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Agricultura

Campo no Brasil não ganha 5G de imediato mas terá conectividade, diz conselheiro da Anatel

Moisés Queiroz Moreira conta que a implantação do sistema no país vai permitir que produtores rurais e empresas agropecuárias se tornem mais conectados e tenham acesso a mais tecnologia

Entusiasta da tecnologia 5G, que está aportando no Brasil com a promessa de alcance e velocidades altíssimos, o conselheiro diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Moisés Queiroz Moreira, esclarece que a mais recente geração de internet móvel não estará disponível para o campo brasileiro imediatamente. Mas, segundo ele, a implantação do sistema no país, prevista para ter início em alguns meses, vai permitir que o produtor desfrute de um nível de conectividade até hoje inexistente na área rural.

No programa Canal Rural Entrevista, em depoimento ao jornalista Antônio Pétrin, Moreira lembra que, entre os compromissos firmados com as operadoras no leilão de 5G realizado em novembro do ano passado, está o de fornecer, por exemplo, a cobertura com a tecnologia 4G quase 36 mil quilômetros de rodovias federais. O que beneficiaria milhares de propriedades no entorno dessas estradas.

Moisés Queiroz Moreira é também presidente do Gaispi, sigla do grupo formado para acompanhar a implantação para problemas de interferência na faixa hoje usado por parabólicas e que passará a abrigar a rede 5G. Nesta entrevista, ele descreve como se dará a migração dos usuários para uma nova faixa, que, segundo ele, trará maior qualidade de áudio e vídeo, entre outras vantagens.

Acompanha a entrevista na íntegra:

Canal Rural – Qual a diferença da tecnologia 4G para a 5G?

Moisés Queiroz Moreira – A tecnologia 5G é uma extremamente avançada em relação à última geração, a 4G, que utilizava principalmente a faixa de 700 megahertz (MHz) . A tecnologia 5G utiliza várias outras faixas, mas a mais importante delas é a faixa de 3,5 gigahertz (GHz). Uma tecnologia disruptiva, tem alta taxa de conectividade, de velocidade de conexão, e baixíssima latência. E o que é latência? É o tempo que se leva do transmissor ao receptor. Como o 5G tem baixíssima latência, ele favorece serviços como telemedicina, cirurgias a distância, carros autônomos e também no campo, na agropecuária, grandes avanços em equipamentos, monitoramento, drones, máquinas. Enfim, uma tecnologia que veio para revolucionar a telefonia móvel do mundo.

 

CR- Dizem que ela é 20 vezes mais rápida que a 4G, seria mais ou menos isso?

Moreira – Isso, ela é. Vou te dar um exemplo, o tempo que você leva para baixar [utilizando o 5G] por exemplo, um filme de 2 horas, é o tempo que você leva [hoje] para baixar uma foto no seu celular.

 

CR – Isso faz uma grande diferença, né? Por exemplo, se você mandar um e-mail e a pessoa receber depois de 2 ou 3 segundos, não tem tanto problema, mas se você tiver esse atraso num carro autônomo, vai causar um grande acidente.

Moreira – Uma grande diferença, principalmente para a internet das coisas (IoT), que é utilizado na segurança, no transporte, na medicina, em N outras coisas. ou seja, o que os avanços que surgirão nas IoTs daqui para frente com a implantação da tecnologia do 5G são incalculáveis.

 

CR – Você é engenheiro agrônomo, conhece a realidade do campo, teve a oportunidade de conhecer na prática as dificuldades que tem o homem do campo, de que forma essa tecnologia 5G pode ajudá-lo a conseguir rentabilidade maior, mais eficiência ?

Moreira – Muito se espera da tecnologia 5G no campo. [Mas] O mais importante para o campo agora é a conectividade. Boa parte das nossas empresas agropecuárias trabalha offline, elas não têm conectividade. Existem estudos que dizem que, se nós conseguirmos prover 25% de conectividade [para o campo], nós aumentaremos o valor bruto da arrecadação dessas empresas em 6,3%. Então você imagina o quanto isso significa de avanço. No leilão brasileiro, é bom que se deixe claro, vocês do campo não terão essa tecnologia 5G, pelo menos [não] imediatamente, mas vocês terão uma grande possibilidade de aumentar a conectividade, o que importa, o que é mais importante. Porque o leilão brasileiro é um case mundial, onde ele deixou de ser um leilão arrecadatório e valorizou mais os compromissos de abrangência, ou seja, 

 

CR – Você está dizendo que as ofertas que foram feitas elas serão voltas em 90% voltadas para investimento; 10% vai para o Tesouro e 90% estão envolvidos nesse compromisso de abrangência. E onde serão usados os recursos?

