A cegueira de Antônio teve início aos cinco anos de idade, numa série de acidentes e doenças. Por conta disso, ele só conseguiu estudar até a terceira série do Ensino Fundamental. Ajudou os irmãos no cultivo de milho e fumo na propriedade de 22 hectares e descobriu sua vocação nos frutos.
? No começo, eu ajudei e, aos poucos, ele assumiu tudo sozinho ? conta o pai, Ambrósio Svolinski, 64 anos.
Munido de botas de borracha para evitar acidentes, Antônio circula pela propriedade com a taquara sempre à frente vistoriando o caminho. Com os outros sentidos aguçados, é capaz de intuir a presença de pessoas e animais. No começo da atividade, pensou em treinar um cão para ser seu guia na propriedade, mas desistiu da ideia.
? Se estou sozinho, consigo ouvir o rastejar de uma cobra, mas, se o cão está junto, posso confundir o barulho ? justifica.
É com uma batida da taquara nos pés de frutas que o agricultor identifica a espécie. O toque nas folhas revela a variedade da fruta. Só de laranjas, são 2 mil pés, de quatro variedades. Antônio também cultiva 500 pés de ameixa e 300 de nectarina, que terão este ano a primeira produção. Para aproveitar o espaço entre as árvores, plantou moranga cabotiá.
O trabalho cresceu tanto que neste ano o produtor precisou contratar peões para auxiliar na colheita da laranja: 55 toneladas. Como boa parte dos pés são novos, a produção vai aumentar na próxima safra.
? Este ano, meu lucro vai ser perto dos R$ 7 mil. Escolhi esta área porque é muito rentável ? conta Antônio.
Dedicado, o produtor não passa um único dia sem vistoriar os pomares. Passando a mão nos troncos, ele percebe se a árvore está doente. Ao tocar as folhas, identifica a presença de pragas. Quando não consegue descobrir o problema da planta, corta um galho e leva ao escritório da Emater de Erval Grande. A propriedade dos Svolinski fica a 11 quilômetros do centro de Erval, no fundo de um vale ao qual só se tem acesso por uma estrada que em alguns pontos não passa de uma trilha em meio à mata. Mas o sucesso de Antônio o fez conhecido na região.
? Ele discute as técnicas de produção e conhece a história de cada pé de fruta que plantou ? afirma Nilton Cipriano Dutra de Souza, assistente técnico regional da Emater.
Antônio escolheu o controle fitossanitário para suas plantas. O resultado são frutas bonitas, com boa aceitação no mercado. Com pomares novos, ele já produz a média da região para pomares antigos, com 25 toneladas de laranja por hectare.
Mas nem tudo é trabalho na vida de Antônio. Ele reserva no seu dia tempo para o lazer, seja assistindo às missas, jogando bocha e até tocando gaita para animar a família. E também tem planos além do pomar:
? Sei que os cegos dão excelentes massagistas, meu sonho é fazer um curso para ajudar os outros nas horas extras.