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MINAS GERAIS

Café brasileiro conquista paladar chinês

Fermentação especial e rastreabilidade são diferenciais do café mineiro exportado para a China

café brasileiro, China
Foto: Igor Rocha/Epamig

Um lote de café produzido na Fazenda das Almas, em Cabo Verde, Sul de Minas Gerais, foi incluído no acordo bilateral para a exportação do grão nacional para a Luckin Coffee, a maior rede de cafeterias da China.

A transação, no valor de US$ 500 milhões, foi firmada pela Agência Brasileira de Promoção a Exportação (ApexBrasil) em junho.

Café com qualidade

O proprietário da fazenda, Virgolino Adriano Muniz, está na atividade desde 1980, quando assumiu a propriedade adquirida por seu pai em 1942. “Para mim, duas coisas são fundamentais para produzir um café de qualidade: ambiente e escolha correta da variedade (cultivar). O ambiente nós temos. Nossa região tem um clima ameno que favorece a qualidade”, explica.

“Para selecionar as variedades, temos dois campos de experimentos da EPAMIG que nos permitem tirar nossas próprias conclusões sobre a qualidade e a produtividade dos materiais testados”, afirma Adriano.

Localizada nas montanhas do Sul de Minas Gerais, a Fazenda das Almas está a 950 a 1.150 metros de altitude, uma região com clima propício, produzindo cafés com características específicas da área. Além disso, a fazenda cumpre com os processos de rastreabilidade, um requisito importante nas etapas de negociação de cafés.

Inovação e sustentabilidade

Os campos mencionados pelo proprietário são Unidades Demonstrativas de projetos que buscam selecionar cultivares de café mais adequadas para cada região e aos anseios do produtor em termos de produtividade e qualidade da bebida.

“Temos dois projetos já finalizados, no Sul de Minas e no Cerrado Mineiro, e um em curso que abrange todas as regiões cafeeiras de Minas Gerais, avaliando cultivares da Epamig e de outras instituições de pesquisa. É um método didático que nos permite acompanhar a evolução desses cafés dentro da realidade do produtor, nas condições daquele ambiente”, detalha o pesquisador da Epamig, Cesar Botelho.

Os produtores que recebem as unidades demonstrativas participam ativamente da pesquisa. “É pelo retorno deles que podemos basear nossas recomendações. Há ocasiões em que temos de um lado uma cultivar resistente à ferrugem e, de outro, uma que precisa de controle da doença (que é a mais devastadora da cafeicultura). O produtor pode comprovar em campo a genética trabalhando a favor da lavoura”, explica.

Adriano Muniz destaca que a preocupação com o manejo correto e a adoção de práticas agroecológicas agregam valor à produção. “Na entressafra, investimos no manejo e em tratos culturais que influenciam a qualidade do café. Estamos na 44ª colheita e, há vários anos, procuramos adotar práticas agroecológicas, de agricultura regenerativa. Optamos por variedades mais resistentes, quebra-ventos, além do uso de compostos e produtos biológicos”.

Exportação e fermentação

O lote vendido para a Luckin Coffee foi negociado pela SMC Specialty Coffees, armazém ligado à Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), no Sul de Minas Gerais. “Eles trazem os compradores e nós temos que conquistá-los. Apresentamos o que temos de melhor, o que o comprador internacional busca: sustentabilidade, rastreabilidade, segurança alimentar. Temos vários clientes europeus e asiáticos que compram nosso café há mais de 20 anos”, assegura Adriano.

O café fornecido para a empresa chinesa passou por um processo de fermentação. “Na Fazenda das Almas, primamos por aprimorar os processos e diferenciar nossos cafés. A nova onda que estamos adaptando e que está tendo ótimos resultados é a fermentação. Começamos com isso há cinco anos e temos evoluído ano a ano. Hoje, temos uma área específica para a fermentação e estamos avaliando diferentes métodos e tempos”, acrescenta Matheus Muniz, filho de Adriano.

Parceria com a pesquisa

Adriano Muniz afirma que está sempre em busca de inovação. “Nosso objetivo é superar a expectativa do nosso cliente. Ter a Epamig como parceira é uma honra para mim, para a família e para a Fazenda. Quando me ofereceram a Unidade Demonstrativa, não tinha a percepção do quanto isso é importante. Nessa área, acompanhamos a evolução das cultivares, produção, vigor, resistência a pragas, qualidade da bebida e conseguimos selecionar o que atende ao que desejamos. Quero estreitar essa relação e seguir na busca por cafés cada vez melhores”, enfatiza o produtor.

O trabalho inclui também a avaliação dos métodos de pós-colheita e da qualidade da bebida. “Nos últimos anos, o Programa de Melhoramento da Epamig vem avaliando a qualidade sensorial tanto de novos materiais promissores quanto na identificação do potencial máximo das cultivares que já disponibilizamos para os produtores. Casos como o da Catiguá MG2 e a MGS Paraíso 2 apresentam grande potencial em produtividade, resistência à ferrugem e qualidade da bebida, com pontuação similar ou superior à cultivar Bourbon, que é a referência mundial”, destaca o pesquisador Denis Nadaleti.

“A última fase do Programa de Melhoramento são os projetos de validação das cultivares em propriedades comerciais. Ter uma Unidade Demonstrativa como essa na Fazenda das Almas abre também a possibilidade de estudarmos uma variedade de processos pós-colheita, como é o caso da fermentação desse café que chegou à China”, conclui.

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