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Incidência da broca dispara e preocupa setor cafeeiro

Segundo estimativa de associação, neste ano os indicadores apontam que em alguns lugares a ocorrência chegou aos 20%

Fonte: SNA/Divulgação

Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a utilização do endosulfan – defensivo utilizado para combater o Hypothenemus hampei, nome científico do inseto da broca –, em 2013, cafeicultores estão com dificuldade para conter a praga, que se espalhou pelas lavouras. 

Segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), enquanto em 2010 o índice de broca em relação à safra brasileira era de 2%, neste ano os indicadores apontam que em alguns lugares a incidência chegou aos 20%.

O gerente do Programa Brasil da Plataforma Global do Café, que atua na difusão de práticas sustentáveis na cafeicultura, Pedro Ronca, argumenta que a situação é grave no campo. “Na minha propriedade, de 12 hectares na região de Guaxupé (MG), o índice de broca está em 5%. Passou um técnico na minha propriedade que falou que algumas áreas vizinhas estão com até 20%”, reforça.

Ronca destacou que a principal barreira para o produtor hoje é a técnica necessária para aplicar os novos defensivos do mercado. “O endosulfan era muito barato e simples de ser aplicado. O novo produto demanda um conhecimento técnico maior no controle de pragas. O produtor ainda não se acostumou com isso. O ideal para conter as infestações agora é fazer uma colheita muito bem feita e não deixar grão nenhum na propriedade, mas isso é muito caro”, afirma.

De acordo com o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, existe de fato uma infestação da broca no parque cafeeiro brasileiro, com destaque para o cerrado mineiro e o sul de Minas, além do nordeste de São Paulo, na Mogiana. Após a suspensão do endosulfan, o mercado ficou três anos sem um defensivo apropriado para combater o inseto. “Somente em 2016, alguns defensivos foram liberados, mas eles ainda não tiveram sua eficiência comprovada”, explica.  

Herszkowicz explica que a broca não representa risco ao consumidor. Entretanto, a indústria está com dificuldade para conseguir o grão, na medida em que a Anvisa, em 2014, criou uma resolução (RDC 14) que limita a quantidade de matéria estranhas no café. “Essa medida veio, inclusive, em um momento que o setor não tinha uma proteção contra a broca”, conta.  

A orientação da entidade agora é que seus associados não comprem café com mais de 5% de broca, para evitar romper os limites impostos pela Anvisa. “A cadeia não só está com dificuldade de comprar o café, como isso pode levá-la e comprar as bicas corridas de exportação e comprometer nosso comércio externo”, diz. 

A questão é preocupante entre os membros da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior do mundo para o grão. “Um grande número de cooperados está com problemas”, afirma o gerente do Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz de Araújo. Segundo ele, o clima tem favorecido a propagação do inseto, mas o produtor também precisa parar de depositar a responsabilidade na ausência do defensivo e focar em medidas alternativas para conter a praga.

“Algumas pessoas defendem a volta do endosulfan, mas eu, particularmente, não concordo. Ele é muito eficiente, mas foi banido até em outros países por representar risco ao aplicador”, esclarece Araújo. Ele destacou que o produtor precisa se readequar a essa nova realidade e resgatar hábitos antigos. “Antes, o produtor não aceitava que ficasse café no chão ou na árvore”, diz. A solução da colheita mais eficiente, por mais que seja mais cara, segundo Araújo, acaba sendo vantajosa no médio prazo. “Basta olhar o prejuízo que eles estão tendo agora. E isso tende a aumentar, na medida em que o inseto vai se reproduzindo.” 

Solução

Representantes das empresas de café pediram que a Anvisa dê mais prazo aos produtores para se adaptarem às mudanças, além de demandarem alterações nos mecanismos de análise. “É preciso que a Anvisa reavalie os métodos de análise das matérias presentes no café, que não são precisos. Se você pegar a mesma amostra de café e realizar o teste duas vezes, vão dar resultados diferentes”, diz Nathan, da Abic. O setor havia defendido um prazo de adequação até 2021, mas a Anvisa, segundo ele, apenas diz que está estudando a questão. 

Enquanto isso, a Anvisa informou, por meio de nota, que atualmente já existem outros produtos registrados para o controle da broca do café. “Os produtos à base de ciantraniliprole e de metaflimizona, recomendados para a broca do café e que tiveram análise priorizada em 2016, já foram analisados e tiveram a avaliação toxicológica deferida pela Anvisa.”

A agência destacou que existem outros produtos à base de imidacloprido, clorpirifós, acetamiprido e bifentrina na fila da Anvisa aguardando análise. “No entanto, outros produtos registrados à base desses ingredientes estão ativos no mercado, logo não são inovações no controle de Hypothenemus hampei”, segundo a nota. 

A Anvisa explicou também que o registro de agrotóxicos no Brasil somente pode ser concedido a partir das avaliações dos órgãos federais responsáveis pelo setor da saúde, meio ambiente e agricultura. “A Anvisa realiza a avaliação toxicológica, o Ibama realiza a avaliação ambiental e o Ministério da Agricultura a avaliação da eficiência agronômica e concede o registro do produto.”

Reunião

Diante dos questionamentos do setor, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) convocou para esta terça-feira, dia 5, às 14h30, no prédio do Conselho em São Paulo, uma reunião para discutir, entre outros temas, os altos índices de infestações e os prejuízos ao setor. Foram convidados representantes dos produtores e indústria, além do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) e das empresas Syngenta, Basf, Dow, Bayer e Monsanto. 

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