Clima ajuda, mas renovação de cana abaixo do ideal impede maior produtividade

Quebra no rendimento só será compensada no atual período pelas chuvas favoráveis às plantações

Fonte: Embrapa/divulgação

A retomada no crescimento do setor sucroenergético após quase uma década de crise deve ser prejudicada pela baixa renovação dos canaviais e o consequente impacto na produtividade das lavouras, segundo a Datagro. Prática necessária para melhorar a oferta de cana, a renovação média de 18% na área com a cultura deve ficar abaixo desse nível para 2016/2017, e a quebra no rendimento só será compensada no atual período pelas chuvas favoráveis às plantações.

De acordo com Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, a taxa de renovação em 2015 ficou entre 11% e 12%, abaixo dos 18%, nível considerado adequado para se evitar o envelhecimento das plantações. Consequentemente, a produtividade por hectare no próximo ciclo, cujo início oficial é em abril, deve girar em torno de 83 toneladas, em linhas com o registrado em 2015/2016. “A menor renovação será compensada pelo desenvolvimento das plantas, mas a produtividade vai ser próxima da do ano passado”, resumiu Nastari ao Broadcast Agro, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

Para o diretor Técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, “vai haver mesmo canavial mais velho, sem dúvida alguma, mas a condição climática foi altamente favorável” para o ciclo 2016/17. De acordo com o executivo, que calcula renovação de 14% no ano passado, a reforma das plantações tende a voltar para um “nível normal” neste ano. “A tendência é aumentar, impactando na safra 2017/18”, avaliou, referindo-se à temporada que se inicia somente em abril do ano que vem.

Em 2015, a renovação dos canaviais foi prejudicada tanto pela crise que ainda aflige a cadeia produtiva de açúcar e etanol quanto pelas condições para acesso ao Prorenova, linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltada ao plantio de cana. Os recursos foram alocados apenas em setembro passado e com taxas de juros mais altas, o que desestimulou a demanda. Segundo a própria instituição, o desembolso no ano passado para essa área foi de R$ 893 milhões, 52% a menos na comparação com 2014.

A Raízen Energia, joint venture entre Shell e Cosan, por exemplo, renovou apenas 11% de seus canaviais em 2015, abaixo dos 20% em anos anteriores. No longo prazo, a maior companhia sucroenergética do País, com 23 unidades em operação, pretende aumentar a taxa para 15%.

Já o Grupo Batatais, com duas usinas no interior de São Paulo, conseguirá ampliar em 12% a área de corte de cana na unidade de Lins, para 31,77 mil hectares em 2016/2017, exclusivamente por conta da redução da reforma nos canaviais, que obrigaria o plantio de outra cultura, como amendoim ou soja. Segundo o presidente da companhia, Bernardo Biagi, a queda na renovação dos canaviais ocorreu principalmente por contenção de gastos e ainda porque houve uma expansão na área de cana na unidade para suprir a nova usina, inaugurada há três anos. “Nós gastamos entre R$ 80 milhões e 90 milhões por ano com renovação e este ano o investimento será menor”, disse.

Perspectivas

Consultorias apontam para um processamento maior de cana pelo Centro-Sul do Brasil na safra 2016/17. Por ora, as projeções giram em torno de 620 milhões de toneladas, superando as pouco mais de 600 milhões apuradas na atual temporada. Com preços mais remuneradores, a produção de açúcar pode alcançar até 34 milhões de toneladas (+6%). Já a fabricação de etanol deve se manter perto dos 28 bilhões de litros do ciclo vigente.