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Café

Cafés especiais do Brasil terão proteção na UE contra imitação

Com o tratado, produtores esperam alavancar as vendas para o mercado europeu. Confira na reportagem como são produzidos esses grãos

Cafezal em Mantiqueira de Minas - Foto: Inez De Podestà/Mapa
Cafezal em Mantiqueira de Minas. Foto: Inez De Podestá/Mapa

Mantiqueira de Minas (MG) é conhecida pelo clima de montanha e as estâncias hidrominerais, cujas águas são terapêuticas. Na região, é produzido também um dos cafés mais conceituados do país.

Com as lavouras nas áreas montanhosas, sem mecanização, o café da Mantiqueira de Minas ganhou notoriedade nacional e internacional. Em maio de 2011, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) concedeu o registro de Indicação de Procedência para a região, que engloba 25 municípios.

As primeiras lavouras começaram entre 1848 e 1850. Mas foi a partir de 1996 que o café ganhou cada vez mais qualidade, com o aprimoramento da tecnologia, busca de novos cultivares e instalação de infraestrutura para melhoria da qualidade, como colheita altamente seletiva (a partir da maturação dos cultivares precoces, médios e tardios), uso de lavadores, separadores e descascamento do café cereja.

Com todas essas peculiaridades, o café da Serra da Mantiqueira de Minas está entre as indicações geográficas (IGs) do Brasil reconhecidas pela União Europeia, em razão do acordo Mercosul-UE, firmado no ano passado. Isso significa que poderão ser comercializados os grãos com esses nomes somente se tiverem sido produzidos nessa região, impedindo qualquer imitação. A lista tem também cafés do Cerrado Mineiro, do Norte Pioneiro do Paraná, da Alta Mogiana e da região de Pinhal (SP).

A equipe do Ministério da Agricultura visitou algumas fazendas de café localizadas nos municípios de Mantiqueira de Minas e Alta Mogiana para saber como os cafés especiais são produzidos e a expectativa dos produtores com o acordo.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira (Aprocam), Antonio José Junqueira Villela, a inclusão do produto entre as IGs é o reconhecimento da qualidade da produção regional. “O consumidor europeu vai saber que os cafés produzidos aqui na região seguem as leis ambientais e sociais do país. Isso dá tranquilidade para o produtor e também para o consumidor”, diz.

A indicação de procedência permite ao consumidor checar a origem do produto e é uma garantia da qualidade. “Nosso produto já se encontra em vários países da União Europeia. Este pacto irá resguardar ainda mais a marca Mantiqueira de Minas e, assim, proteger a região e todos seus produtores”.

Cafés especiais

Com o acordo Mercosul-União Europeia, os produtores esperam alavancar as vendas dos chamados cafés especiais, como o de Mantiqueira de Minas, para o mercado europeu.

De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês), em 2018, o país produziu aproximadamente 10 milhões de sacas de cafés especiais, dos quais 9 milhões foram para exportação. O restante para consumo interno.

“Quando a gente falava em cafés especiais no passado, se referia ao mercado externo. O consumidor, principalmente europeu, valorizava muito esse café [de Mantiqueira de Minas]. Devido ao aumento da procura por café especial, que tem crescido no mundo a uma taxa de 22% ao ano, a maioria das regiões produtoras de café no Brasil começou a incentivar essa produção”, diz o coffee trader Wellington Pereira.

De acordo com Pereira, o “boom” de cafés especiais ocorreu nos últimos três, quatro anos. A partir daí, cafeterias e as torrefadoras passaram a se interessar por esse nicho de mercado. Dentro desse cenário, a BSCA prevê o consumo, em 2019, de 1,2 milhão de sacas no mercado brasileiro e uma produção contínua em torno de 10 milhões de sacas.

A proposta de comercializar cafés especiais é partilhada pela empresa exportadora Carmo Coffees, localizada em Carmo de Minas. Eles já vendem para os Estados Unidos, alguns países da Ásia e da Europa, como Alemanha, Portugal, Inglaterra, Suíça e Noruega. Começaram recentemente os embarques para a China e Oriente Médio.

“O Brasil despertou para o consumo de cafés especiais, um trabalho que vem sendo desenvolvido há uns dez, 12 anos e tem muito para descobrir ainda. Hoje em dia, temos torrefadoras e cafeterias que estão se preocupando em fornecer café de alta qualidade para os consumidores”, explica Paulo Cesar Junqueira, da Carmo Coffees.

“O mercado europeu sempre foi um mercado que a gente quis atingir. Já temos alguns clientes na Europa e estamos conseguindo ampliar essa rede, aumentando o volume de venda para lá”, complementa.

Ele acrescenta que a empresa fomenta a produção de cafés especiais diretamente com o produtor. “Conseguimos um valor agregado a esse produto e, por tabela, o cafeicultor também é remunerado por essa produção”. A empresa trabalha apenas com venda de café cru para torrefadoras no exterior.

