Amsterdam, a capital da Holanda é diferente de qualquer outra cidade europeia. A começar pela infraestrutura. Parte do território foi construída sobre o rio Amstel. Charmosas embarcações são residências valorizadas que chegam a custar 300 mil euros. Também chama atenção o polêmico comércio de produtos que são considerados ilícitos em outros países.
A grande quantidade de bicicletas é outro destaque. São mais de um milhão, para uma população que não passa de 800 mil pessoas. Nas ruas, é comum a realização de feiras livres. Mas é a praça central o mais famoso ponto de encontro dos visitantes. Ali estão o Obelisco em homenagem aos militares da Segunda Guerra Mundial, o Museu de Cera da cidade e o antigo Palácio Real.
Entre construções antigas e histórias seculares a Holanda também abriga discussões modernas. O país é a sede de uma das organizações mais atuantes e reconhecidas na batalha pela preservação ambiental. Mas isso não significa que as cobranças ambientais sejam tão enfáticas quanto as que acontecem no Brasil. Pelo contrário, a realidade é bem diferente.
Os produtores europeus não precisam cumprir nem a metade das exigências impostas aos produtores brasileiros. Mesmo assim, a pressão ambiental, não é nem de longe semelhante a que acontece em nosso país.
Foi o que confirmamos na visita à fazenda do produtor rural Ber Steggink. Na propriedade de 260 hectares, são cultivadas lavouras de trigo para ração animal, batatas e beterrabas, que na Europa são destinadas à produção de açúcar. O agricultor explica que a produção de alimentos é controlada pela União Europeia, que autoriza o cultivo. Mas o mesmo rigor não existe quando o assunto é proteção ambiental.
A preocupação ecológica é ampla na teoria e na prática é bem distinta da brasileira. As reservas legais são desconhecidas por aqui. A totalidade da propriedade é utilizada na agricultura, não é preciso preservar áreas verdes. Quanto às matas ciliares, a situação é a mesma. Os produtores podem explorá-las, desde que não utilizem defensivos a uma distância mínima de 10 metros do curso d’água. Vale destacar que os produtores recebem por esta contribuição ecológica.
? A União Europeia é a entidade que nos obriga a obedecer estas exigências. Como sabem, nós recebemos prêmios e subsídios por hectare, mas cada vez mais a possibilidade de receber estes prêmios está sujeita a obedecermos e prestarmos serviços verdes ? resume o agricultor.
Para o engenheiro agrônomo, Eric Regouin, que trabalha no Ministério da Agricultura do país, apesar de distintas, as exigências ambientais na Holanda também são restritivas. Mas, são adequadas à realidade da região. Ciente de que no Brasil as cobranças ecológicas são bem maiores, ele reconhece a dificuldade enfrentada pelos produtores.
? Aqui não se recebe por plantar árvores. Mas é difícil de avaliar. Por um lado aqui na Europa havia tanta floresta quanto havia no Brasil e hoje em dia não há. Isso porque nos últimos mil anos abatemos as florestas da Europa. Mas pode-se dizer que temos novos conhecimentos sobre a importância da natureza. E se a Europa tivesse que começar de novo com um continente cheio de florestas, certamente a situação seria diferente da que é agora. Hoje eu conheço muito bem as preocupações dos agricultores do Brasil no sentido de querer trabalhar, explorar a terra, produzir comida. Então eu posso imaginar que para o indivíduo estas obrigações soam extremamente difíceis. Agora, para a sociedade em geral talvez sejam aceitáveis ? relata.
De acordo com o especialista, as organizações não governamentais também pressionam o setor rural.
? Aqui as ONG’s são extremamente ativas. Isso se sente mais na área da pecuária, onde o assunto do bem estar animal, a emissão de amônia, azoto, poeira, CO2, são assuntos com os quais as ONG’s também se ocupam muito. Cada agricultor, para começar uma atividade e para continuar a sua atividade precisa de uma licença ambiental. Se ele obedece às regras, automaticamente recebe esta licença. Só que a população ao redor, tem sempre o direito de pedir recurso contra estas decisões. Podem elas sentir que são alvo ou vítima da poluição imaginada, percebida ou realista, deste tal agricultor. Agora, as ONG’s às vezes utilizam este espaço. No momento em que o agricultor precisa de uma licença ou precisa renovar sua licença só elas que protestam nas utilidades que esta licença seja dada ? revela.
De volta ao campo, perguntamos ao produtor se a pressão destes movimentos chega a atrapalhar as atividades e o informamos que no Brasil alguns agricultores estão deixando o agronegócio por não conseguir cumprir as exigências ambientais.
? Nós temos problemas semelhantes aos dos produtores brasileiros. Felizmente a minha fazenda não está sujeita a estas pressões, mas em geral os agricultores holandeses sentem muito a influência das organizações que lutam pela natureza cujo objetivo é pensar apenas na natureza e não mais agricultura. Mas estas exigências não estão tirando ninguém da atividade. Não são suficientes para nos fazer sair do campo ? conta Steggink.
Confira o infográfico com as reportagens feitas pelo Canal Rural pela Europa