Uma empresa com sede em Pelotas atua há 91 anos no setor de beneficiamento de grãos. Recebe em media 2,250 mil toneladas de arroz por dia. Ao chegar, o produto passa por uma triagem. Em um laboratório, é selecionado por tipo e qualidade, depois segue para o setor onde é descascado e polido, embalado e, finalmente, embarcado em contêineres. 40% do volume de grãos beneficiados na empresa são transportados por cabotagem.
– É mais barato, tem custo aproximado de 15 a 20% abaixo do custo rodoviário – diz Roberto Vargas, gerente de logística.
Todo mês, 400 baús coletam 10 mil toneladas de grãos que são levados para todos os Estados do país que possuem portos. Por ano, são 120 mil toneladas.
– A segunda vantagem que vemos é a integridade do produto. Na cabotagem, a gente, praticamente, transporta o produto num cofre. Como a gente brinca aqui, o produto está num local totalmente fechado, vistoriado por funcionários nossos. Então, a gente tem uma garantia muito grande de que o produto vai chegar nas mesmas condições que saiu aqui da unidade produtora – fala Vargas.
De acordo com Vargas, os outros modais só são usados porque há regiões onde os portos ficam distantes dos locais de entrega. Mas nenhum deles oferece a regularidade e a segurança da cabotagem.
– No caso do frete rodoviário, a gente tem um país totalmente agrícola, e com ofertas muito grandes, no caso de cargas, no período de safra. Com isso, deixa as indústrias com dificuldade de embarque, com falta de caminhão. A gente fica vulnerável ao mercado, e no caso da cabotagem a gente tem um serviço muito regular, um serviço semanal saindo do porto de Rio Grande com escala em todos os principais portos do país. É primordial pra agente ter essa garantia, que o produto vai sair daqui com data marcada e vai chegar no destino com a data de agendamento – diz Vargas.
Dados da Secretaria Especial dos Portos mostram que, atualmente, 11,4% das cargas no país são feitos por meio da cabotagem. São 121 bilhões de toneladas por quilometro a cada ano. O modal chegou a responder por metade dos transportes brasileiros na década de 50. Depois perdeu espaço para as rodovias. Agora volta a ser a aposta de muitas empresas. E deve ser o meio de transporte de cargas com o maior crescimento nos próximos.
– A nossa empresa, inclusive, contratou uma pesquisa junto ao instituto ILOS, que demonstra que entre as cem maiores empresas do país, 60% delas pretendem iniciar na cabotagem ou elevar o volume que já têm, então aí esta visto o potencial que ela vai apresentar nos próximos anos – diz Rene Wlach, South Área Manager da Aliança Navegação e Logística.
Uma empresa privada do setor de navegação é responsável por 50% do serviço de cabotagem no Brasil. 60% das cargas que transportam são de arroz, são 250 contêineres, com seis mil toneladas do grão por semana. Ao perceberem que as estradas brasileiras estavam começando a saturar na década de 90, decidiram investir ainda mais no negócio. E com a parceria de empresas de frete passaram a oferecer o serviço de porta a porta, que trouxe mais competitividade à cabotagem.
– Nós preparamos toda a coleta na fábrica, levamos ao porto, embarcamos até o destino, onde novamente programamos a entrega da carga e entregamos na porta do cliente. Serão 12 a 15 dias de viagem marítima. Nós temos três dias pra coletar, entregar no porto. O nosso tempo aumentou em cinco a seis dias, mas nós temos a capacidade de levar um volume maior no navio. Então o diferencial se dá desta forma, e pelo atrativo que é o frete nós conseguimos dar uma redução substancial de 30 a 40%. Em alguns casos, até 50% de redução – fala Wlach.
Outro fator importante apontado por Rene é o da sustentabilidade. Segundo ele, o transporte marítimo polui bem menos que o rodoviário.
– Nós simulamos uma experiência de um contêiner de arroz que sai de Pelotas até Fortaleza. No navio nós temos uma emissão de 15 gramas por tonelada por quilômetro transportado, e no rodoviário isso se eleva a 225 gramas – fala Wlach.
Com a aprovação da MP 595, que deve modernizar os portos brasileiros, a empresa acredita que o setor vai ter mais agilidade e aumento da produção.
– 95% do que entra e sai do Brasil se dá por via marítima. O comércio internacional vai crescer muito nos próximos anos e a cabotagem chegou pra ficar. O volume é crescente, e muitas empresas que fazem um teste piloto vão aderindo, inicialmente com 10%. Vão elevando o percentual a índices de 60 a 70 % na cabotagem – completa Wlach.
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