O português é facilmente identificado na miscelânea de idiomas falados na Agritechnica 2023, maior feira mundial de máquinas e tecnologia agrícola, realizada em Hanover, na Alemanha.
Mesmo nos corredores externos, os brasileiros são facilmente reconhecidos pela bandeira na camiseta ou por uma cuia de chimarrão na mão, identificando a região Sul como a origem de boa parte dos visitantes do país.
Criada em 1985, a Agritechnica recebe expositores brasileiros desde 2005. Neste ano, são 28 representantes do Brasil na feira.
Boa parte deles está no pavilhão da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que congrega todos os fabricantes de máquinas, não apenas do agronegócio.
‘Agritechnica é feira de relacionamento e apresentação’
Segundo a diretora de mercado externo da Abimaq, Patrícia Gomes, uma das missões da entidade é promover a inserção do setor no mercado internacional.
“Esta não é uma feira de vendas, de negócios. É uma feira de relacionamento e de apresentação. Mostrar para o mundo que você existe e fazer contatos com vários países do mundo. É para mostrar a imagem do país. As empresas percebem o resultado financeiro ao longo do tempo, com o aumento de exportações”, afirma.
Patrícia Gomes conta que a Abimaq incentiva a participação de empresas, até pela questão econômica. “Existem anos em que o mercado doméstico não está tão aquecido, como o atual, em que vamos ter uma queda nas vendas. Mas o mercado externo pode compensar. Neste ano, deveremos ter um recorde de exportações”, diz.
Pavilhão da Abimaq
No pavilhão da Abimaq estão nove empresas. Entre as estreantes na feira está a Cimisa, uma indústria do Rio Grande do Sul, que fabrica máquinas para classificação, padronização e tratamento de sementes.
“Viemos atrás de contatos. Queremos criar uma rede de novos possíveis clientes”, diz Heitor Kunzler, gerente de exportação.
Embora a Cimisa envie produtos para outros países há mais de 30 anos, o mercado ainda está limitado. “Nós exportamos para América do Sul, para os vizinhos. Mas queremos expandir, abrir mercados para Ásia, para África, para o Leste Europeu. Nós já tivemos conversas bem interessantes, mesmo no início da feira”, conta.
Além de criar novos mercados, a feira também é um momento de espiar a concorrência. “É um momento de absorver informação também. É benéfico, tem muita troca, muito conhecimento”, complementa Kunzler.
Outra estreante é a SaveFarm, da Eirene Solutions, que trouxe para Alemanha uma solução de inteligência artificial que otimiza a pulverização de plantações e transforma os equipamentos tradicionais em pulverizadores inteligentes.
“Nós visitamos a feira em 2019 e agora retornamos como expositores, para demonstrar a tecnologia que desenvolvemos aqui no Brasil, ao lado dos grandes players do mercado mundial de agricultura de precisão. A expectativa é ampliar nosso mercado de atuação e encontrar novos parceiros comerciais principalmente na Europa e na Ásia”, destaca o CEO da empresa, Eduardo Marckmann, que recentemente iniciou o processo de internacionalização.
A fabricante de máquinas agrícolas Stara é veterana em Agritechnica. A empresa do Rio Grande do Sul participa da feira desde 2003.
“Para nós, a Agritechnica foi e continua sendo uma oportunidade de mostrar nosso trabalho e a tecnologia agrícola produzida no Brasil para o mundo inteiro”, afirma a gerente de marketing da Stara, Cíntia Dal Vesco.
Segundo ela, ao contrário das feiras do Brasil, em que muitos negócios são fechados, a Agritechnica funciona como uma vitrine. “É um espaço para mostrar nossa tecnologia e soluções. Quando começamos, a gente exportava para poucos países. Com o tempo, com a participação em feiras como essa, nós abrimos muitos mercados”, afirma.
Além das indústrias de máquinas, dez empresas brasileiras de peças também estão na feira.
“Na Agritechnica de 2019, estávamos em quatro empresas. Nós mais que dobramos a participação em apenas uma edição. O que mostra o quanto a feira é importante para o setor, especialmente para os exportadores. Não tenho dúvida que essa tendência vai continuar e vamos atrair cada vez mais empresas nas próximas”, diz a coordenadora de Fomento à Exportação do Sindicato Nacional da Indústria de Peças (Sindipeças), Fernanda Garavello Gonçalves.
As empresas brasileiras geram curiosidade, afirma a coordenadora. “O nosso parque industrial já é reconhecido pela qualidade, mas o ambiente de proximidade é muito rico para as empresas. A feira é uma vitrine para novos negócios para o futuro. Não adianta fazer apenas uma feira. É preciso participar de várias, e com regularidade”, diz.
Tanto a Abimaq, quanto o Sindipeças estão na Agritechnica em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que também está com um estande na Agritechnica.
Segundo o gerente de projetos da Agritechnica, Timo Zipf, o tamanho da feira é fundamental para atrair as empresas brasileiras. “O Brasil tem uma agricultura muito forte, muito moderna, e as empresas estão focadas em mostrar isso para produtores de outros países”, informa.
Nesta terça-feira (14), a DLG, que organiza a feira, promove uma conferência inédita dedicada ao Brasil e outros países da América do Sul. No evento, especialistas vão falar sobre as oportunidades de investimento na agricultura do Mercosul.
*O editor Gabriel Azevedo acompanha a Agritechnica a convite da DLG