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Se Procafé estiver certo, mercado terá que subir, diz Carvalhaes

Contratos em Nova York registraram queda de 9,41% na relação entre fevereiro e janeiroO analista de mercado Eduardo Carvalhaes destaca que "se os números divulgados pela Prócafé na semana passada estiverem certos, o mercado terá que subir". Segundo ele, um volume aproximado de 42 milhões de sacas de 60 quilos não é suficiente para o Brasil.

Fonte: Divulgação / Pixabay

Na última quinta, dia 12, o Procafé, em levantamento inédito contratado pelo Conselho Nacional do Café (CNC), projetou a safra cafeeira entre 40,30 milhões e 43,25 milhões de sacas de 60 kg. O número é inferior ao estimado pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) em seu primeiro relatório para o setor no ano, onde indicou uma produção entre 44,11 e 46,61 milhões de sacas. No exterior, a expectativa para a colheita brasileira já chegou a 49 milhões de sacas, já que o país bateu recorde de exportação em 2014 e embarcou dentro do esperado pelo mercado em janeiro e fevereiro. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em fevereiro, o Brasil exportou 2,51 milhões de sacas de 60 kg de café verde, gerando receita de US$ 493,48 milhões.

Segundo Carvalhaes, há menos café do que o Brasil precisa e a questão é quanto realmente há de estoque. Sobre os preços, ele aponta que o mercado “escorrega” desde as vésperas do Carnaval.

– Começou a chover com mais intensidade do Sudeste e o lado comprador começou a derrubar a bolsa. Com a valorização do dólar (os operadores consideram que quanto mais o dólar valoriza, mais reais há na mão do produtor), eles [operadores] tentaram ganhar a diferença, o que fez com que o mercado escorregasse até agora – define.

Em fevereiro, a média de todos os contratos na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 156,90 centavos de dólar por libra-peso, expressiva queda de 9,41% em relação a janeiro. O dólar ficou em R$ 2,82 em média, considerável avanço de 6,82% na comparação com o mês anterior.

De acordo com o analista, qualquer análise de mercado é difícil com a atual situação política e econômica do país, e o cafeicultor se mostra assustado diante do aumento de custos que o dólar impõe (com defensivos e fertilizantes, que são comprados nessa moeda), do aumento no preço do óleo diesel, da eletricidade e da inflação.

– Precisamos mostrar lá fora que o cafeicultor tem financiamento, que há política para o setor, porque os operadores derrubam [a bolsa] e não acontece nada. A dúvida é se a partir de abril o Brasil tem café para exportar na mesma quantidade – afirma.

Recuo desde fevereiro

De acordo com boletim mensal divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) nesta semana, as cotações do arábica no físico brasileiro caíram pelo segundo mês consecutivo em fevereiro. O indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6 bebida dura para melhor (SP) recuou 1,29% em relação à média de janeiro. Após oscilar muito durante todo o mês, a média foi  de R$ 459,99 a saca de 60 quilos. Segundo a entidade, a pressão veio da desvalorização no mercado internacional, após o retorno das chuvas nas principais regiões produtoras brasileiras e também da forte alta do dólar frente ao real no período. 

Essa oscilação tem mantido os vendedores retraídos e a liquidez seguiu limitada para a variedade em fevereiro. No correr do mês houve dois movimentos distintos. Na primeira quinzena, os preços praticados no Brasil foram impulsionados pelas incertezas quanto ao volume de chuvas nas regiões produtoras, que se mantinham abaixo da média. Até o dia 13, a média do Indicador Cepea/Esalq do tipo 6 bebida dura para melhor era de R$ 473,60/saca de 60 kg. Já no período de 18 a 27 de fevereiro, com o retorno mais consistente das precipitações, principalmente em Minas Gerais, a média foi para R$ 445,17, recuo de 6,38% em relação a primeira quinzena do mês. Neste período, a valorização do dólar frente ao Real também influenciou na queda das cotações domésticas do grão.

Com a moeda norte-americana em alta, os preços em na Bolsa de Nova York (ICE Futures) recuaram e, indiretamente, pressionaram os valores domésticos. Apesar disso, agentes do setor estavam mais esperançosos quanto à qualidade e volume dos grãos da temporada 2015/2016. Porém, alguns colaboradores indicavam que a pressão baixista levou as cotações a um nível abaixo do real, dada a capacidade produtiva das lavouras brasileiras para essa safra. Com as chuvas acima da média em fevereiro, parte das lavouras tendem a retomar o potencial produtivo, mas, uma parte do rendimento já está comprometida.

Segundo colaboradores do Cepea, há expectativa de que as perdas ocasionadas pela seca em janeiro, durante o enchimento de grãos, possam ser parcialmente revertidas com a melhora das condições climáticas de fevereiro, mas ainda precisam aguardar as primeiras áreas colhidas para mensurar possíveis quebras. Nesse cenário, os volumes negociados em fevereiro foram pequenos, havendo grande discrepância entre os valores ofertados pelos compradores e os pedidos pelos vendedores no decorrer do mês. 

Conillon

De acordo com oboletim do Cepea, no início de fevereiro, o impulso dos preços veio das altas temperaturas e do clima seco no Espírito Santo, principal região produtora brasileira, e também no Vietnã, maior produtor e exportador da variedade. O clima adverso coincidiu com a fase de enchimento de grãos, o que poderia comprometer o rendimento das lavouras na temporada 2015/2016.

Na região de São Mateus (ES), segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), choveu apenas 171,9 mm de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015. Para agravar, agentes consultados pelo Cepea relataram que o uso da irrigação foi limitada no estado capixaba. Com isso, no dia 13 o Indicador Cepea/Esalq do tipo 6 peneira 13 acima fechou a R$310,16/saca de 60 kg, atingindo o maior valor nominal da série histórica do Cepea, iniciada em 2001 para a variedade.

Já na última semana do mês, influenciados, principalmente, pelos recuos do arábica, as cotações começaram a cair. Agentes consultados pelo Cepea relataram que, com essas desvalorizações no final do mês, produtores capixabas se retraíram, pois também já haviam aproveitado os dias de preços melhores para se capitalizar. Além disso, as cotações externas também caíram durante o mês, com a estimativa de redução do déficit da variedade para safra brasileira 2015/16, para 1,6 milhão de sacas, segundo a Volcafé.

O Indicador Cepea/Esalq do tipo 6 peneira 13 acima teve média de R$ 299,58/saca de 60 kg em fevereiro, considerável alta de 5,75% em relação ao mês anterior. Para o tipo 7/8 bica corrida, a média foi de R$ 289,35/sc, expressivo avanço de 5,07% na mesma comparação – ambos a retirar no Espírito Santo. Já no mercado internacional, o contrato de robusta negociado na Bolsa de Londres (Euronext Liffe) com vencimento em maio fechou a US$ 1884/ tonelada em 27 de fevereiro, recuo de 3,58% na comparação com 30 de janeiro.

Quanto à comercialização, o volume negociado até fevereiro não ultrapassou os 70% no Espírito Santo, segundo levantamentos do Cepea. Isso porque produtores capixabas estavam à espera de novas altas para voltar ao mercado. Já em Rondônia, a comercialização estava bem mais avançada, perto dos 95%. Como a colheita de robusta da safra 2015/2016 no estado nortista deve se iniciar em março, o volume restante deve ter sido negociado nas últimas semanas de fevereiro, visando a formação de caixa.

*Edição de Paula Soprana

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