Arrozeiros buscam apoio contra desvalorização do grão no RS

Expectativa dos produtores está voltada para o leilão da Conab e reunião com o governador TarsoProdutores de arroz do Rio Grande do Sul reivindicam junto ao governo estadual condições de venda para a safra 2010/2011. O preço é o menor dos últimos três anos, e muitos produtores gastaram mais do que estão recebendo por saca. Entre as solicitações, eles pedem para que seja cumprido o preço mínino, estabelecido pelo governo federal.

Em reunião nessa quarta, dia 26, entidades do setor apresentaram seis propostas ao governo do Estado:
* A Redução do valor da produção do arroz, casca e beneficiado;
* Realização de credenciamento emergencial de armazéns (pessoa física) para receber arroz de AGFs;
* Apoio para aprovação do PL 236/2010 que propõe a isenção do CDO nas exportações.
*Priorização de análises, junto a Fepam/DRH, dos produtores enquadrados no Produsa e aos demais, com relação a Licença Ambiental e Outorga;
*Agilização da retomada do Terminal da CESA de Rio Grande para o Estado;
*E a fiscalização do cumprimento das leis estaduais: 12.685/2006 (CDO sobre o arroz importado) 12.427/2006 (pesagem e exames fitossanitários no ingresso dos produtos agrícolas).

Já para o governo federal, as entidades reivindicam:
*Garantia de preços mínimos (entra nesse quesito as aquisições do governo federal, as AGFs; A continuidade dos leilões de prêmio de escoamento de produto e premio equalizador);
*A revisão na Instrução Normativa ? IN 06/12 referente à classificação do arroz  no Ministério da Agricultura;
*O Desenvolvimento de estudos para produzir etanol de arroz, criando solução para os excedentes de produção, presentes e futuros;
*E o reescalonamento global da divida dos produtores, pois da forma atual inviabiliza o acesso a novos créditos.

Para garantir a estabilidade do preço, especialistas e representantes de entidades do setor entendem que há uma necessidade de que o excedente da produção seja retirado do mercado. Se no início da safra passada o preço da saca chegou a ficar em torno de R$ 34, como observa o presidente da Federarroz, Renato Rocha, a oscilação fez com que o valor caísse, chegando à casa dos R$ 21 ? cerca de R$ 7 a R$ 8 abaixo do custo de produção e aquém do preço mínimo estabelecido pela União, de R$ 25,80.

? Esse é um momento bastante difícil. O produtor vai iniciar a nova safra ainda com compromissos da colheita passada ? afirma Rocha.

Entre os fatores apontados para a depreciação está a importação do arroz. O consultor Tiago Barata, da Agrotendências, lembra que o Estado sofre com a competição do produto vindo do Uruguai e da Argentina, embora acredite que o grande causador dos preços baixos seja o “represamento do produto”. A produção gaúcha 2010/2011 é estimada em mais de 8 milhões de toneladas.

? A questão deveria ser alternativas para o escoamento ? avalia Barata.

Rocha acrescenta ainda os reflexos do câmbio na composição da balança do preço. Mas nem mesmo o período de entressafra, em que a oferta fica reduzida, conseguiu alavancar o valor do grão.

? Hoje o principal pleito dentro do governo federal é o mercado a comercialização do apoio do governo na liberação de recursos para comercialização. Outra questão que nós chamamos atenção também do governador é que nós precisamos tomar iniciativas e estudos e pesquisas para produzir arroz para outros consumos. Atualmente, se produz só para o consumo humano, nós precisamos produzir biocombustível, para produzir álcool de arroz e também ração animal. Nós temos um cenário no futuro, de sobra de produção no Mercosul muito grande. Quanto mais sobra, mais achata os preços aos produtores e mais nós vamos ter que estar presentes para o governo para ele nos dar socorro, apagar incêndio ? diz Rocha.

Porém, o governo estadual não acredita nessa sobra de produto, e, por enquanto, não demonstra interesse em investir em outras utilizações do arroz.

? Não acredito muito que o arroz deva servir para biocombustível, arroz tem que servir para alimentação humana, o mundo caminha para cada vez mais querer alimentos e nós temos que não só ser no RS ser competitivos internamente produzindo para o consumo Brasileiro, mas nós temos que criar condições lá fora, buscar mercado para que a gente possa no arroz ter um dos pontos importantes da nossa exportação ? diz o secretário de Agricultura do RS, Luiz Fernando Mainardi.

Colheita deve iniciar em 20 dias
As lavouras já estão em fase final de desenvolvimento e os produtores se preparam para iniciar a colheita em 20 dias. Mas mesmo com o período de entressafra os preços pagos estão em baixa e há produtores vendendo por valores menores do preço mínimo.

? Para essa safra nós estamos muito assustados. Nós estamos com um custo de produção bem acima dos valores que o mercado está remunerando e com a entrada dessa safra nova agora, sem ter desovado os estoques antigos provavelmente nós vamos ter um declínio ainda maior de preço ? diz o produtor João Paulo Knackfuss.

A produtora Taísa Knackfuss, que administra a propriedade da família, diz que problema são os altos custos de produção, que não deixam margem para competir com os produtos importados.

? Se nós tivéssemos um custo mais em conta como tem a Argentina e Uruguai, países dos quais nós importamos arroz, se nós pudéssemos competir com eles, eu acho que esse preço que nós estamos vislumbrando hoje de R$22 a saca estaria bem apago, o problema é que nós não conseguimos importar esses produtos, nós temos que comprar o mesmo produto aqui que é o triplo do preço, somos obrigados a isso e não temos para onde ir ? afirma Taísa.
 
Ela diz ainda que mesmo com a redução do valor aos produtores, o consumidor segue pagando cada vez mais caro pelo produto final.

? É uma briga saber quem está ganhando com isso. Com certeza, não são os produtores. com o passar dos anos nós vamos vendendo muito abaixo do valor. Cada vez mais baixo. E nós, consumidores, porque eu também vou ao supermercado comprar arroz, e continuamos pagando preços cada vez mais altos. Então, se o produtor vende cada vez mais baixo e nós consumidor pagamos cada vez mais, quem está ganhando com isso? ? indaga Taísa.