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Café

Indígenas se tornam produtores de cafés especiais na Amazônia

Concurso Tribos recebeu 64 amostras e 61% delas obtiveram notas acima de 80 na metodologia americana, reconhecida mundialmente

Indígenas se tornam produtores de cafés especiais na Amazônia
Parceria entre poder público e privado está mudando a realidade de indígenas. Foto: Renata Silva/Embrapa

Com cafés de aromas e sabores exóticos, direto da floresta, cafeicultores indígenas de Rondônia são premiados na primeira edição do Concurso Tribos, realizado pelo Grupo 3corações. A parceria entre iniciativa privada e demais instituições governamentais neste projeto está transformando a realidade de comunidades nas terras indígenas Sete de Setembro, localizada no município de Cacoal, e Rio Branco, em Alta Floresta D’Oeste.

Foram inscritas neste concurso 64 amostras e 61% delas foram classificadas como cafés especiais, com notas acima de 80 pontos na metodologia da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA), reconhecida mundialmente. “A qualidade excepcional destes cafés demonstram o potencial dos robustas amazônicos e como o uso de tecnologias sustentáveis podem fazer com que os indígenas transformem sua realidade”, comenta o pesquisador da Embrapa Rondônia e especialista em qualidade de café, Enrique Alves.

Trata-se de uma verdadeira quebra de paradigmas. Segundo o pesquisador, muitos não acreditam na qualidade de bebida do café canéfora (conilon e robusta) e no empreendedorismo indígena, assim como em sua capacidade em praticar atividades mais elaboradas. Mas os resultados obtidos ao longo dos últimos anos têm demonstrado o contrário. “Estes povos estão utilizando tecnologias modernas de processamento dos frutos como, por exemplo, as fermentações conhecidas como ‘sprouting process’, que intensificam os atributos como doçura e acidez do café, gerando bebidas, complexas, exóticas e que poderão ser muito apreciadas mundialmente. É uma nova era para os robustas e conilons finos e Rondônia tem dado exemplo”, ressalta Alves.

A equipe de degustadores profissionais que avaliou as amostras do concurso Tribos foi composta por especialistas renomados de diversas regiões produtoras do país. Para o coordenador do grupo, os resultados da avaliação das bebidas surpreenderam e representam um marco para o reconhecimento da qualidade dos robustas amazônicos. “Identificamos grande variabilidade de sabores e cafés de características sensoriais ricas e complexas. O resultado que provamos nas xícaras vai impressionar todo o Brasil”, destaca especialista em cafés especiais e embaixador do projeto Tribos, Silvio Leite.

Os resultados obtidos neste concurso são frutos de diversos treinamentos de colheita e pós-colheita que foram realizados pela Embrapa Rondônia, em parceria com a Emater-RO, técnicos da Secretaria de Agricultura de Alta Floresta D’Oeste e Cacoal e especialistas do Grupo 3corações. “Em poucos meses, foi possível modificar o perfil sensorial dos cafés produzidos por estas etnias indígenas de forma excepcional. Nas próximas fases do projeto será dada ênfase também no manejo sustentável do café com foco na conservação do solo, mananciais e florestas e na redução do uso de agroquímicos”, explica Enrique Alves.

Campeões recebem a premiação da 3corações. Foto: Renata Silva

Conheça os campeões

O cafeicultor Yamixãrah Suruí, da Aldeia Tikã, da Terra Indígena Sete de Setembro, ficou com o 1° lugar. O café dele obteve 89,63 pontos com notas de chocolate, caramelo e frutas amarelas. Cada saca foi comprada por R$ 3 mil e ele recebeu mais R$ 25 mil de prêmio em dinheiro.

Em 2° lugar ficou o cafeicultor Valcemir Canoé, com 89,38 pontos, com notas de ameixa, uva passa, conhaque e chá preto. Ele é da Aldeia São Luiz, localizada na terra indígena Rio Branco. As sacas foram comercializadas a R$ 2 mil cada e ele recebeu mais R$ 15 mil em dinheiro.

O 3º lugar foi para o cafeicultor Erivelton Mopimoy Surui, com 88,94 pontos, com notas de tâmaras, doce de leite, guaraná e cravo. Ele é da Aldeia Joaquim, da terra indígena Sete de Setembro. O Grupo 3 Corações adquiriu este lote por mil reais por saca e ofereceu mais R$ 10 mil de premiação.

Segundo os organizadores, o nível da qualidade foi grande e o Grupo 3corações abriu uma exceção no regulamento, premiando também o 4º e o 5º melhores cafés, com R$ 5 mil cada, sendo ganhadores os cafeicultores Mehpey Suruí, com 87,06 pontos, e Joel Suruí, com 86,88 pontos, respectivamente.

O evento contou com a participação de cerca de 400 indígenas, além da presença do governador de Rondônia, Marcos Rocha, e outras autoridades.

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