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Série Especial: represamento de água é solução para enfrentar burocracias da regularização da irrigação no Brasil

Represar água para produção de energia elétrica é muito mais aceito pela sociedade do que para a produção de alimentosA Fazenda São João em Inhaúma (MG) é uma referência para técnicos, produtores e estudantes. A cada dois anos, os donos realizam um dia de campo para divulgar os resultados. Uma realidade que só foi possível graças à irrigação ? um projeto que começou em 1994. No planejamento, primeiro a agricultura foi estruturada e, somente oito anos depois, começou a produção  de leite.

Atualmente, 1,5 mil vacas em lactação garantem 12,5 milhões de litros por ano. Para alimentar a vacada, oito pivôs irrigam 400 hectares e fazem três safras por ano de aveia, feijão e milho. Além disso, transgenia facilitou a rotação de cultura e a redução do uso de defensivos.

? Trabalhávamos numa área com desafio muito grande com relação às pragas. Há três anos chegamos a fazer 11 pulverizações por cultura e, este ano ? o primeiro ano com 80% de transgenico ?, a gente conseguiu trabalhar com uma pulverização. Isso, do ponto de vista ambiental, de segurança para os funcionários e de produtividade, é inegualável ? afirma Beto Carvalho, gerente da fazenda.

É a terceira maior produtora de leite do país. A maior dificuldade para vencer a seca, fazendo chover na hora certa, foi a burocracia para legalizar as outorgas de água.

? Quando procuramos os órgãos, notamos que a quantidade de gente para fiscalizar e monitorar é insuficiente. Nossos processos, apesar de estar religiosamente em dia, são atrasados, demorados e nos deixam às vezes irregulares por falta de consistência no trabalho ? argumenta Carvalho.

A água é um recurso que precisa ser armazenado sem desperdício. Os produtores fazem todo o monitoramento para usar somente o necessário durante a safra. As represas dão esse suporte. Uma delas, construída há 16 anos, salvou um córrego e evitou o colapso da produção de uma fazenda em Minas Gerais. Hoje não falta água para os vizinhos. A represa evitou o que acontece em outras partes da mesma área: a disputa entre produtores para garantir a irrigação.

? Hoje o que mais tem na região é conflito de água. Tivemos a iniciativa de construir uma represa para armazenar água durante o período chuvoso para ter reserva para fazer irrigação durante a seca. Fizemos a represa e é impressionante dizer que a água aumentou, ao invés de diminuir. A gente continua irrigando normalmente e a represa acabou servindo para regularizar a água tanto para irrigantes acima quanto para os irrigantes abaixo. É uma forma de garantir aumento de produção com irrigação ? explica o produtor rural Diogo Tudela.

Em outra fazenda, em Conquista, no Triângulo Mineiro, o pivô central mudou até o planejamento na produção de cana-de-açúcar. O produtor Jonadan Ma consegue colher, durante 10 anos, uma média de 130 toneladas por hectare. Se fosse no sequeiro, seriam seis anos produzindo, por hectare, 80 toneladas em média. A água usada para irrigar vem de uma barragem construída há 30 anos.

? Se deixasse por conta, talvez esse recurso já tivesse se esgotado. Hoje, com o represamento, nós conseguimos não apenas manter, como também desenvolver, enriquecer toda uma atividade ambiental e produtiva. A questão principal hoje é olhar para o futuro da nossa região, que é farta em grandes e pequenos rios, vendo que pequenos córregos, se bem trabalhados, conseguem fazer um bom trabalho para a irrigação ? diz Ma.

Represar a água para produzir energia elétrica é aceito muito mais facilmente pela sociedade do que para a produção de alimentos. Sem um trabalho técnico, falta conhecimento para mostrar que esse sistema é sustentável, e que o produtor nada mais faz do que guardar água da chuva para usar durante o período de seca, sem desperdício.

Para a Agência Nacional de Águas (ANA), é mais difícil caracterizar interesse social quando se fala em agricultura.

? Existem iniciativas atuais em discussão no Conselho Nacional de Recursos Hídricos, inclusive está para chegar uma proposta de Minas Gerais, tornando o uso das APPs (áreas de preservação permanentes) com barramentos como de interesse social. E aí, perante a lei, seria possível fazer. Então, é importante fazer, mas uma outra legislação impede que seja feita. No caso do setor elétrico, como são grandes usinas que vão gerar energia, que vai atender a população como um todo, você caracteriza melhor o interesse social, e aí, é possível inserir. Claro, com uma série de regras de redução de impactos ambientais ? fala Devanir dos Santos, gerente de Uso Sustentável de Água e Solo da ANA.

Em Cristalina (GO), o Vale do Pamplona é um exemplo de que o represamento feito com estudo técnico garante o desenvolvimento agrícola com sustentabilidade ambiental.

? Depois de contratar técnicos experientes para fazer um levantamento daquilo que era possivel fazer em irrigação (e que foi feito este sistema de barramento e armazenamento de água da chuva e utilização somente da água da chuva) é que temos a consciência de que fazendo desta maneira, é possivel irrigar muito mais sem prejudicar o rio. O rio hoje continua corendo normalmente e a irrigação no Vale do Pamplona virou exemplo. Além de virar exemplo, multiplicou por 10 a área irrigada. O que fizemos aqui é o que deve ser feito  com a irrigação onde é possivel ser realizado o represamento de água ? opina Alécio Maróstica, presidente da Comissão de Cereais da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás.

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