Os mecanismos anunciados até agora, pelo governo federal, como os R$ 150 milhões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) e os R$ 200 milhões para Aquisições do Governo Federal (AGF) foram criticados pelo coordenador da Câmara, Áureo Mesquita. Ele diz que a ajuda não resolve a comercialização da safra gaúcha.
– As medidas do governo federal favorecem o Paraná, que colhe primeiro. E como os leilões são destinados ao Norte e Nordeste e exclui o Sudeste, isso vai dificultar para nos colocarmos – afirma Mesquita.
Áureo defende que a Região Sudeste seja incluída como destino nos leilões de Pepro. Outra reivindicação é que seja permitida a venda de trigo da safra passada pelo mecanismo. Pelas regras atuais, o incentivo vale apenas para a produção deste ano.
– Tem muito trigo parado. Sabemos que nos editais atuais não há nenhum tipo de apoio para essa comercialização. Os R$ 200 milhões do AGF também são só para safra nova. Queremos que o governo federal, nos editais, abra o mercado no Sudeste. Parece que a tendência é excluir o Sudeste e isso é ruim, pois é um dos maiores mercados consumidores do Brasil. Nós vamos ter muita dificuldade de comercializar essa safra, seja com apoio de Pepro ou não – analisa Mesquita.
Os cerealistas também estão preocupados com a falta de espaço nos estoques gaúchos, já que ainda há trigo da safra passada a ser comercializado. A safra que começa a ser colhida no Estado está estimada em 3 milhões de toneladas e o volume pode impactar o preço, que já esta abaixo do mínimo.
– O que faremos com todo esse trigo? Onde armazená-lo? Além disso, como comercializá-lo nos níveis de preços que estão hoje, inferiores aos custos de produção? Os estoques remanescentes da safra passada, que o número correto ninguém sabe, mas em torno de 500 mil toneladas havia de trigo de boa qualidade, nos estoques gaúchos. Essa é a preocupação dos cerealistas do Estado, que se busque ferramentas necessárias e se possa pagar um preço justo ao produtor e se tenha bons mecanismos de comercialização – explica Vicente Barbiero, secretário da Associação dos Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs).
O secretario da Acergs diz ainda que a qualidade do trigo da atual safra pode ser afetada, já que nos últimos dias choveu cerca de 300 milímetros nas regiões produtoras e os sinais de doenças fúngicas começaram a aparecer.
O assessor de Políticas Agrícolas da Federação Gaúcha dos Trabalhadores na Agricultura, Marcio Roberto Langer, diz que o cenário é desfavorável ao setor produtivo, principalmente para os produtores da agricultura familiar.
– Os produtores familiares não têm uma escala tão grande de produção e temos preços muito defasados e dificuldade na comercialização, contando que ainda temos remanescentes da safra anterior. Isso provoca pressão com as cerealistas, principalmente das cooperativas que têm esse grão armazenado. Precisamos com urgência de instrumentos de intervenção do governo federal – comenta Langer.
Acompanhe a reportagem: