Crescimento da construção civil deixa em segundo plano obras essenciais

PAC é apontado como o grande vilão contra projetos estaduais e municipaisDesfrutando do melhor momento da construção civil nas últimas três décadas, empreiteiras se dão ao luxo de rejeitar obras públicas. Fóruns, casas, creches, postos de saúde, presídios, praças e pavimentações de rua estão parados por falta de empresas interessadas em tirá-los do papel para que se tornem realidade.

Curiosamente, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinado a melhorar a vida dos brasileiros, é apontado por quem conhece o mercado como um dos vilões do sumiço de interessados em tocar obras para governos estaduais e municipais.

Ajudada pelo PAC, a construção civil cresceu 9,9% no primeiro semestre. E é consenso entre especialistas que o setor deverá pontear o crescimento do país em 2008. Com investimentos bilionários em áreas como energia elétrica, transportes e saneamento, o PAC, ao mesmo tempo em que alavanca empreendimentos em setores vitais, torna menos atraentes outras obras.

Um exemplo disso é a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). O governo federal vai injetar R$ 122 milhões na obra, mas ela depende da remoção de famílias amontoadas em casebres nos fundos do terminal aéreo. Para retirar os moradores é necessário acomodá-los em 1,4 mil novas casas. O governo federal vai bancar R$ 20 milhões para o deslocamento, mas nenhuma empreiteira quer construir as novas residências.
 
? O PAC e investimentos internacionais têm absorvido muita mão-de-obra e puxado para cima os preços de materiais de construção, gerando transtornos. Se vão ganhar pouco, as empreiteiras não participam das licitações ? observa Elir Domingo Girardi, presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).