Só que as consequências da quebra de safra no Brasil, com possibilidades de levar o mundo para o primeiro déficit em quatro temporadas, devem impulsionar as cotações, especialmente no último trimestre. O vice-presidente da Newedge, Michael McDougall, prevê uma cotação em torno de 18 centavos e 20 centavos de dólar por libra-peso neste período.
McDougall ressaltou que esse prognóstico “dependerá do câmbio” no Brasil, lembrando que o país é o maior produtor mundial e que o dólar fortalecido estimula exportações. Em 2014, a moeda acumulou ganhos de quase 13%.
Em relação à perspectiva de déficit, os analistas dizem que o fundamento tem força para impulsionar os preços, mas eles descartam eventual rali, como pode ocorrer no caso de uma forte desvalorização do dólar.
– A reação será lenta (com esse déficit) – disse Pedro Verges, da INTL FCStone, apontando os estoques “consideráveis” do produto como fator de limitação.
No ciclo mundial 2013/2014, encerrado em 30 de setembro, a relação entre estoques e consumo estava em 45%, o que significa dizer que 45% da demanda global, estimada em 180 milhões de toneladas, poderia ser atendida somente pelas reservas de açúcar. Em 2014/2015, essa relação deve se manter praticamente estável, em 46%, mas depois tende a cair para 41%, em 2015/2016, e chegar a 21% até 2018/2019, segundo projeções da Biosev, braço sucroenergético da Louis Dreyfus Commodities (LDC).
– Toda vez que a relação se aproxima de 30% ocorre uma melhora de preço – explicou o diretor-presidente da companhia, Rui Chammas, ao avaliar as perspectivas para o mercado de açúcar em 2015.
Brasil
Ainda sentindo os efeitos da pior estiagem em décadas, as usinas do Centro-Sul do país devem moer, na melhor das hipóteses, igual volume de cana na temporada que se inicia em abril, de acordo com estimativa da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). O processamento deve variar dos 567 milhões previstos para a safra vigente a 541,4 milhões de toneladas (-4,5%).
Segundo o diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, o cenário negativo para a cultura por mais um ano ocorrerá pela queda de 12,3% no plantio de cana, incluindo renovação de lavouras, o que acarreta em envelhecimento dos canaviais e perdas na produtividade.
O país será, portanto, o responsável pelo “déficit adicional” esperado para o ano, diz Verges, da INTL FCStone. Por enquanto, as consultorias especializadas apostam que tal déficit varie de 1 milhão a até 3,5 milhões de toneladas em 2014/2015.