Conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil é líder em número de acidentes fatais com esses equipamentos no meio rural. São cerca de três mil mortes por ano no país. E a cada três acidentes ocorridos, um ocasiona a incapacidade permanente do trabalhador. Geralmente, o excesso de confiança, a imprudência e a falta de treinamento estão por trás das tragédias.
– Eu não morri por milagre – conta o agricultor Osvaldo Otto, 61 anos, que em agosto sofreu acidente com o trator novo.
Veja dicas para operar tratores com segurança
Com o distribuidor de esterco acoplado à máquina, o implemento caiu em um buraco na lavoura em declive, na propriedade de 60 hectares em Barão de Cotegipe, no norte do Estado. O distribuidor puxou a máquina para trás e o trator tombou. Sem cinto de segurança, o agricultor foi arremessado.
Um dos poucos instrutores de operação de máquinas agrícolas dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) no Estado, Osvaldo Rodrigues Júnior diz que os acidentes mais graves ocorrem justamente quando há queda ou capotagem do veículo.
– Na hora em que a máquina tomba, joga para fora o operador, que pode acabar embaixo do trator – explica Rodrigues Júnior.
O uso do equipamento em terrenos de aclive ou declive acentuado é outro fator de risco. Como a parte da frente é mais leve que a traseira, há o perigo de da máquina cair. Conforme Júnior, além de ignorar o aclive acentuado, muitos produtores ainda tomam atitudes perigosas na tentativa de estabilizar a máquina.
– Colocam bolsas de cimento e até pedaços de ferro na frente do trator para dar estabilidade e impedir a queda e, às vezes, o acidente é pior.
A mecanização das lavouras tornou mais rápido e eficiente o trabalho de milhares de agricultores brasileiros. A tecnologia permite que as avançou a ponto de algumas máquinas se parecerem com computadores.
Hoje, tratores e colheitadeiras já vêm de fábrica com equipamentos de segurança capazes de reduzir acidentes e evitar fatalidades. No entanto, a maior parte dos produtores rurais ignora as recomendações e corre riscos desnecessários.
– As máquinas evoluíram, mas a exigência de treinamento de quem vai operar e a fiscalização das normas não acompanharam – avalia o produtor e revendedor de máquinas agrícolas Isaquel Poletto, de Erechim.
Poletto aponta como um dos maiores problemas a falta de divisão das máquinas em categorias. A exigência para operar um trator básico é a mesma para uma colheitadeira de grande porte.
Atualmente, para dirigir máquinas agrícolas, é preciso ter carteira de habilitação categoria C. No entanto, os CFCs não têm treinamento específico para quem vai dirigir trator.
A orientação acaba saindo da revenda, obrigada a repassar os detalhes do equipamento. É assim que o técnico agrícola e especialista de gestão em agronegócios Leandro Rotava entrega os tratores na revenda onde trabalha em Erechim. Manual do veículo na mão, repassa toda a parte técnica e não se cansa de repetir as normas de segurança.
O perigo dos acidentes no campo não está só na queda de máquinas. A maioria dos implementos é dotada de muitas lâminas, facas e engrenagens capazes de mutilar.
– Uma proteção plástica vem de fábrica com o equipamento, mas é a primeira coisa que o produtor tira quando compra – conta Rotava.
Especialistas dão conselhos para evitar acidentes:
– Use os equipamentos obrigatórios de proteção – botina, capacete (para tratores sem estrutura anticapotamento), colete refletivo, protetor auricular (para trator sem cabine), luva de couro, óculos de proteção e roupa apropriada.
– Confira o nível do óleo do motor, água, possíveis vazamentos, funcionamento dos freios e condições dos pneus.
– Verifique o terreno onde vai trabalhar. Quanto maior o trator, maior o risco de uma queda. Se a área estiver muito molhada, espere secar, pois o terreno pode ceder, ou ficar escorregadio a ponto de desestabilizar a máquina.
– Use sempre o cinto de segurança. Se o trator tombar, não tente pular fora, a estrutura anticapotamento do trator é construída para suportar todo o peso da máquina.
– Nunca mexa nas engrenagens da máquina sem desligar e tirar a chave de segurança da ignição.
– Não exceda a capacidade do equipamento, acoplando implementos maiores do que o trator é capaz de suportar.
– Não permita o uso do veículo por pessoa não habilitada e sem experiência, principalmente por crianças. Também não dê caronas.
– O trator não é meio de transporte para ir a bailes ou cidades, use estritamente no trabalho.
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