A estiagem prolongada no ano passado e as chuvas em excesso este ano nas regiões produtoras de café em Minas Gerais devem prejudicar o resultado da safra 2020/2021, que começa a ser colhida em maio. A expectativa é de que a produção nacional não ultrapasse a de dois anos atrás, de 61 milhões de sacas. Volume bem abaixo do estimado em fevereiro pela consultoria INTL FCStone, de 65,1 milhões de sacas.
“Não acreditamos em uma supersafra em 2020, mas sim em um número próximo à colheita de 2018”, confirma o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), Carlos Augusto Rodrigues de Melo.
Um fator que impedirá resultado melhor já está consolidado: a seca e as altas temperaturas no início do segundo semestre do ano passado impediram o desenvolvimento de parte das floradas. Com isso, as rosetas, que em condições ideais deveriam estar hoje com 12 a 15 frutos, estão com 8 a 10, segundo o coordenador do Departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, Éder Ribeiro dos Santos.
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Outro fator que pode afetar a produtividade dos cafezais no atual ciclo, as chuvas em excesso, ainda não pode ser medido. “Com as chuvas, muitos produtores podem não ter conseguido entrar (nas plantações) e dar o trato necessário às lavouras”, aponta o representante da Cooxupé, se referindo, por exemplo, à aplicação de adubos e ao controle de pragas e doenças.
Produtor de café em Alto Jequitibá, na Zona da Mata, Luizmar Catheringer afirma ter tido prejuízo de aproximadamente R$ 150 mil com a destruição de pés durante as chuvas. A Zona da Mata está entre as regiões mais atingidas por tempestades em Minas Gerais este ano. De um total de 150 mil pés, o produtor perdeu 15 mil, o equivalente a cerca de 300 sacas. Com isso, sua produção, projetada em 2,5 mil sacas, vai cair para 2,2 mil.
A destruição dos pés aconteceu por deslizamentos de terra. Na região, onde se produz 25% do volume total de café do estado, o terreno é acidentado e o café é plantado nas montanhas.
Catheringer afirma que o prejuízo não ficou apenas na perda dos pés de café. “As estradas internas que utilizamos para o trato e o escoamento da produção também foram destruídas. Em algumas áreas não consegui nem sequer levar o adubo”, relata. Ele diz ter acionado o seguro.
O produtor afirma não ser o único na região a ter registrado problemas com as chuvas. Agricultores de 30 municípios no entorno, conforme Catheringer, também tiveram prejuízo com as tempestades.
O diretor-presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Laginha (Coocafé), na Zona da Mata mineira, onde é produzido o chamado café Matas de Minas, Fernando Cerqueira, afirma que os danos foram pontuais e não vão afetar a safra que começa a ser colhida em maio. A expectativa é que a região produza entre 7 milhões e 7,5 milhões de sacas. “Quando se aplica à região, a significância (dos prejuízos causados pela chuva) é baixa”, diz Cerqueira.
A analista de Agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, diz ser cedo para medir o impacto das condições climáticas na próxima safra do café, pelo fato de os grãos ainda estarem em formação. Afirma, no entanto, que relatos de perdas à Faemg, em relação às tempestades, foram feitos apenas por parte da Zona da Mata. “A chuva é benéfica para toda e qualquer cultura. O excesso, porém, causa prejuízo”, diz Ana Carolina.
A expectativa preliminar da Faemg é de que a safra que começa a ser colhida em maio atinja 31 milhões de sacas em Minas Gerais. A safra anterior foi de 24 milhões de sacas e teve impacto negativo de problema oposto, falta de chuvas. “Houve quebra por causa da seca e altas temperaturas. Na mesma galha havia grãos verdes junto a grãos maduros. Agora esperamos uma safra maior e com mais qualidade”, afirma a analista da Faemg.