Após atraso de dois meses, a aprovação da linha de R$ 2 bilhões para estocagem de etanol foi comemorada pelo setor sucroenergético, que acredita, entretanto, em demanda menor pelos recursos.
– É melhor vir agora do que não vir. Antes tarde do que nunca. Mas, de fato, já penalizou uma boa parte do que foi comercializado – disse o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), Celso Junqueira Franco.
O dinheiro para armazenagem de álcool foi aprovado na segunda, dia 1, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para que os bancos interessados operem a linha. O programa foi anunciado em junho, dentro do Plano Safra 2015/2016, e a cadeia produtiva esperava poder contar com o financiamento já no mês seguinte.
Entretanto, sem os recursos de armazenagem, muitas usinas acabaram por vender o etanol, derrubando os preços do combustível e reduzindo a oferta disponível para a entressafra, que começa em dezembro.
Pelas características da linha, o limite de financiamento será de R$ 500 milhões, com contratação mínima de R$ 10 milhões. Os juros do financiamento serão compostos da seguinte maneira: 25% serão baseados em TJLP e 75% em referenciais de mercado, acrescidos de 1,775% ao ano, que serão destinados ao BNDES e à remuneração da instituição financeira repassadora. Os valores de referência do anidro e do hidratado são de R$ 1,50 e R$ 1,35, respectivamente, por litro.
– Estão às ordens (do que o setor esperava) – afirmou Franco. Esses valores são utilizados de base para que o etanol estocado sirva como garantia do financiamento.
Atualmente, o anidro, que é misturado na proporção de 27% à gasolina, tem cotação de R$ 1,21 por litro, enquanto o hidratado, utilizado diretamente no tanque dos veículos, vale R$ 1,17 por litro. Os preços são calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), referem-se à semana passada, não têm impostos e consideram o produto retirado nas usinas de São Paulo, principal mercado do país.
Prorenova
Se a aprovação dos recursos para estocagem de etanol foi comemorada, o mesmo não se pode dizer do dinheiro destinado à renovação de canaviais (Prorenova), que ainda não tem data para ser liberado.
– O plantio não para, e sem o Prorenova haverá uma perda de produtividade, e a receita não será a ideal – comentou o presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), Miguel Rubens Tranin.
– Essa demora atrapalha. Metade da área (da safra 2015/2016) já foi colhida, e o plantio está rolando. Desse modo, já estamos com canavial defasado em produtividade – complementa Franco, da Udop.
Neste ano, o Prorenova terá oferta de R$ 1,5 bilhão (-50%), com os juros elevados para TJLP mais 2,7% ao ano. Assim como a estocagem de etanol, a expectativa era de que o programa fosse aprovado em julho. O BNDES informou, por meio da assessoria de imprensa, que o Prorenova “ainda está em estudo pelo banco”.
Lançada em 2012, esta linha de financiamento contribuiu para reduzir a idade média dos canaviais brasileiros de 3,9 para 3,2 anos até o ano passado, segundo cálculos do próprio BNDES. Em 2014, contudo, a renovação para a atual temporada, iniciada em abril, ficou em 14%, abaixo dos 18%, patamar considerado ideal para evitar o envelhecimento das plantas.