– Foi absolutamente decisivo. Nós temos aqui o Theatro Municipal, que foi talvez o mais importante da fase áurea do café em São Paulo. Começou com a estrada de ferro de Santos, um projeto de engenharia fantástico para o café. E São Paulo se transformou em uma Metrópole. Houve um avanço brutal e repentino. Com a crise de 1929, aconteceu algo interessante. Esgotavam-se o poder do café e permitiu que os imigrantes fizessem a indústria de São Paulo, que é filha do café, resultado dos cafeicultores. O café trouxe arte, desenvolvimento, construiu São Paulo e fez com que a indústria se espalhasse pelo Brasil – aponta.
A diretora técnica do Museu do Café, Marília Bonas, explica de que forma a cidade foi crescendo ao longo da história.
– São Paulo, desde a fundação, no século XVI, era tímida, modesta, feita de barro, hábitos simples. Ainda no século XVIII chegavam cartas de Castro Alves, falando sobre o lugar ser frio e não ter festa. O café começou pelo Vale do Paraíba, depois foi se expandindo pela região de Campinas e tudo mais. Depois, com a estrada de ferro, isto com forte investimento do governo, iniciou o fluxo do interior para Santos. E São Paulo passou a ser o ponto de negociação do café no Brasil e no mundo. Enquanto Santos é a ponta que embarca, São Paulo é a negociação. O dinheiro passa por aqui – explica.
Marília acrescenta que o auge da prosperidade do segmento iniciou entre os anos de 1880 e 1920.
– Este dinheiro do café passou a oferecer para a cidade as oportunidades de se transformar e dar um salto. Então, você tem da metade do século XIX até o início do século XX uma transformação radical, principalmente nesta região do centro, para que pudesse ter edifícios à altura do que era o luxo, o dinheiro do café – diz.
A cidade, nesta época, conforme a pesquisadora, crescia em ritmo alucinante. Era preciso investir em uma obra que atendesse a demanda cultural dos cafeicultores. E foi com este objetivo que teve início a construção do Theatro Municipal. Reformado e reinaugurado em 2011, ele é um dos principais símbolos desta época. Com estilo arquitetônico inspirado na Ópera de Paris, foi palco da Semana de Arte Moderna, em 1922, marco inicial do movimento Modernista no Brasil.
Assim como o teatro, outros prédios são símbolo daquela época, como o primeiro arranha céu construído no Brasil, o edifício Martinelli. Além deles, as ruas do chamado Triângulo, considerado ponto de concentração da vida social e comercial da cidade.
– A gente pode chamar de uma arquitetura do café. Traduz influência europeia, às vezes, fora de moda, trazida para cá e relida. Padrões europeus de luxo. O Triângulo é a rua Direita, a rua São Bento e a 15 de Novembro.E ele tem marcos. O Banco do Brasil, o Theatro Municipal e os casarões traduzem um pouco esta história – relata Marília.
Hafers afirma que São Paulo constrói seu próprio futuro.
– Eu digo que quem se queixa do trânsito de São Paulo, que é horrível, não merece morar aqui. É uma cidade vibrante, fadada a substituir como centro cultural Viena, Paris, Nova York. Só vem para São Paulo quem tem confiança, esperança. Só fica em São Paulo quem tem competência – salienta.