Cadeia da batata brasileira traça novos rumos para produção e consumo

Instalação de indústrias de batata pré-frita traz segurança aos produtores e incentiva o uso do tubérculo na cozinha nacionalA cadeia produtiva da batata no Brasil está mudando conceitos e traçando novos  rumos tanto na produção, quanto no consumo. Somente na última década surgiram as primeiras indústrias de batatas pré-fritas, uma na Bahia e outra em Minas Gerais, que começaram mudar o cenário. Os altos subsídios europeus são um dos empecilhos a novos investimentos no setor, uma vez que a batata importada chega mais barata ao Brasil, mesmo com a taxação. O setor busca mais atenção, com políticas que estimulem o desen

O Brasil tem hoje 100 mil hectares plantados de batata, com uma produção anual que passa de 2,5 milhões de toneladas. Minas Gerais, Paraná e são Paulo são os maiores produtores do país. Do plantio até a mesa, o setor movimenta mais de R$ 2 bilhões. O consumo per capita no país ainda é baixo – fica entre 5kg e 7kg, sendo que a média mundial é de 20kg por habitante/ano.

Os conceitos também divergem mundo afora: enquanto em países como China e Índia a batata é sinônimo de combate à pobreza e equilíbrio social, em outros ela é vista como vilã da obesidade. O melhor caminho para a produção da batata no Brasil é o estímulo a novas indústrias de processamento. Este ano, a medida que aumentou a taxa de importação da batata de 14% para 25% também serviu de estímulo.

– Na verdade, a taxa vem ajudar a produção agrícola e industrial nacionais na medida em que compensa as vantagens competitivas que existem, principalmente, na Europa, em função dos subsídios agrícolas que existem dentro da política agrícola comum na comunidade europeia – explica o presidente do Bem Brasil, João Rochetto.

A chegada de indústrias, como uma recém-instalada em Araxá (MG), que deve produzir 80 mil toneladas de batata pré-frita apenas em 2012, mudou o planejamento dos produtores que conseguem fazer contratos fixos e sair da montanha russa do mercado in natura. Foi o que aconteceu com os irmãos Hamahiga.

– Nossa situação era um ano bom, outro muito ruim, tendo até que jogar as batatas fora. Os preços não pagavam nem os custos de produção. A entrada da indústria permitiu a produção de batata sob regime de contrato e isso nos permitiu uma produção de volume fixo, com preço contratado. Isso trouxe muito mais facilidade de gestão da empresa, principalmente financeira – afirma o produtor Isamu Hamahiga.

Assim, os irmãos saíram da gangorra dos preços em 2008, produzindo variedades como Asterix e Markies, próprias para a indústria. Das 60 mil toneladas que produzem, 40 mil se transformam em  chips, palha e pré-frita. Só a batata palito representa cerca de 35% do faturamento da empresa. 

De 2006 a 2011, o consumo de batata pré-frita no Brasil cresceu 20% ao ano. Em 2012, o aumento deve ser menor, cerca de 7%. O crescimento é um sinal de amadurecimento, dizem os especialistas, que esperam alcançar o padrão europeu em 15 anos, ou seja, aumentar em 50% o consumo da batata pré-frita e, a outra metade, in natura. Entre os grandes desafios, está o estímulo ao consumo de acordo com o uso na cozinha.

– Hoje, o consumidor brasileiro é voltado especificamente para um consumo de aparência. Ele procura uma aparência limpa e amarela, com brilho e sem defeitos de pele. Essas características só atendem a expectativa visual e não significam uma qualidade intrínseca do tubérculo. Há uma variedade especificamente para cozimento que tem sido usado para todos os fins. Existe uma banca única, que mostra só um produto voltado para o visual, e isso acaba tornando  o consumidor pouco instruído, sem ter direcionamento na sua opção na compra – explica Carlos Hamahiga, empresário do ramo da batata.

Hamahiga explica que se os países europeus não tivessem subsídios pesados que fazem com que o custo da batata brasileira seja três vezes maior, a competição seria outra, tanto no que diz respeito à qualidade, quanto do sabor.

– Hoje, seria um frescor, gerando sabor e principalmente a cor, seria uma cor mais amarelada, mais creme, em relação ao material importado, isso caiu no gosto em função do sabor constante durante o ano  que não usa material estocado – completa.

A indústria embala para seis marcas, sendo 80% para a marca própria. A empresa cresceu atendendo restaurantes e varejo, mas este ano entrou, pela primeira vez, nas redes de fast food, uma experiência que pode abrir novas portas. 

– Estamos começando a trabalhar com uma rede, atendendo apenas parte do volume necessário, até para ganharmos mais experiência. Mas temos certeza de que temos condição de atender perfeitamente essas redes, que são um mercado mais específico e exigente – afirma Rochetto.