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Café: chuvas chegaram tarde demais no ES

Produtores garantem que a recuperação no Brasil em 2017 é ruim e descartam a possibilidade de restabelecimento completo no estado

Fonte: Daniel Medeiros/Arquivo Pessoal

A estiagem que forçou produtores de café do Espírito Santo a erradicar suas plantações deve continuar afetando os preços da commodity, mesmo com a volta das chuvas a regiões de cultivo do Estado, o maior produtor brasileiro da variedade robusta. 

O cafeicultor Carlos Babilon é um exemplo, após ter arrancado 8 mil pés de café de sua propriedade. Por causa da seca prolongada, não foi possível salvar as plantas, principalmente as mais antigas, garantiu.

Quase três anos de clima seco nessa região do Brasil afetaram a produção, a renda de produtores e impulsionaram os preços internacionais de café. Voltou a chover no estado em novembro, mas cafeicultores e analistas dizem que as precipitações chegaram tarde demais para salvar a safra atual. Alguns produtores inclusive já migraram para outras culturas, como banana e manga.

“A situação tem sido muito ruim, simplesmente terrível”, disse Babilon. “De modo geral, a safra de 2017 vai ser pior que a de 2016”, e a situação só vai poder melhorar novamente em 2018, se as condições climáticas continuarem favoráveis, afirmou.

A estiagem pode fazer com que a demanda global supere a produção por pelo menos mais dois anos, impulsionando os preços e forçando torrefadoras a encontrar fontes alternativas de café fora do Brasil.

“Quanto ao robusta, a perspectiva de uma recuperação no Brasil em 2017 é ruim, e descartamos uma recuperação completa no Espírito Santo”, disse em nota o Rabobank. Segundo o banco, a escassez de robusta do Brasil deve resultar em um déficit global de café de 2,8 milhões de sacas na temporada 2016/17, e é possível que a demanda supere a produção em 2 milhões de sacas no próximo ciclo.
Como o café arábica pode ser usado como alternativa quando a oferta de robusta é reduzida, a escassez de robusta do Brasil contribuiu para que os preços de arábica alcançassem o maior nível em quase dois anos no começo de novembro. Isso aconteceu apesar da previsão de uma safra volumosa de arábica.

O Brasil é o maior produtor mundial de café e responsável por cerca de 20% da produção mundial de robusta, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. Cerca de três quartos da oferta brasileira de robusta vêm do Espírito Santo. 

Fora do Brasil, torrefadoras que compram os grãos disseram que vão conseguir absorver a alta dos preços sem repassá-la para o varejo. No Brasil, porém, o impacto tem sido mais forte. Como o País não permite a importação de robusta, a quebra de safra elevou significativamente os preços domésticos de café. Para produtores, no entanto, os preços mais altos não têm sido suficientes para compensar a fraca produção. Apesar de ter recorrido a outras culturas, como banana, para pagar as contas, Babilon cancelou seu plano de saúde para poder bancar a educação dos filhos. 

Mesmo antes da seca, o produtor de café Julio Cezar Cuquetto começou a diversificar para outras culturas, como manga e pimenta, que oferecem uma renda mais segura. Mas isso ainda não é suficiente. “É o café que paga as contas”, disse.
Muitos produtores acreditam que a produção vai se recuperar eventualmente com a volta das chuvas. Além disso, preços mais altos podem estimular o plantio de uma área maior. Segundo Babilon, seus esforços para manter saudáveis as plantas remanescentes podem trazer recompensas caso as condições melhorem. 

“Acho que o pior já passou”, amenizou o analista Rodrigo Costa, do Société Générale.

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