Apesar de ser o maior produtor e exportador mundial de café, o Brasil tem dificuldades em agregar valor ao produto. Isso é o que indica o resultado de pesquisa divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), indicando as principais dificuldades do país nas vendas externas de café industrializado.
Segundo o MDIC, em 2014 o Brasil exportou US$ 6,6 bilhões em café. Desse montante, 90,6% representaram vendas de café verde. O café verde é o grão cru, negociado com preços inferiores aos do café beneficiado. Do restante, 8,45% do total foram de café solúvel. Outros extratos concentrados somaram 0,68% do valor em exportações. Já o café torrado, vendido por mais que o dobro do café verde no mercado externo, respondeu por apenas US$ 11,6 milhões das exportações, equivalente a apenas 0,17%. Além disso, no subsetor do café solúvel, que supera em valor agregado o café verde, as exportações estão estagnadas.
De acordo com técnicos do ministério, o subsetor do café solúvel apresenta problemas de competitividade, que se manifestam na diminuição da participação relativa do Brasil nas exportações desse tipo de produto, “a despeito do aumento constante de consumo em quase todo o mundo”.
Na safra 2007/2008, o Brasil exportou 3,53 milhões de sacas de café solúvel e os demais países exportadores venderam 3,55 milhões de sacas. Cinco anos depois, na safra 2012/2013, o país exportou apenas 3,44 milhões de sacas de café solúvel, enquanto as vendas dos outros países exportadores subiram para 7,76 milhões de sacas.
Conforme o Ministério, os gargalos para aumento das exportações de café beneficiado são, além das limitações de gestão na maioria das empresas de micro, pequeno e médio porte de torrefação de café, falta de interesse das empresas brasileiras de café torrado e moído em competir no mercado externo, falta de interesse de empresas estrangeiras em usar o Brasil como plataforma de exportação para o café torrado e moído, tributação excessiva da União Europeia e do Japão sobre o café industrializado brasileiro, dificuldade de importar café verde para usar na fabricação de misturas de maior valor agregado e falta de governança que concentre os esforços dos produtores e dificuldade dos exportadores para acesso a créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria da Café (Abic), Nathan Hersvkowicz, o diagnóstico do governo é um primeiro passo na direção de políticas para estimular exportações de maior valor agregado no setor.
– É o primeiro trabalho. O ministério contratou o estudo para ter um diagnóstico bastante agudo – disse, acrescentando que os dados servirão de subsídio para futuras políticas.
Segundo ele, atualmente o suporte existente para interessados na exportação de café é um programa da Agência Brasileira Promotora de Exportações e Investimentos (Apex), vinculada ao Mdic.
– Há um programa exportador da Apex para inúmeros produtos e o café é um deles. O programa fornece apoio para inteligência comercial, participação em feiras, ações de degustação e concursos de qualidade – explica.
Para o diretor, um dos entrevistados para o estudo do Mdic, a falta de cultura exportadora e a baixa tecnologia estão entre os principais entraves para que o Brasil aumente as exportações de café industrializado.
– Cerca de 80% do nosso setor é composto por micro e pequenas empresas, que não têm cultura exportadora, nem estrutura para exportar. Não conhecem o trâmite mínimo burocrático e têm dificuldades tecnológicas – diz.
Hersvkowicz destacou ainda que o mercado externo de café é extremamente concorrido, por isso a dificuldade das empresas menores em se tornarem exportadoras do produto beneficiado.
De acordo com ele, os avanços mais imediatos ocorrerão a partir de dois movimentos: um, que já está ocorrendo, é o investimento de grandes empresas que produzem café diferenciado, como as cápsulas (café para preparo rápido, acondicionado em cápsulas de plástico). Outra solução, indicada no estudo, é que os investidores brasileiros se interessem por comprar empresas ou marcas fora do Brasil.
– É muito mais eficiente e menos custoso do que construir a partir do zero – conclui.