Diferentes previsões de safra e dólar forte derrubam café em maio

Perspectivas climáticas para a primeira quinzena de junho são de redução dos volumes de chuvas no SudesteA multiplicidade de estimativas de safra lançadas em maio, que reforçou o clima especulativo sobre uma maior disponibilidade futura de café no mundo, e o fortalecimento do dólar resultaram em novas desvalorizações das cotações internacionais do café. A análise é do Conselho Nacional do Café (CNC).

Fonte: Daniel Medeiros/Arquivo Pessoal

Os prognósticos apresentados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) nas últimas semanas apresentaram tendências de aumento nos volumes produzidos em 2015/2016 na Indonésia, Colômbia, Índia, Guatemala, Vietnã e Peru, em comparação com a temporada anterior. Em paralelo, diversas estimativas para a safra 2015/2016 do Brasil, grande parte sem embasamento de campo, resultando em um intervalo de variação equivalente à produção colombiana, ativaram as vendas pelos investidores.

Próximo ao final do mês, esse cenário já bastante especulativo, tendendo a um clima excessivamente otimista quanto à disponibilidade de café, foi coroado pela projeção de superávit de 1,1 milhão de sacas na oferta do grão na temporada 2015/2016 pela Volcafé. No entanto, é importante ressaltar que essa projeção apresenta um volume muito pequeno, insuficiente para compensar o déficit superior a 6 milhões de sacas na oferta mundial do produto, previsto pela Organização Internacional do Café (OIC) em 2014/2015.

Mesmo assim, os fundos que operam no mercado futuro e de opções do café arábica da ICE Futures US aumentaram suas posições vendidas, que atingiram o maior volume desde dezembro de 2013, podendo caracterizar um mercado sobrevendido diante da realidade produtiva.
Isso porque, a partir do segundo semestre de 2015, o Brasil registrará significativo encolhimento de seus estoques de café, devido às últimas colheitas prejudicadas por períodos prolongados de estiagem, ao mesmo tempo em que as exportações apresentaram forte crescimento. Outro fator que gera incerteza refere-se ao clima na primavera de 2015 e no verão de 2016 na Região Sudeste, o qual afetará os próximos ciclos produtivos do país.

O meteorologista Paulo César Espinoza Etchichury, da Somar Meteorologia, em palestra na Associação Comercial de Santos, afirmou que, embora não seja esperado atraso no retorno das chuvas, as precipitações dos meses de setembro e outubro deverão ser irregulares, em cenário climático semelhante a 2014. Já o verão de 2016 deverá apresentar “cenário climático semelhante ao dos verões de 2013 e 2014, que ficaram marcados por chuvas irregulares e ondas de calor”.

Dólar e preços

O comportamento do dólar também contribuiu para a desvalorização das cotações futuras do café em maio. Refletindo as pressuposições sobre o aumento dos juros dos Estados Unidos ainda neste ano e as dificuldades econômicas do Brasil, a moeda norte-americana acumulou valorização de 5,8% ante o real, encerrando o mês a R$ 3,1873.
 
O vencimento julho do Contrato C da ICE Futures US acumulou queda de 1.130 pontos, sendo cotado a US$ 1,2615 por libra-peso no último dia do mês. A cotação média mensal, de US$ 1,3, foi 29,8% inferior à do mesmo período de 2014. Porém, quando convertidas para reais, as cotações de Nova York aproximam-se do patamar de maio do ano passado, devido ao fortalecimento do dólar no Brasil.
Os estoques certificados de arábica da bolsa nova-iorquina apresentaram redução de 106 mil sacas, encerrando o mês em 2,14 milhões de sacas. O volume estocado encontra-se em patamar 16% inferior ao observado no mesmo período do ano antecedente, de 2,55 milhões de sacas.
 
O mercado futuro da variedade robusta também encerrou o mês com significativas perdas. O vencimento julho/2015 negociado na ICE Futures Europe acumulou queda de US$ 160, sendo cotado a US$ 1.632 por tonelada no último dia do mês. A cotação média mensal, de US$ 1.708/t, foi 17,2% inferior à de maio de 2014.

Os estoques certificados de robusta monitorados pela ICE Futures Europe mantiveram a tendência de alta e atingiram 3 milhões de sacas em maio, volume aproximadamente 3,5 vezes superior ao contabilizado no mesmo período do ano passado. A arbitragem entre os terminais londrino e de Nova York apresentou tendência de estreitamento em maio, encerrando o mês em US$ 0,52, ante os US$ 0,56 registrados no final de abril.

No Brasil, os trabalhos de colheita da temporada 2015/2016 foram iniciados e algumas origens relataram problemas com o aumento da umidade, que chegou a prejudicar a secagem dos cafés nos terreiros. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou que há risco de depreciação da qualidade dos grãos de arábica, principalmente no Cerrado Mineiro, cuja produção já foi bastante afetada pelas condições climáticas adversas do ano passado.

As perspectivas climáticas para a primeira quinzena de junho são de redução dos volumes de chuvas no Sudeste do Brasil. Porém, os mapas da Climatempo mostram possibilidade de até 50 mm de precipitações sobre as regiões cafeeiras dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

O mercado físico seguiu desaquecido, já que o nível de preços se encontra aquém das expectativas dos produtores. Segundo o Cepea, a oferta efetiva dos lotes da safra corrente deve ser postergada, já que houve menor quantidade de vendas antecipadas dos grãos a serem colhidos em relação ao mesmo período do ano passado. Os indicadores da instituição para as variedades arábica e conilon foram cotados, no final de maio, a R$ 411,05/saca e a R$ 289,18/saca, com perdas de, respectivamente, 5,6% e 1,6% no mês.