Moreira – Isso significa antenas, áreas cobertas , cobertura, por exemplo. Nós temos a obrigação de cobrir com 4G quase 36 mil quilômetros de rodovias federais. Isso, para o homem do campo, é fundamental. Quantas fazendas, quantas propriedades rurais estão no entorno dessas rodovias . Um exemplo: indo para Brasília, quando você sai do estado de São Paulo , passando Uberaba e Uberlândia [em Minas Gerais], existem grandes buracos que não têm sinal nenhum. E quantas fazendas tem o entorno ali? Quantos produtores rurais estão produzindo ali? Essa cobertura vai facilitar muito a vida deles também. 

 

CR – Para deixar claro então, que essas empresas que ganharam essas licitações e que vão investir na tecnologia 5G no Brasil vão montar uma estrutura que vai também ajudar a aumentar a conectividade para o país inteiro também no 4G , é isso?

Moreira – Do 4G, do 5G, ou seja, tem obrigações de backhaul [ligações com a rede principal] , obrigações de 4g nas estradas, obrigações da própria cobertura 5G começando pelos grandes centros. mas essa tecnologia, é bom deixar claro também, que o produtor rural ele precisa de conectividade, mas ele pode usar tecnologia 5G com um serviço chamado SLP , que é serviço limitado privado. ele pode ter a rede privativa dele dentro da área rural . Existem faixas, não essas que foram leiloadas, mas especificas, que já estão sendo usadas, onde ele pode ter sensores dentro da fazenda conectando seus aparelhos, máquinas, drones, e fazer com que ligado a computador, fazer com que essa tecnologia desenvolva e muito todo o processo  toda a produtividade dele voltada a tecnologia 5G.

Com mais precisão, com mais economia, enfim, são N as aplicações que podem ser utilizadas no campo usando conectividade, tecnologia 5G. Mas a tecnologia 5G tem aplicação pública onde são as operadoras que venceram essas frequências que foram leiloadas. Aí você vai usar no seu celular, onde for. Agora, se você montar dentro da sua propriedade rural uma rede privativa, quem for lá não vai conectar com o seu celular, mas as suas máquinas, sensores, todos os seus equipamentos estarão ligados nessa rede o que facilitará muito a vida do homem do campo.

 

CR – Eu imagino que o produtor fique imaginando: “Mas quando que eu vou ter isso aqui na minha propriedade?” Pensando no Brasil como um país continental, dá para ter uma previsão de quando ele vai ter acesso a esse tipo de serviço? 

Moreira – A rede privativa, SLP, ele pode utilizar a qualquer momento, porque ele vai usar internamente. Por exemplo, na faixa de 3,5 GHz, porque existe a de 3,7 a 3,8 GHz, esses 100 MHz devem ser utilizados indoor, já na faixa de 2,4 GHz e outras que estão sendo autorizadas pela Anatel, o homem do campo já pode utilizá-las dentro da sua propriedade rural. A conectividade do campo ela já começa agora, as obrigações começam a ser cumpridas. Isso vai levar alguns anos para atingir todas essas rodovias cobertas. Um outro exemplo, dentro do próprio leilão, existe um recurso que foi destinado para conectividade na Amazônia, nós estamos construindo backbones [redes centrais de transporte de dados] dentro do leito dos rios da Amazônia. São aproximadamente 10 mil quilômetros de infovias que vão interligar toda aquela região, melhorando a segurança do nosso país,l dando novas possibilidades àquela população ribeirinha, para explorar melhor o bioma, o turismo, enfim, são coisas que o Brasil pensou longe, um trabalho que vem sendo desenvolvido há alguns anos e a Anatel priorizou fazer um leilão não arrecadatório, mas sim com compromisso de abrangência para aumentar a conectividade no nosso país.

