A venda de etanol no Centro-Sul do Brasil caiu 22% nos primeiros quinze dias de maio na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), foram 1,05 bilhão de litros contra 1,35 bilhão de litros em 2019. Deste total, foram destinados 33,94 milhões de litros para o mercado externo e 1,02 bilhão de litros para o interno.
No mercado interno, as vendas de etanol hidratado alcançaram 729,23 milhões de litros na primeira metade de maio, com redução de 24% sobre o montante apurado no mesmo período da última safra. A quantidade comercializada de etanol anidro, por sua vez, registrou queda de 23,82%, atingindo 292,57 milhões de litros.
Para o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, a retração nas vendas de etanol hidratado só não foi maior devido a elevada competitividade do biocombustível no mercado nacional.
Um levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostrou que na última semana, apenas 17 municípios da amostra apurada nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás apresentaram paridade de preço com a gasolina acima de 70%. Os valores indicam que, em média, o preço relativo do etanol hidratado em relação à gasolina alcançou 62,6% no Mato Grosso, 63,4% em São Paulo, 65,9% em Minas Gerais e 66,5% em Goiás.
Acumulado da safra
Desde o início da safra 2020/2021 até 16 de maio, as vendas de etanol pelas empresas do Centro-Sul acumularam retração de 26,28%, somando 2,85 bilhões de litros. Desse total, 110,71 milhões de litros foram destinados à exportação e 2,74 bilhões ao mercado interno.
No mercado interno, chama atenção o crescimento acumulado nas vendas de etanol para fins não carburantes. O volume para outras finalidades atingiu 174,49 milhões de litros até 16 de maio deste ano, registrando crescimento de 87,17% na comparação com a quantidade vendida em igual período da última safra.
“O aumento reitera a importância da preservação das atividades desta indústria diante da maior demanda por álcool para desinfecção e assepsia”, explica Rodrigues. Apesar do crescimento, o volume de produto para uso não carburante representou apenas 6% da comercialização das usinas, não permitindo, portanto, qualquer compensação na queda das vendas de etanol combustível, acrescenta.
Moagem
A quantidade de cana-de-açúcar processada pelas unidades produtoras da região Centro-Sul totalizou 42,46 milhões de toneladas na primeira metade de maio, aumento de 8,76% sobre o valor apurado na mesma quinzena da safra 2019/2020.
Superando o avanço da colheita, a produção de açúcar aumentou 55,80% na primeira metade de maio deste ano e atingiu 2,50 milhões de toneladas, contra 1,61 milhão de toneladas verificadas em idêntica quinzena do ano anterior. O volume fabricado de etanol, por sua vez, alcançou 1,82 bilhão de litros na quinzena, sendo 503,95 milhões de litros de etanol anidro e 1,32 bilhão de litros de etanol hidratado.
No acumulado desde o início do ciclo 2020/2021 até 16 de maio, a moagem atingiu 103,02 milhões de toneladas – crescimento de 21,67% no comparativo com a safra 2019/2020.
Produção de açúcar
Nesse período, 45,31% da cana-de-açúcar foi destinada à produção de açúcar, ante 32,19% registrados na mesma data de 2019. Com isso, a produção acumulada de açúcar alcançou 5,49 milhões até 16 de maio desta safra, contra 2,98 milhões de toneladas verificadas na mesma data do ciclo 2019/2020.
Rodrigues ressalta que o incremento de 2,5 milhões de toneladas na produção de açúcar observada até o momento. “Reflete a tendência de uma safra açucareira devido a pior remuneração do biocombustível em relação ao adoçante e ao avanço da colheita em função das condições climáticas favoráveis.” Essa produção também retrata a maior procura pelo açúcar brasileiro no início desta safra, concluiu o executivo.
Produção de etanol
A fabricação acumulada de etanol desde o início da safra 2020/2021 até 16 de maio totalizou 4,40 bilhões de litros, sendo 1,12 bilhão de litros de etanol anidro e 3,28 bilhões de litros de etanol hidratado. Esses valores incorporam a fabricação do renovável a partir do milho.
A produção de milho na temporada 2020/2021 acumula alta de 92,42% ante o mesmo período do ciclo 2019/2020, atingindo 293,39 milhões de litros até 16 de maio (86,77 milhões de litros de etanol anidro e 206,62 milhões de litros de hidratado).
Usinas em operação
Em relação ao número de usinas em operação, 21 unidades iniciaram a safra na primeira quinzena de maio de 2020. Com isso, nesse ano 235 empresas registraram produção até dia 16 de maio, versus 240 unidades industriais em igual data do último ano. Na segunda quinzena de maio, 10 unidades devem iniciar a produção e outras 12 começarão a operar no início de junho.
Do total de unidades em operação, 40 fabricam exclusivamente etanol, sendo quatro dedicadas à produção do biocombustível a partir do milho. Essas unidades que não produzem açúcar foram responsáveis por 15% da moagem e 32% da produção de etanol.
“O aumento da produção e a retração nas vendas de etanol têm prejudicado de forma mais intensa as empresas que só fabricam o biocombustível”, explica Rodrigues.
Armazenagem
Dados apurados até 16 de maio deste ano mostram que as unidades anexas conseguiram armazenar mais de 90% da produção registrada até o momento. Já destilarias autônomas só conseguiram estocar cerca de 50% da produção do biocombustível, pois não possuem uma alternativa de receita para o pagamento dos custos de produção.
“A situação está difícil e as unidades que dependem apenas do etanol são obrigadas a vender o produto a qualquer preço para continuar produzindo e mantendo os empregos. A disponibilidade de recursos financeiros para a armazenagem de etanol seria fundamental para equacionar o problema. Já estamos com praticamente dois meses de safra e ainda não temos nenhuma definição sobre uma eventual linha de financiamento para os estoques de etanol”, acrescentou Rodrigues.