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Agronegócio

Brasileiros que produzem soja na Bolívia relatam clima de guerra civil e medo

Em protesto contra reeleição do presidente Evo Morales, população bloqueia estradas impedindo transporte dos grãos, que são deixados no campo mesmo prontos para colheita; agricultores temem ficar sem insumos e peças de reposição para maquinário

Alguns brasileiros que produzem soja na Bolívia estão relatando clima de guerra civil no país após a reeleição do presidente Evo Morales, sob suspeita de manipulação de votos. Estradas bloqueadas impedem a colheita da soja já pronta, uma vez que os caminhões não podem levá-las até os compradores. Há preocupação também com o recebimento de insumos e peças de substituição para os maquinários.

Vídeos e fotos que circulam em aplicativos de mensagens mostram protestos violentos, pessoas mortas e feridas e um clima de terror em diversas áreas do país, como nas regiões de Santa Cruz de la Sierra e Potosí. Os produtores rurais brasileiros que atuam na Bolívia não quiseram se identificar, com receio de sofrer represálias de grupos que apoiam o governo de Evo Morales. Um deles comentou que os bloqueios nas estradas foram iniciados pela população.

“Até terça-feira (29), as manifestações eram pacíficas, tudo tranquilo. Mas na quarta (30), já com a suspeita de que a eleição foi manipulada, várias pessoas foram para as ruas, bloqueando as vias. Com isso, surgiram algumas pessoas armadas, tentando desbloquear a força. O resultado é muita gente ferida e até mortes”, diz um deles, de Santa Cruz de La Sierra.

Outro produtor, de Potossi, enviou três vídeos mostrando tentativas de desbloqueio de ruas e estradas; detidos pela população local, esses “desbloqueadores” teriam informado que receberam dinheiro e armas para liberar as vias. “O governo segue dizendo que desbloqueará as vias quando quiser, mas não é assim. E, por isso, os protestos, desde quarta começaram a se tornar bastante violentos”, comenta o produtor brasileiro que vive na Bolívia há 25 anos e planta 4.500 hectares de soja em Santa Cruz de la Sierra.

Soja pronta, mas sem colher

Conforme os protestos se tornaram mais violentos, os produtores brasileiros dizem que estão com receio de colher a soja e colocá-las em caminhões para enfrentar os bloqueios. “Até conseguimos, junto a algumas lideranças, a autorização para passar com os caminhões com grãos e combustíveis. Mas o risco é grande”, comenta o brasileiro de Santa Cruz.

Ele afirma que esses problemas estão acontecendo em diversas das grandes cidades grandes da Bolívia, como Cochabamba e Potosí, inclusive as que fazem divisa com o Brasil.

“Está tudo fechado, ninguém entra e ninguém sai. Com certeza teremos problema no recebimento de nossos insumos, pois eles vêm pelos portos do Chile e lá na divisa também está tudo parado”, diz.

Outro problema é o fechamento do comércio local, o que impede até a compra de peças de substituição para o maquinário agrícola.

“As lojas de peças para as máquinas não estão abrindo também, então, se quebrar algo, teremos problemas. Tenho um amigo de quem compro peças e ele não irá me fornecer porque está com medo de retaliação”, conta.

O dono de uma transportadora de insumos e grãos afirmou que, após os protestos terem ficado mais violentos, resolveu colocar todos seus veículos no seguro. “Disse a meus motoristas que, ao menor sinal de risco, devem deixar o caminhão lá, para não arriscar a vida. Não posso pará-los, mas coloquei tudo no seguro”, afirma.

Confira também as imagens e vídeos enviados ao Canal Rural pelo jornalistas boliviano Juan Pablo Cahuana, da Pantanal Radio y TV:

protestos bolívia

Problemas na fronteira do Brasil

Na fronteira com Mato Grosso há dois pontos de bloqueios. O principal é entre San Matias e Cáceres-MT, onde entre 10-15 manifestantes mantém fechado – de maneira pacífica – a passagem de pessoas e veículos de um lado para o outro.

“Apenas ambulâncias são autorizadas a cruzar. O outro ponto fica entre Los Petas e Porto Esperidião-MT, onde o cenário é semelhante”, diz o tenente coronel do grupo especial de segurança de fronteira (Gefron), Fábio Ricas.

Frigoríficos podem parar

Outra fonte, um gerente administrativo de uma fazenda de bovinos em San Ignácio. conta que com as estradas bolivianas fechadas, já há preocupação com o fornecimento de óleo diesel. Temem ficar, em breve, sem o combustível.

“Sem falar no risco de que frigoríficos sejam forçados a interromper as atividades, por dificuldade em escoar a produção. Até aqui não houve comprometimento dos embarques de boi gordo da fazenda para a indústria, já que ficam próximos e, não há bloqueios por ali. No entanto, temo que a dificuldade do frigorífico escoar a carne bovina, leve a uma eventual interrupção nos abates”, diz o gerente.

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