 

CR – O leilão do 5G aconteceu em novembro de 2021 e superou as expectativas em termos de aporte financeiro. 

Moreira –  Sim, foi um case mundial o modelo do leilão, considerado senão o maior um dos maiores leilões do mundo em espectro de frequências leiloadas, foram leiloadas 4 faixas de frequência, a mais importante dela é a de 3,5 GHz, leiloamos  a faixa de 700 MHz, a de 2,3 GHz e a as milimétricas, totalizando aproximadamente 3,71 GHz. Foram R$ 46,7 bilhões arrecadados nesse leilão e fala-se em um investimento total de R$ 70 bilhões nessa implantação do 5G, sempre deixando claro que o Brasil inteiro não vai ter 5G [num primeiro momento], mas com certeza a conectividade de 4G vai ser absurda no país inteiro, inclusive a própria Amazônia terá acesso a tecnologia

 

CR – O ministro Fábio Farias, das Comunicações, depois desse leilão, disse que todas as capitais já teriam o 5G a partir de julho de 2022. Faltam 3 meses. Será possível acertar esse cronograma?

Moreira –  Essa é uma cláusula editalícia que determina que as operadoras dos lotes nacionais, que são a Tim, a Telefônica, a Vivo e a Claro, elas devem colocar uma ERB [estação radiobase] para cada 100 mil habitantes em todas as capitais e o Distrito Federal, até 30 de junho, funcionando até 31 de julho deste ano. Existem algumas dificuldades para que ela possa implantar que estão sendo executadas , essa limpeza da faixa de 3,5 GHz para que não haja interferência, por exemplo, nas TVs parabólicas, que hoje opera na banda C e passarão a operar na banda Ku. 

 

CR – Esse é um tema muito importante porque muitos produtores, até pela falta de conectividade, precisam recorrer às antenas parabólicas, para ter acesso a sinal de TV e rádio. Como vai ser essa transferência de frequência para que as parabólicas não sejam prejudicadas?

Moreira – Todas as famílias que estão inscritas no cadastro único e possuem parabólica, estimamos que hoje existam mais de 10 milhões de famílias no cadastro único, elas receberão esse kit e serão instalados gratuitamente pela IAF . o kit é uma antena, e o receptor de sinal satelital, e a posição satelital que foi escolhida pelo Gaispi [Grupo de Acompanhamento da Implantação das Soluções para os Problemas de Interferência na faixa de 3.625 a 3.700 MHz] é a posição 70 graus oeste. 

 

CR – Todos vão ter que trocar obrigatoriamente a antena?

Moreira – Aqueles que não são carentes, que não estão inscritos no cadastro único, vão ter que pagar esse kit, comprar e colocar . porque o sinal via deixar de existir nessas localidades, primeiro capitais e assim sucessivamente , o que ocorre , agora no primeiro momento , em maio , já vai começar um processo de comunicação  informando quais localidades terão que ser trocadas, porque, se vocês não trocarem, e implantarem a antena de 5G, as estações de 5G vão interferir no sinal da sua parabólica na banda C. E qual a vantagem também de migrar para a banda Ku? São antenas bem menores, de 60 cm, bem mais leves, fáceis de serem instaladas e com muito melhor sinal de áudio e vídeo. E uma quantidade maior também de programação  .

 

CR – Isso vai ser feito com muita calma, os processos não vão ser atropelados com a implantação do 5G passando por cima de quem precisa ainda trocar a parabólica. Existe também um cronograma que deve ser respeitado?

Moreira – Existe um cronograma e as empresas  aportaram recurso , as proponentes vencedoras do nossos lotes nacionais que eu falei, aportaram recursos na EAF [Entidade Administradora da Faixa] que uma é empresa privada mas operando recursos públicos, modelo que foi feito lá atrás. Eles têm prazo para ir desocupando. Só para esse serviço de migração da banda C para a Ku existem cerca de R$ 3 bilhões destinados, isso vai ser feito com concomitantemente em todas as capitais para que possa ser implantado por essas três grandes teles (TIM, Vivo e Claro) uma ERB para cada 100 mil habitantes. 

 

CR – Como o Brasil está em relação a essa questão da tecnologia 5G? Eu sei que é o primeiro país da América Latina a começar a implantar o 5G. em relação aos outros países desenvolvidos do mundo, o Brasil ainda está muito atrás?

