? A soja amarelinha e bonitinha não existe mais. Há pelo menos quatro tipos de soja. Talvez seja o início de uma “descomoditização” desse mercado ? afirmou Paghi, no lançamento do programa Soja Livre, nesta terça, dia 9, em Brasília.
Segundo ele, os mercados europeu e asiático já deram, recentemente, demonstrações claras de que valorizam produtos não transgênicos e que cabe ao Brasil ocupar esse espaço.
? Outros grandes fornecedores mundiais, como Estados Unidos e Argentina, praticamente só plantam soja transgênica ? argumento Paghi.
Dados anunciados pelos coordenadores da campanha indicam que 35% da produção brasileira de soja na safra 2010/2011 será de soja não transgênica. Isso representa potencial de exportação de 21 milhões de toneladas de soja em grãos, até 10 milhões de toneladas de farelo convencionais e certificados ao mercado internacional, com o pagamento de valores adicionais, defendeu o diretor da Abrange.
? Poderíamos estar recebendo um valor agregado maior. E se o produtor não tiver o retorno desse investimento, perderá o interesse ? admitiu Paghi.
Em médio prazo, o presidente da Associação do Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira da Silva, avalia que o Brasil manterá uma média de 30% de produção de soja convencional, percentual considerado suficiente para atender a demanda mundial. Sem incentivos, entretanto, o índice de soja não transgênica cairia a 10% do total. Embora admita que a soja convencional seja um mercado especial ? “caminhando para um nicho de mercado”, como diz Paghi ? os organizadores do programa Soja Livre acreditam que haverá sempre um nicho de mercado para a variedade tradicional.
Os organizadores do programa Soja Livre dizem não ser contra as variedades transgênicas, nem a favor da convencional.
? A tecnologia está aí, mas a decisão tem que ser do agricultor. Há vantagens que precisam ser consideradas tanto em uma como em outra tecnologia ? afirmou Paghi.
Em relação à soja convencional, os organizadores da campanha citam fatores positivos: rentabilidade superior e agregação de valor. Em relação à soja transgênica, destacam pontos como o custo da semente (chamada de taxa tecnológica), o custo do glifosato, produtividade menor em situações específicas e o desenvolvimento de plantas daninhas resistentes. A mescla do uso das duas variedades permitiria a manutenção da competitividade, a redução da dependência (no caso de sementes transgênicas desenvolvidas por empresas estrangeiras) e a regulação do mercado.
Os objetivos do programa Soja Livre são ampliar a oferta de sementes de soja convencional e seu acesso aos produtores, desenvolver e fortalecer parcerias para a transferência de tecnologias de cultivares de soja convencionais da Embrapa e ampliar a oferta de soja convencional para a indústria produtora. Apesar das intenções, os organizadores do programa admitem que o sucesso depende de variáveis de mercado, ou seja, demanda pela soja comum com o pagamento de valores maiores pelo produto.
Segundo Paghi, dependendo do tipo de contrato, a compra de lotes de soja convencional aceita índices de contaminação por variedade transgênica entre 0,1% e 0,9% do total, no máximo.