Em 1973, o mundo passou pela primeira crise do petróleo, o preço do barril subiu em níveis altíssimos, gerando enormes prejuízos na economia de todo o mundo. O Brasil também sofreu as consequências desta crise, que impediu a continuidade do seu desenvolvimento econômico depois de cinco anos muito promissores.
Entre 1968 e 1973, o país viveu um momento muito positivo na economia, o chamado Milagre Econômico, que colocou o Brasil entre as economias mais desenvolvidas do planeta.
Receoso com o momento, o governo brasileiro resolveu lançar o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool. Criado pelos engenheiros Lamartine Navarro Júnior e Cícero Junqueira Franco e pelo empresário Maurílio Biagi, o programa contava com os projetos do físico José Walter Bautista Vidal e do engenheiro Urbano Ernesto Stumpf que desenvolveram o motor a álcool.
O objetivo era substituir gradativamente a frota de carros movida por combustíveis fósseis por motores que funcionavam com um combustível renovável. Uma tecnologia brasileira e pioneira que tornou o país menos dependente da gasolina importada e reduziu em dez milhões o número de carros movidos a gasolina que circulavam pelas ruas e estradas do Brasil.
No final dos anos 70, a produção alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhões de litros e o Proálcool foi fundamental para que a nova crise mundial do petróleo tivesse um impacto menor no Brasil.
Já na metade da década de 80, época em que o preço do petróleo baixava e o do açúcar subia, o Programa começou a ruir, pois o álcool combustível passou a ser menos vantajoso economicamente para o consumidor e para o produtor. Por conta disso, o combustível renovável começou a faltar regularmente nos postos e até as montadoras de automóveis, passaram a desacreditar no projeto.
O ressurgimento do álcool combustível, o etanol, aconteceu com o desenvolvimento da tecnologia flex, ou seja, carros aptos a rodar tanto com etanol quanto com gasolina, e com a mistura em qualquer proporção dos dois combustíveis.
Em 2003 foi lançado o primeiro veículo bicombustível no Brasil. Hoje, a frota do país ultrapassa 34 milhões de veículos, dos quais mais de 22 milhões são flex. Graças a utilização do etanol hidratado (utilizado diretamente no tanque dos veículos) e do etanol anidro (adicionado a gasolina), mais de 230 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa foram evitadas.
O diretor Técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Antonio de Padua Rodrigues, ressalta os números do consumo de etanol em substituição a gasolina no Brasil.
– Desde o início do Proálcool até hoje, o etanol substitui cerca de 2,3 bilhões de barris de gasolina, o equivalente a mais de 470 bilhões de litros de etanol – afirma Padua.
Entre 2004 e 2010, as companhias do setor sucroenergético fizeram grandes investimentos, mais de 100 novas plantas industriais foram construídas e o número de unidades produtoras em operação superou 400 empresas.
Apesar de tudo isso, o setor vive atualmente a pior crise de sua história. A perda de competitividade do etanol promoveu uma reversão no ciclo virtuoso de investimento e crescimento da indústria. Entre 2008 e 2013, mais de 70 usinas já fecharam as portas somente na região Centro-Sul e outras 12 unidades devem encerrar suas atividades em 2014.
A reversão do cenário atual somente será alcançada a partir de uma política de longo prazo consistente, com a valorização de uma matriz energética diversificada e que reconheça as contribuições ambientais do etanol e da bioeletricidade. A palavra-chave é previsibilidade.