Em Brasília, é possível colher em média 60 sacas de café — cerca de 60 quilos cada uma — em 1 hectare. A média nacional é a metade para a mesma quantidade de terra. A produtividade do grão na capital brasileira é uma das maiores do país, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF).
Contribui para isso o tipo diferenciado de cultura local, que é totalmente irrigada, garantindo a quantidade ideal de água para a produção. O coordenador de grãos da Emater-DF, Marconi Borges, afirma que o café produzido no Cerrado também tem melhor qualidade para o consumo. “A baixa umidade da região dificulta que o grão apodreça e dá um diferencial ao café”, explica.
O grão produzido em Brasília é o arábico, que se ambienta melhor com as características climáticas do DF. O fruto tem de 10 a 15 milímetros de diâmetro e 18 milímetros de altura. A safra pode ser comercializada localmente em alguns estabelecimentos da capital, mas geralmente é vendida para Minas Gerais e São Paulo, onde é torrada e levada para a exportação.
Agricultor do DF desde 1984, Valdemar Cenci, de 59 anos, cultiva grãos como trigo, feijão, milho e soja. Há cinco anos, começou a plantar o café em fazenda no Núcleo Rural Café Sem Troco, no Paranoá. Segundo ele, a produção tem apresentado bons resultados. “Para lucrar o que eu lucro com 1 hectare de café, tenho que plantar 8 hectares de soja”, compara.
Neste ano, Cenci colheu cerca de 3,7 mil sacas em 59 hectares. “Café é bom, mas o retorno financeiro não é imediato. Tem que esperar dois anos e meio para começar a pagar pelo investimento.” Ele começou a plantar café por influência de bons resultados de outros fazendeiros na região. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café, um pé de café produz cerca de 2,5 quilos de fruto por ano. Ao secar, esses frutos equivalem a meio quilo de grãos, o mesmo que 400 gramas de café torrado. O Distrito Federal produz cerca de 400 hectares de café, aproximadamente 14 mil toneladas.
Valdemar Cenci não exporta diretamente, mas vende o produto para ser torrado em outras unidades da federação e comercializado fora do país. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 131,64 mil quilos dos grãos locais foram exportados em 2015. Isso criou uma receita de US$ 324.845 (R$ 1,017 milhão). O DF está em décimo lugar no ranking de maiores exportadores nacionais.
O relatório nacional indica que a colheita de 2016 (49 milhões de sacas) será 14,8% superior à de 2015, de 43 milhões de sacas. O resultado deve-se à valorização do preço médio da saca, à alta do dólar para exportação e a um ano atípico com produção maior do que a esperada.
No Brasil e em Brasília, as lavouras têm recebido destaque. As características de um café produzido em região onde a seca predomina garantem ao DF qualidades para o consumo. A rentabilidade também incentiva os agricultores. Os números mostram que, ao falar da safra, não há pausa para um cafezinho.