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'Cenário favorável para o açúcar brasileiro não deve se prolongar muito'

Por enquanto, as más condições da safra da Tailândia, a incerteza quanto ao subsídio da Índia, embarques expressivos para a China e a ação dos fundos sustentam os preços

colher mexendo açúcar
Foto: Pixabay/divulgação

Os preços remuneradores do açúcar para as usinas brasileiras podem não se manter por muito tempo, segundo o diretor geral da LMC International, Martin Todd. Durante o Webinar Canaplan, realizado no fim da tarde desta terça-feira, 27, ele citou como fatores de sustentação dos preços as más condições da safra da Tailândia, a incerteza quanto ao subsídio da Índia, embarques expressivos para a China e a ação dos fundos. “Usinas brasileiras devem continuar a tirar vantagem das condições atuais, porque as margens oferecidas são muito atrativas e melhores do que muita gente esperava”, disse.

Segundo Todd, envios do adoçante à China têm crescido porque o governo chinês quer aumentar seus estoques estratégicos em 1 milhão de toneladas e porque muitos exportadores brasileiros esperam conseguir licenças para vender ao país sem o pagamento de tarifas. Ele acredita, porém, que o governo do país asiático não deve conceder um número expressivo de licenças de importação, já que estabelece preços altos para a cana (aproximadamente US$ 70 a US$ 75 na principal região de cultivo), e é necessário que o preço do açúcar fique alto para compensar a compra da cana local por usinas. “Se o governo deixar muito açúcar entrar, o preço doméstico cai”, afirmou.

Por enquanto, o adoçante enviado à China sem licença fica no porto, e a estimativa da LMC é de que, até o fim do ano, pelo menos 1,5 milhão de toneladas do açúcar esteja nos portos sem poder entrar no país. Com esse montante expressivo, os embarques para lá devem diminuir ao longo do tempo, e os altos estoques devem pressionar preços globais.

Em relação à Índia, a expectativa do analista é de que o país anuncie exportações volumosas para esta safra global, já que, sem o subsídio, usinas terão pouco incentivo para exportar. “Eles terão uma safra volumosa, devem produzir bem mais do que consomem, e o estoque deve ficar alto”, afirmou.

As exportações indianas do açúcar só compensam caso haja subsídio, porque, assim como na China, o governo coloca preço alto na cana – aproximadamente US$ 45/tonelada – e o preço interno do adoçante fica acima das cotações globais. “Acreditamos que o governo deve providenciar subsídios novamente em 2020/21, mas não sabemos o tamanho do subsídio ou quanto açúcar poderá ser embarcado”, disse.

O anúncio, porém, não deve vir antes do meio de novembro, quando o país terá eleições. Todd ressaltou ainda que, caso o anúncio demore muito, exportações para o primeiro trimestre de 2021 ficam comprometidas, já que o país praticamente só produz açúcar bruto para exportação e quando já tem um contrato firmado para o envio ao exterior.

Todd acrescentou que quebras de safra na Tailândia e na Europa também influenciam os preços, mas espera que esses países consigam recuperar a produção.