Bisneto de italianos da Toscana, Álvaro Antonio Pereira Colin, da fazenda Sítio da Torre, no município de Carmo de Minas, tem apostado no café diferenciado por causa do valor do produto. “Meu bisavô veio da Itália por volta de 1880 para iniciar um pequeno comércio na cidade. Meus pais adquiriram um pedaço de terra e acabaram sendo grandes produtores naquela época. Entretanto, por questões financeiras, a produção não estava sendo rentável. O custo era muito alto por ser uma região montanhosa. A opção foi nos voltarmos para o café especial com valor mais alto. Hoje, não só pela parte financeira, acho que é uma paixão mesmo ter o café especial”, diz Colin.

A propriedade, que tem 47 hectares, produz em torno de 1.400 sacas por ano de café das variedades bourbon amarelo e vermelho, catuaí amarelo e vermelho e acaia. Também estão sendo testadas outras variedades para começar a plantar neste ano.

“Eu acredito que esse acordo Mercosul–União Europeia é bom porque a gente vai conseguir aumentar as vendas. A procura lá fora por cafés especiais está maior, então fazemos a nossa parte para aumentar a produção. A procura tem e eu acho que esse mercado tende a crescer”, comemora Colin. “A preocupação é fazer uma colheita na hora certa, mais seletiva, colhendo os frutos mais maduros com cuidado. A opção nesse momento é pela secagem natural (via seca). Se tiver uma porcentagem maior de grãos verdes, eu opto pela via úmida, que é onde eu consigo separar o grão verde do maduro”.

A etapa da torra do grão de café também é importantíssima no processo de obtenção da qualidade da bebida. De família de quatro gerações produzindo café na região de Mantiqueira de Minas, Roney Villela é proprietário do Centro do Café, uma torrefadora em Carmo de Minas.

Alta Mogiana

Outra região que também se destaca pela produção de grãos finos e especiais é Alta Mogiana, no norte do estado de São Paulo. O café da região também terá proteção na União Europeia. A história do café na região data de 1880 e se mistura com a da Ferrovia da Mogiana (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro), que funcionou de 1872 a 1971, e com mais de 2.000 quilômetros ligava o Triângulo Mineiro ao Porto de Santos (SP), passando por todo noroeste e centro-oeste de São Paulo.

A Alta Mogiana produz café arábica e de grãos mais finos, conhecidos como café de bebida mole. Em 2013, a região foi reconhecida como Indicação Geográfica pelo Inpi, reunindo 23 municípios, sendo 15 em São Paulo e oito no estado de Minas Gerais. Atualmente, a Alta Mogiana é reconhecida como Indicação de Procedência (IP).

Produção de café em Alta Mogiana. Foto: AMSC/divulgação

Na região, estão os Minamihara, uma das mais antigas famílias de imigrantes japoneses produtoras de café nos municípios de Franca e Cristais Paulista, em São Paulo. Os cafés, orgânicos e exóticos, são produzidos por Getúlio Mitsuhiro Minamihara, e por seu filho, Anderson, em áreas sombreadas por pés de abacate.

Entre as conquistas da família, estão o reconhecimento no mercado de cafés especiais no Brasil e fora do país, assim como prêmios em diversos campeonatos.

Com o acordo comercial entre Mercosul e UE, Anderson Minamihara espera incrementar as exportações, principalmente de café torrado no Brasil. Segundo ele, um dos atuais entraves é o alto custo em torrar e embalar para o exterior, quando é mais viável vender o café verde para passar pela torrefação em uma empresa estrangeira. “Estamos com uma expectativa alta, muitos clientes querem comprar nosso café torrado, mas muitas vezes é inviabilizado, pelo imposto, pelo trabalho que é exportar um café torrado e embalado já para o exterior”, conta.

Para o gestor da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Região da Alta Mogiana, Gabriel Borges da Silva, a tendência é o produtor querer internacionalizar e exportar o produto, apesar de o brasileiro estar consumindo mais cafés especiais. “A demanda está crescendo em ritmo acelerado e a logística é mais fácil, com custo mais baixo no mercado doméstico”.

O diretor-secretário da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), Saulo de Carvalho Faleiro, resume que para conquistar o paladar europeu é preciso qualidade. “Eles querem ver o que estão bebendo primeiro. Depois vem outros fatores como a sustentabilidade. Mas se não tiver qualidade, não vai”.

Pensando nisso, desde 2016, a cooperativa mudou a estratégia para acessar o mercado externo.

“Durante os primeiros 20 anos, aqui se vendia a ideia que tínhamos que exportar o melhor café, com tons de chocolate e caramelo, característico do café da região. Depois deste período, começamos a participar de feiras internacionais e viajar um pouco pelos países da Europa e do Estados Unidos. Fomos literalmente tomar a bebida e entender o que se toma. Voltamos com o pensamento de que precisamos encontrar esses nichos e exportar o grão, colocando no mercado cafés com adequações de preços”, diz Faleiro.

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