Brasil começa safra de café com os estoques mais baixos das últimas décadas

Produtores devem segurar a produção para tentar conseguir preços melhores

Fonte: Henrique Bighetti/Canal Rural

A colheita do café brasileiro avança, mas os estoques do produto continuam baixos, chegando ao menor patamar das últimas décadas. Este cenário tem deixado o mercado agitado e, no próximo ano-safra, que segue até junho do ano que vem, a expectativa é a mesma: oferta reduzida e preços elevados.

Nos últimos três anos, o mercado acompanhou quebras de safras nos principais produtores mundiais e consumo acelerado, com crescimento estimado em 1,5% ao ano. Para o analista de mercado Eduardo Carvalhaes, existe um desequilíbrio grande na balança entre oferta e demanda. “Exportação em alta, consumo interno em alta e produção em baixa significa que nossos estoques acabaram na prática. Existe muito pouco café tanto na iniciativa privada, dos produtores, quanto na mão do governo”, analisou.

 Para os especialistas, a situação é tão ruim que essa já é considerada a menor oferta de café em estoques brasileiros nas últimas décadas. A situação motivou o governo a retomar os leilões de estoques públicos do produto.  “Esses leilões na entrada da nova safra, ou seja, competindo com o café do produtor brasileiro, não é uma coisa comum. Mas, a situação é tão crítica em termos de abastecimento do consumo interno brasileiro que o governo o decidiu fazer e são volumes pequenos frente ao que o Brasil consome por mês”, falou Carvalhaes.

Se a expectativa é de que os leilões do governo não façam muita diferença na oferta, os preços devem seguir elevados principalmente no mercado nacional. O cenário sugere uma negociação mais lenta, já que o produtor precisa garantir lucros melhores em tempos de altos custos.

“O cafeicultor brasileiro está vendendo de um modo bastante pausado, pensando muito antes de fazer isso, já que ele sente que a safra brasileira não foi tão grande assim. Ele sente que não tem estoque e, ao mesmo tempo, os problemas climáticos estão se repetindo. Ele vende pra pagar as contas, mas entre vender e aplicar o dinheiro ou deixar o café no armazém, ele está preferindo deixar o café no armazém”, falou o analista.

O pensamento descrito por Carvalhaes é o mesmo do cafeicultor Ricardo Bacci, de Bragança Paulista. A expectativa é de quebra de mais de 60% da safra em relação à passada, o que tem feito com que ele segure os estoques em busca de preços bons. “Eu vou segurar pra ver a reação do mercado. A hora que o preço estiver favorável eu vendo. Vou acabar vendendo para acertar umas contas”, disse.

Até o fim da colheita, programada para este mês, o terreiro da família deve acumular 15 mil quilos de café arábica. A ideia do produtor, é segurar por alguns meses. “Uns dois ou três meses ainda, vamos ver. O mercado é muito volátil, pois uma hora sobe e na outra desce e não podemos esperar muito”, concluiu.