crédito e as dificuldades na hora da comercialização. Segundo o consultor em agronegócio Clímaco César, o Brasil tem, em termos produtivos, condição tranqüila de honrar tudo o que a FAO precisa dele, mas não em termos de comercialização.
? Nós estamos muito dependentes de preços internacionais na Bolsa de Chicago, na Bolsa de Nova York e nós não sabemos fazer. Quase não se investe em treinamento dos agricultores para comercializar é o grande erro do Brasil ? diz o consultor em agronegócio Clímaco César.
Para Eliseu Alves, assessor da Embrapa, não se pode ficar ameaçando o produtor hoje, dizendo que ele irá pagar multa.
? Muitas dessas ações [de ameaça] foram feitas em uma época que nem havia os códigos ainda, então esse passivo ambiental que está aqui tem que ser resolvido como o passivo do crédito também. Senão, vamos entrar em uma insegurança legal tremenda que não vai dar para fazer nada ? afirma Alves.
Para o ex-presidente da Embrapa, é necessário investir mais em pesquisa agropecuária. Enquanto os Estados Unidos dispõem de um orçamento anual de US$ 10 bilhões, o da Embrapa somado com o das Universidades chega a no máximo R$ 700 milhões.
? Tem que resolver também os problemas de infraestrutura, resolver o problema da burocracia de exportar. A exportação é uma coisa crucial para o Brasil. Se essa produção que está aí voltasse para o mercado interno, vamos ter derrubada de preço que será absolutamente intolerável ? conclui Alves.