Goldenberg foi o convidado especial do Simpósio Brasil França de Energia, que ocorreu esta semana em São Paulo. Ao falar da proposta que o Brasil deve levar a Conferência da ONU, o professor disse que o governo demorou e que só agora está próximo de ter uma meta clara de redução de emissões de CO2.
? O que é importante, naturalmente, e é isso que se espera é que o governo estabeleça um número firme porque senão fica no tom da retórica. Até agora o que nós temos visto são discursos de ‘que vai reduzir o desmatamento da Amazônia’ e ‘que vai acontecer isso e aquilo’. O problema é colocar isso na letra da lei.
Além das metas de redução, o governo brasileiro também estuda incluir o pagamento por serviços ambientais na pauta da COP 15. Para Goldenberg, pagar o produtor rural por não desmatar seria filantropia.
? Esse dinheiro não basta pra salvar a floresta amazônica. O que poderia funcionar e, efetivamente, evitar o desmatamento seria adoção de créditos porque aí os países que colocassem dinheiro na Amazônia poderiam usar esses créditos para justificar ao seu governo que eles estão efetivamente contribuindo pra redução. Essa posição o governo brasileiro não adotou e eu acho que o governo brasileiro está equivocado.
Uma forma de atingir essas metas é ampliar o uso de combustíveis renováveis, como o etanol. O Brasil já faz isso de forma eficiente, diferente de outros países que tem um custo alto de produção, seja em função do clima ou pela matéria-prima utilizada para produzir etanol. No caso da França, apesar da meta de 7% de participação de biocombustíveis já valer em 2010 e, para isso precisar importar etanol, o governo francês segue impondo barreiras alfandegárias ao etanol brasileiro. Impasse que, segundo especialistas, precisa ser resolvido.
? Para atingir as suas metas, a França faria muito bem em importar. Ponto final. Só que não faz isso porque, se fizer isso, quebra as empresas que produzem etanol. Esse problema vai ter que ser resolvido. Eu acho que, no final das contas, as barreiras alfandegárias vão acabar caindo, porque de fato a indústria francesa e a americana, que é pior porque utiliza milho, vão ter que se adaptar a uma nova realidade.
O Ministério de Agricultura concorda que, a médio e longo prazo, vai ser inevitável derrubar as barreiras e ampliar as exportações brasileiras de etanol. Segundo o diretor do Departamento de Cana e Agroenergia do Ministério, Alexandre Strapasson, o governo está se empenhando nessa tarefa.
? Essa abertura passa por toda uma construção junto aos governos, junto ao setor privado. Há resistências, mas essas resistências precisam ser quebradas porque, eventualmente, uma entrada de etanol brasileiro na Europa pode prejudicar pontualmente alguns produtores locais, mas em grande parte contribui para que esses países consigam reduzir as emissões.
Outro tema abordado no simpósio foi os mercados de açúcar e álcool. O representante da Açúcar Guarani, terceira maior processadora de cana e segunda maior produtora de açúcar do Brasil, Jean Claude Religieux, disse que, em função dos bons preços, todas as unidades da empresa ampliaram a produção de açúcar este ano. A destilaria de Tanabi, no interior de São Paulo, vai ganhar um fábrica para produzir até 120 mil toneladas. De acordo com ele, os preços do etanol podem ser beneficiados pela maior fabricação de açúcar.
? No caso do Brasil, o problema é o preço baixo do etanol, isso atrapalha um pouco e talvez vá causar uma pequena redução de produção de etanol pra aumentar o preço.
? O preço já recuperou um pouco e acho que, com a maior produção do açúcar, isso ajuda na recuperação do preço do etanol também. Acho que ano que vem o preço vai estar muito melhor.