Apesar da crise econômica brasileira, o setor sucroenergético conseguiu tomar fôlego em 2016. Os baixos estoques de açúcar no mercado internacional elevaram o preço pago ao produtor, que se animou até a voltar a investir em tecnologia.
O ano começou com boas notícias para o setor. Após cinco anos de queda na produtividade e baixa remuneração, a atividade acompanhou de janeiro a outubro uma alta de 50% no preço do açúcar. O produto atingiu o maior valor em sete anos na Bolsa de Nova York.
De acordo com o diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, o último pico de preço ocorreu no final de 2009, por questões climáticas. “Na época, os preços bateram 35 centavos por libra-peso, porém o câmbio é muito maior”, compara. Além das cotações históricas, é preciso considerar ainda o efeito da inlfação, lembra.
Rodrigues afirma que, nos últimos anos, o investimento na conservação e renovação dos canaviais foi muito tímido, em razão da crise e de preços controlados da gasolina, entre outros fatores. Isso reduziu a expectativa de aumento da produção de cana. “Houve uma queda de produtividade em torno de 15% a 20% no Brasil”, diz.
E os preços mais altos interferiram também no mix das usinas brasileiras, que, neste ano, utilizaram quase 48% da cana disponível no mercado para a produção de açúcar.
Se em 2016 o setor voltou a acreditar na recuperação da crise, 2017 se aproxima com a esperança de alta produtividade e retomada de investimentos. Na região de Piracicaba (SP), uma das cinco maiores produtoras de cana de açúcar, a aposta é de que 15% dos canaviais estejam sendo renovados para a próxima safra.
Perspectiva é de preços melhores nos próximos dois anos
É o caso do produtor de cana Odair Novello, que não investia há pelo menos três anos. Com a boa remuneração atual, ele decidiu recorrer a financiamentos para renovar 1/5 dos sete mil hectares plantados. Um investimento que vai passar de R$ 6 milhões.
“A perspectiva é de preços melhores nos próximos dois anos. Como estávamos com o canavial muito velho, vamos aproveitar o arranque para renová-los. Se você não tiver matéria-prima, não adianta ter preço. Tem que investir e tentar recuperar na frente”, diz Novello.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2016/2017 de cana deve crescer mais de 4% na comparação com o ciclo passado. A produção de açúcar pode ultrapassar 39 milhões de toneladas, um crescimento de quase 19%. Para o etanol, a expectativa é produzir mais de 27 bilhões de litros, recuo de 8,5%. A tendência é de uma temporada mais rentável para o açúcar.
“Do lado do mercado de açúcar, nós vamos ter algum tempo de preços favoráveis. Isso colabora para a recuperação financeira do setor, que ainda tem um estresse financeiro e, portanto, recuperação da capacidade de investimento. Depende um pouco de como é que vai andar o resto da economia e a gente está confiante de que este ano vai ser um pouco melhor do que foram os anos de crise”, acredita a presidente executiva da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina.
As usinas também encerram 2016 mais confiantes. Depois de quedas consecutivas no rendimento, muitas empresas estão intensificando a divulgação de novas tecnologias, que prometem alavancar a produtividade em pouco tempo. O presidente do conselho de administração da Unica, Pedro Mizutani, acredita em recuperação nos próximos dois anos.
“Eu acredito que 2016 seja um ano de equilíbrio, quando podemos começar a retomar um pouco o pagamento de dívidas passadas. Acreditamos que 2017, 2018 ainda vai ser bom, o tempo suficiente para as empresas se recuperarem, reconstruírem e investirem um pouco mais em tecnologia. Precisamos dar competitividade ao nosso setor”, afirma Mizutani.
Para o etanol, 2017 também deve ser promissor. O envolvimento do governo em acordos ambientais animou a cadeia. A expectativa é que o plano Renova Bio, lançado em dezembro, crie um ciclo com maior utilização da capacidade brasileira na produção de biocombustíveis.
“Em 2030 queremos que a matriz energética do etanol seja de 40%, 50% ou 55%, como política de governo, política de Estado, isso vai permitir que a iniciativa privada e que o mercado se ajuste”, afirma o presidente da Raízen, Luis Henrique Guimarães. Ele afirma que, com isso, será possível fazer a fixação de mercados futuros de etanol e tomar riscos.