Em relatório divulgado nesta terça, dia 28, a agência de classificação de risco diz que os preços do açúcar recuaram 30% na União Europeia (UE) e 20% nos demais mercados globais no ano passado, o que afeta a rentabilidade e o crédito de produtores europeus e brasileiros, principalmente.
– Os principais fatores que afetam a qualidade de crédito no setor são as fortes quedas nas receitas dos produtores, a queda nos volumes de produção no Brasil e a incapacidade das empresas de ajustarem com eficiência suas bases de custo operacional e diminuir seu elevado nível de investimentos – explica a S&P.
– No Brasil, esses investimentos foram parcialmente financiados por meio de dívida, muitas vezes resultando em estruturas de capital altamente alavancadas – acrescenta a agência.
Ainda de acordo com a S&P, a rentabilidade do etanol até tem apresentado melhora no Brasil, graças ao aumento dos preços e dos impostos na gasolina. Tais fatores, contudo, não devem mitigar “totalmente o efeito negativo da queda nos preços do açúcar na rentabilidade dos produtores locais, uma vez que a inflação continua pressionando seus custos operacionais, enquanto a seca enfraqueceu sua eficiência operacional”.
Já a desvalorização do real ante o dólar (de aproximadamente 30% em um ano) chegou a elevar os volumes de açúcar vendido por produtores brasileiros, mas pesou negativamente nas métricas de crédito das usinas ao acarretar em aumento da dívida denominada em dólar.
Como resultado, a S&P vem realizando ações negativas para os ratings de empresas do setor, como as brasileiras USJ Açúcar e Usina Caeté, em novembro do ano passado. As perspectivas de Tereos e Suedzucker ficaram negativas em dezembro de 2014 e janeiro de 2015, respectivamente.
– Não esperamos melhora significativa na rentabilidade, geração de fluxo de caixa e métricas de crédito nos próximos 12 meses para as empresas do setor que avaliamos. Os preços baixos do açúcar e investimentos ainda elevados afetam os produtores, enquanto no Brasil os maiores riscos de refinanciamento e custos de financiamentos mais caros representam riscos de curto prazo para as empresa – diz.
Especificamente para a Europa, que produz 10% do açúcar global, vendido basicamente na própria região, a S&P diz que a rentabilidade dos produtores é afetada pelos amplos estoques, pela perspectiva de uma demanda menor e por mudanças estruturais na indústria, “notadamente” o fim das cotas da UE em 30 de setembro de 2017.
– O fim das cotas na UE terá impacto significativo na dinâmica de mercado dos produtores de açúcar, eliminando restrições nos volumes de produção e exportações, bem como no preço mínimo pago aos produtores de beterraba sacarina, enquanto as importações continuarão sendo reguladas – diz a agência.
Sem as cotas, haverá maior competição no bloco, o que tende a pressionar os preços da commodity, explica a S&P.