A esperada retomada do crescimento da economia nacional para 2019 pode resultar em aumento de renda das famílias, cenário que tende a aquecer as vendas de carros e, consequentemente, a elevar a demanda por combustíveis. A projeção, feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), diz que o etanol deve continuar a ter uma participação expressiva nas vendas de combustíveis no Brasil.
Do lado da oferta, para a safra 2019/2020 do Centro-Sul, analistas projetam moagem de cana-de-açúcar próxima do verificado no ciclo anterior, em andamento. Por outro lado, a alocação da cana para açúcar e etanol deve ser reajustada.
Usinas, incentivadas pelas sinalizações de aumento nos preços do açúcar – projeções indicam redução dos estoques e, até mesmo, déficit global do produto –, devem aumentar o percentual de cana destinado à produção do adoçante e reduzir o de etanol. Mesmo com esse ajuste do mix, a safra ainda deve ser bastante alcooleira, com estimativas mostrando que aproximadamente 60% da cana será direcionada à produção do biocombustível.
A redução da oferta de etanol de cana, por sua vez, deverá ser compensada somente em parte pela maior disponibilidade do etanol de milho. Os desdobramentos decorrentes da conjuntura esperada podem alterar também a proporção de cana destinada à produção de etanol hidratado e anidro, aumentando a proporção desse último.
Investimentos
Quando se trata da retomada dos investimentos no setor sucroenergético, as atenções devem se voltar à evolução da implementação do RenovaBio. Nesse sentido, o setor espera avanços na implementação do programa em 2019.
Mesmo nesse ambiente de incertezas devido à mudança de governo, espera-se que prevaleçam políticas que possam dar suporte ao aumento da produção de etanol no médio prazo. Como o RenovaBio não requer subsídio e renúncia fiscal, supõe-se que o programa seja aderente às propostas do novo governo.
Preços
Em termos de combustíveis fósseis, o prognóstico é de elevação de preços, que caíram de forma expressiva nos últimos meses de 2018, devido ao aumento da oferta, ficando só maiores que os observados em 2014. Isso motivou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e os países aliados, liderados pela Rússia, chamados de “Opep+”, em reunião realizada no início de dezembro, a decidirem reduzir a produção de petróleo em 1,2 milhão de barris diários por um período de seis meses a partir de 1º de janeiro, sendo prevista uma revisão dessa decisão em abril de 2019.
Caso se sustente o prognóstico de aumento de demanda de combustíveis, de que não haverá grandes alterações na moagem e na quantidade total de ATR no ano safra 2019/2020 frente ao anterior e de que haja elevação da proporção de cana destinada à produção de açúcar, o preço de etanol hidratado pode subir.
Assim, consequentemente, a margem de competitividade desse biocombustível frente à gasolina pode cair relativamente a 2018/2019, dependendo dos patamares de preços externos dos combustíveis fósseis (e das políticas de repasses).
No entanto, como as decisões da “Opep+” de corte de produção serão reavaliadas em abril de 2019, podendo também outros fatores interferirem na definição da oferta mundial de fósseis, o ambiente em relação ao patamar de preços de etanol no mercado brasileiro e da margem de competitividade do etanol hidratado permanece incerto.