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Agricultura

Mulheres ajudam Paraná a ser celeiro do café especial

Hoje, a qualidade da bebida é a protagonista da cafeicultura do estado, tendo as mulheres produtoras dando reforço a esse status

A qualidade do café do Paraná cresce pela mão das mulheres, escrevendo uma nova história nas lavouras do estado. É o que revela a trajetória de ganhadoras da 20ª edição do concurso Café Qualidade Paraná, organizado pelo Governo do Paraná, que incentiva a produção de cafés especiais.

O Paraná era o maior produtor do Brasil até a grave geada de 1975. Ao longo dos anos seguintes, a cafeicultura foi renovada, passando a ocupar menor área de plantio, mas com índices de produtividade mais expressivos. Hoje, a qualidade da bebida é a protagonista da cafeicultura do estado, e as mulheres produtoras deram reforço a esse status.

Concurso vencido por mulheres

Sirlene Soares dos Santos Souza, de Pinhalão, no Norte Pioneiro, ficou em primeiro lugar na categoria natural. Eloir Inocencia Nogueira de Souza, de Tomazina, na mesma região, venceu na categoria cereja descascado. E Maristela Fátima Silva Souza, também de Tomazina, conquistou a segunda colocação nesta categoria.

O Norte Pioneiro é referência para os cafés especiais. Dos dez primeiros colocados do concurso deste ano, oito são da região cafeeira. “Foi muita emoção. Fiquei sem acreditar até o dia seguinte”, diz Sirlene, que recebeu o prêmio na solenidade de encerramento do concurso, em Apucarana (Vale do Ivaí), no dia 24 de novembro. Foi a primeira vez que ela participou. Ela tem 12 mil pés de café. De acordo com Sirlene, o anúncio foi uma surpresa.

O ano foi especial para Sirlene porque foi o primeiro em que ela, o marido e um dos filhos trabalharam exclusivamente para produzir o chamado café especial. Até o ano passado ela dedicava quase todo o tempo trabalhando fora da propriedade, como costureira.

café
Foto: AEN

Café

Café especial é diferente do tradicional, embora sejam produzidos a partir da mesma planta. Os cuidados para obter a bebida final com mais atributos, como notas sensoriais, começa nos cuidados com o solo e segue nas demais etapas de manutenção da lavoura e, principalmente, na colheita seletiva dos grãos maduros.

A escolha dos grãos e o perfil de torra desenvolvido especificamente para o lote visam obter o melhor daquele café em relação ao clima e outras particularidades da região produtora, que são avaliados e classificados de acordo com critérios internacionais. Ele também não possui outros grãos externos, como milho, cascas e sementes, que podem encontradas no pó de café comum.

Outros exemplos

Próximas a Sirlene estão Eloir Inocencia Nogueira de Souza e  Maristela Fátima Silva Souza, envolvidas na produção de cafés especiais desde 2013 e já premiadas em edições anteriores. O concurso, segundo elas, é a porta de entrada ou primeiro degrau para o reconhecimento no mundo dos cafés especiais.

Foto: AEN

Desde o começo da década passada, Maristela e Eloir subiram rápido na carreira e chegaram à capital do Paraná, vendendo cafés em cafeterias especializadas e a diversas partes do País por meio de marca própria ou coletiva. Com o concurso, as três mulheres também aprenderam a dominar a etapa pós-fazenda: a comercialização. Os grãos que saem do distrito foram exportados para países como Holanda, Austrália e Estados Unidos, por meio de uma empresa do Norte Pioneiro.

O primeiro prêmio de Maristela foi no concurso de 2017 e as conquistas foram se repetindo até 2020. “Desde a primeira participação comecei a ser conhecida como produtora. Querem o café da Maristela. Fico muito feliz de saber que meu café esteja nas melhores cafeterias, que já são clientes fixos, e que está no gosto das pessoas”, diz.

Dessa forma, com o sucesso, ela também aumentou a renda da família e o envolvimento já ultrapassa 17 mil pés de café. “Agora tenho pouco tempo no dia porque faço toda a comercialização e até criei minha marca, vendo pelas redes sociais. Me sinto uma empreendedora”, define ela, que também é a autora no nome e do projeto gráfico da embalagem. “Escolhi a logo dourada de um casalzinho, que mostra que a mulher é parte do negócio”.

Além disso, Maristela também incluiu na propriedade o turismo, com a recepção dos visitantes para conhecer as etapas de produção do café especial, com pernoite e refeições.

Visibilidade

Por outro lado, Eloir, casada há 18 anos e com dois filhos, diz que o café especial trouxe visibilidade à mulher do campo. “Hoje tenho autonomia, consigo negociar sozinha com segurança, depois de anos de especialização”, diz. Ela soube do último resultado pela cunhada, a Maristela.

“Fiquei em choque, tremia. Sei que o meu café é bom, mas vencer um concurso é sempre maravilhoso, é a valorização de muito trabalho”, relata a outra campeã, que já conquistou boas colocações em edições anteriores: o 1º lugar em 2015 e, mais recentemente, o 3º lugar em 2021, mas na categoria natural.

Maristela e Eloir dividiram a mesma máquina de separação dos frutos neste ano. “É uma forma de a gente se ajudar. Com maquinário coletivo, promovemos toda a região”, destaca Eloir. Segundo ela, 90% das famílias de Matão têm a renda ligada direta ou indiretamente ao café.

Foto: AEN

Mulheres do café

O café das mulheres é fruto de um trabalho coletivo. As três vêm de famílias que produziam o café tratado como commodity, tendo a quantidade como objetivo final. O ponto de virada veio com o projeto Mulheres do Café, iniciativa do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), do Governo do Estado, que deu visibilidade a elas para que pudessem ser reconhecidas. Sirlene passou a fazer parte do grupo este ano. Eloir e Maristela participam desde o início.

O projeto começou em 2013 e, atualmente, abrange mais de 250 mulheres, distribuídas por 12 grupos de 11 municípios do Norte Pioneiro: Curiúva, Figueira, Ibaiti, Japira, Jaboti, Pinhalão, Tomazina, Siqueira Campos, Salto do Itararé, Joaquim Távora e Carlópolis unidas na Amucafé, também vinculada à Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), instituição de valorização ao trabalho feminino nessa cadeia.

Recentemente elas promoveram um evento próprio de avaliação. O Centro de Qualidade do Café, na sede de pesquisas do IDR-Paraná, em Londrina, foi palco da 6ª edição do Cup das Mulheres, dias 5 e 6 de dezembro. Os 22 lotes que participaram do concurso foram avaliados por uma comissão de provadores com base no protocolo da Associação de Cafés Especiais (SCA, na sigla em inglês).

Além disso, as cafeicultoras também participaram de uma oficina de degustação. O café da Sirlene foi o mais votado pelo júri popular.

“Isso é o que está caindo no gosto do mundo, cafés de qualidade”, diz o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara. “É preciso valorizar o esforço de todos para diferenciar um produto tão nobre, que já foi símbolo histórico do Paraná, que construiu o Brasil, que construiu São Paulo. Estamos nos tornando a terra do café especial, café gourmet, bebida pontuada, do café das mulheres, e isso faz muito bem”.

Norte pioneiro

Desde 2012, o Norte Pioneiro detém a certificação de Indicação Geográfica de Procedência (IGP), emitida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Além disso, a região participa com cerca de 65% na produção do estado e registra a maior proporção de café especial colhido.

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