A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) teme que a Índia anuncie novos subsídios à exportação para viabilizar o escoamento das 10 milhões de toneladas excedentes produzidas no país. Caso aconteça, o setor brasileiro está pronto para trabalhar junto ao governo um pedido de abertura de painel na Organização Mundial do Comércio (OMC), considerando a situação extremamente delicada que o mercado desta cultura enfrenta com queda de 40% nos preços só este ano.
O diretor executivo da entidade, Eduardo Leão, declara que o movimento é uma ferramenta que o Brasil tem para proteger as boas práticas comerciais. “Usaremos, se for necessário. Essa postura também está alinhada com a Aliança Global de Açúcar (GSA), associação que congrega entidades de países produtores, responsáveis por mais de 80% das exportações mundiais de produtos derivados da cana, como Austrália, Canadá, Tailândia e Guatemala”, afirma.
Segundo dados da Associação das Usinas de Açúcar da Índia (ISMA), a produção da safra 2017/2018, que termina neste mês de setembro, será de 32,3 milhões de toneladas. A previsão para a temporada seguinte é de 35,5 milhões de toneladas. Com um consumo interno estimado em 26 milhões de toneladas, isso deve implicar em níveis recordes de estoques.
Para reduzir custos de produção e parte das perdas pela exportação, o país asiático tornou compulsório às usinas exportarem pelo menos duas milhões de toneladas do produto até dezembro de 2018 e garantiu preços da cana-de-açúcar no mercado doméstico na safra 2017/2018, considerados, inclusive, os mais altos em comparação aos praticados em outros países produtores.
Diante desse cenário, o mercado tem especulado fortemente sobre eventual e iminente concessão de subsídios às exportações, visto que, historicamente, o mecanismo tem sido aplicado pelo governo indiano nos anos em que o país apresenta excedentes de açúcar, coincidindo com baixos preços no mercado internacional.
Segundo Leão, a Índia é o segundo maior produtor mundial da cultura e a volatilidade frequente de sua produção traz fortes instabilidades ao mercado global. “Temos discutido com o setor privado e governo daquele país formas de cooperação para o fortalecimento do seu programa de etanol a partir da cana-de-açúcar, o que ajudaria a amenizar essa insegurança de forma mais estrutural e definitiva”, diz.
O diretor executivo da Unica exemplifica a solução usando o caso do Brasil, que vai reduzir a produção de açúcar em pelo menos oito milhões de toneladas, privilegiando o biocombustível. “Essa movimento, que deve se repetir na próxima safra, permitirá um ajuste de oferta e demanda mundial. Não há, portanto, justificativa para qualquer subsídio adicional por parte do governo indiano”, avalia Leão. “Mas, caso venha, não hesitaremos em bater novamente às portas da OMC questionando essa prática ilegal”, conclui.