Setor de plástico vê ameaça em união de Braskem e Quattor

Fabricantes gaúchos se reúnem hoje para discutir possível monopólioHá inquietação entre os fabricantes de produtos de plástico com a possibilidade de fusão entre as duas maiores indústrias petroquímicas do país, Braskem e Quattor. Caso ocorra, haverá apenas um fornecedor de matéria-prima para essas empresas, que consideram a alternativa da importação insuficiente para regular o mercado.

Presidente da Vitopel, maior produtora de filmes plásticos da América Latina, José Ricardo Roriz Coelho admite que, depois da crise, consolidações dão maior solidez a companhias.

? Se houver fusão, restará um fornecedor de algumas resinas no Brasil. Se houvesse garantia de comprar ou importar com competitividade internacional, não haveria problema, mas não é o caso ? pondera Roriz.

Sérgio Mendes Ribeiro, diretor da Neoform, transformadora de plástico do Rio Grande do Sul, avalia que a fusão só será boa se abrir a importação:

? Quando compra lá fora, já se paga US$ 100 dólares adicionais por tonelada, pelo frete, e ainda há uma alíquota de importação de 14%. Ficamos inibidos de importar. Se houver um só produtor nacional, estará protegido.

Ex-presidente do sindicato que representa esses transformadores, Hugo Doorman reitera que a importação não é alternativa para os pequenos fabricantes, maioria no Estado. Além dos custos extras, a oferta de resinas é complexa. Cada tipo, chamado de grade (do inglês, pronuncia-se greid), oferece características específicas, como resistência a temperaturas extremas, máximas ou mínimas, ou a choques.

? Não é qualquer plástico que pode ir ao micro-ondas. Na empresa, uso mais de 20 grades, e é difícil acertar no importado. A gente compra alho, vem banana ? compara Doorman.

Empresários veem risco de reestatização

Também há temor de reestatização do setor, acrescenta Mendes Ribeiro. Lembrando que a Petrobras tem 40% da Quattor e 31% da Braskem, o empresário aponta risco de que a estatal volte a assumir o comando:

? Vão ficar donos do mercado. A Petrobras fornece o insumo básico e ainda é sócia das indústrias de resina. Se toda a petroquímica for reestatizada, todos vão pagar mais caro sem necessidade.

Vice-presidente de assuntos institucionais da Braskem, Marcelo Lyra admite que a “aliança” negociada pode ser profunda:

? O processo vai seguir a rotina de qualquer negociação, como será a aliança, qual a posição societária, como será governança corporativa, como a nova empresa vai se posicionar em negociações com a cadeia produtiva, se o resultado for uma fusão.

No entanto, descarta a hipótese de que o resultado seja a reestatização:

? Em termos de modelagem futura, a Braskem entende que é um projeto privado. Haverá controle privado, qualquer que seja o resultado da aliança.