Moreira – Não, não está muito atrás. muito se falou que nós estávamos atrasados no processo do leilão mas não, a Anatel já vem trabalhando nisso há vários anos é um leilão complexo, porque muitas faixas tiveram que ser desocupadas , você pode observar agora, para que seja implantado a gente tem que fazer desocupação da faixa de 3,5 GHz e construiu um leilão não arrecadatório que comprometido com compromissos e abrangências que via dar ao Brasil um salto num patamar muito grande em conectividade. Itália e outros países não fizeram o leilão com compromisso de abrangência e sim arrecadatório, e o Brasil como já tinha essa carência de conectividade vai dar um salto grande. O Brasil nos próximos 3 ou 4 anos vai estar num patamar igual ou melhor do que muitos desses países , pode ter certeza.

 

CR – O senhor disse que as três empresas mais conhecidas Vivo, Tim e Claro foram aquelas que adquiriram a frequência mais importante que é 3,5 GHz em 5G e vão poder trabalhar juntas nessa faixa. Eu pergunto, elas terão exclusividade em áreas específicas ou essa exclusividade não existe?

Moreira – Não, elas têm obrigações editalícias e uma delas é que elas implantem uma antena de 5G para cada 100 mil habitantes nas capitais. é importante dizer tb que a faixa mais importante do 5G de 3,5 GHz, nós tivemos três blocos nacionais onde as 3 empresas ganharam e fizemos mais 5 blocos regionais. norte, nordeste, sul, ganhou a sercomtel , copel no sul , brisanet no norte, nordeste, enfim e isso vai dar uma maior competição e isso vai ser muito importante para o país.

 

CR – Se você tiver uma ou duas ou três operadoras numa mesma região, o produtor vai ter opção de escolher uma outra, isso aumenta a competitividade. 

Moreira – Sim, e os pequenos provedores, os PPPs, sem dúvida alguma eles tem dado para o nosso país uma maior capilaridade em conectividade . Eles têm levado fibra óptica a localidades onde não tem interesse dessas grandes teles, eles tem agora com leilão eles vai colocar o 5G em cidades menores , enfim, ganha com isso é o usuário, sem dúvida alguma.

 

CR – O agronegócio é responsável por mais de 25% do PIB brasileiro. Você fez uma estimativa em relação a quanto vai aumentar em termos de produtividade com esse acesso a tecnologias mais avançadas.

Moreira – Para cada 25 % de [aumento em] conectividade, você aumenta 6,3% no valor bruto da arrecadação dessas empresas agrícolas e pecuárias. Lembrando também que de 5 milhões de empresas rurais no nosso país, aproximadamente 3, 64 milhões dessas empresas trabalham offline, elas não têm conectividade,.

 

CR – Hoje qual é o mapa da não conectividade em relação à internet?

Moreira – Você sabe que o nosso Brasil tem dimensões continentais, mas o Brasil hoje é muito bem servido de fibra enfim. nos leilões anteriores não tinha esse compromisso de abrangência. então ficaram lacunas, buracos, você pode ver que às vezes você sai de uma grande cidade  pega uma estrada já começa a falhar o sinal. A cobertura é muito melhor nos estados do Sul e do Sudeste. Mas quando você vai para o Norte e Nordeste , o Centro-Oeste, já tem grandes lacunas que agora nós esperamos que sejam cobertas com essas obrigações editalícias.

 

CR – Quando tudo isso que a gente conversou vai se tornar realidade, na prática, e em quanto tempo?

Moreira – Eu tenho uma origem rural porque fui criado no interior , minha formação é engenheiro agrônomo e trabalhei muito tempo com pecuária leiteira. eu sempre costumo dizer ao produtor rural ao homem do campo que ele deve evoluir, que ele deve procurar tecnologias, se ele não tem esse conhecimento ele deve procurar um técnico que possa aportar esse conhecimento na propriedade rural dele, que possa desenvolver isso com ela e hoje, com essas tecnologias que estão surgindo, quem não se tecnificar ficarão para trás, e isso vai aumentar e muito a produtividade e a sem essa tecnologia ele vai perder recursos e vai perder mercado. 

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