Na BM&FBovespa, contratos para os meses seguintes operam em níveis superiores aos do mesmo período do ano passado. Os preços de janeiro poderiam levar produtores a manter a área cultivada na segunda safra que, a depender do clima, e gerando oferta não muito distante da obtida em 2014, poderia inclusive pressionar as cotações. As vendas externas, portanto, continuarão ditando o cenário.
O milho 1ª safra teve redução de área, preterido em favor principalmente da soja. Os preços vigentes no período de decisão da temporada de verão não eram atrativos para o milho, devido à oferta recorde em 2013/2014 e ao menor ritmo de exportação. Além disso, as chuvas escassas no Sudeste e em parte do Centro-Oeste também afetaram a decisão de cultivo no verão.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área da primeira safra de milho 2014/2015 deve ser de 6,18 milhões de hectares, redução de 6,6% em relação ao ano anterior. A produtividade média nacional foi estimada em 4.736 kg/ha pela Conab, queda de 1% na mesma comparação. Com isso, a oferta nacional do verão deve ser de 29,3 milhões de toneladas, 7,5% inferior à de 2013/2014. Se os dados se confirmarem, seria a menor produção na primeira safra em 15 anos.
No primeiro semestre de 2015, ainda conforme a Conab, deve haver disponibilidade de 44,7 milhões de toneladas, que representa 81,3% de todo o consumo interno de 2015, estimado em 55 milhões de toneladas, um recorde.
Assim, novamente, recaem sobre a 2ª safra os principais fatores de impacto sobre os preços ao longo da temporada 2014/2015. Com base na relação receita/custos, dados iniciais apontavam para uma menor área cultivada e também para menor uso de tecnologias, comparativamente a 2013/2014. Paralelamente, o clima também pode pesar sobre as estimativas.
Considerando-se a mesma área cultivada na segunda safra de 2013/2014 (estimada pela Conab), mas com produtividade média nacional 2,4% maior, a oferta da segunda safra poderia chegar a 49,4 milhões de toneladas. Somados estoques iniciais, oferta da primeira temporada e um pouco de importação, a disponibilidade anual de milho chegaria a 94,45 milhões de toneladas. Ao se descontar o consumo interno, o excedente chegaria ao recorde de 39,45 milhões de toneladas.
Mesmo que se subtraiam exportações de cerca de 20 milhões de toneladas, no final de janeiro de 2016, haveria ainda estoques na casa de 20 milhões de toneladas. Reservas nestes níveis não permitiriam recuperações expressivas de preços em 2015. Somente algum fator que colabore para exportação muito acima da esperada poderia mudar o cenário de preços. Porém, agentes não esperam que isso aconteça no curto prazo.
No mercado internacional, a concorrência por compradores é acirrada. Os estoques mundiais também estão crescentes, tanto nos principais países exportadores como nos maiores consumidores, fazendo com que a relação estoque final/consumo volte aos maiores níveis desde a safra 2002/2003 – o maior em 12 anos. Com isso, as transações mundiais devem cair, reduzindo as oportunidades de vendas.
Baixas
No mês de janeiro, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa, referente à região de Campinas (SP) – valores a prazos são descontados pela taxa CDI –, recuou 7%, fechando a R$ 26,78/saca de 60 kg no dia 30. Quando os valores a prazo, da mesma amostra, são descontados pela taxa NPR, a média foi de R$ 26,28, caindo também 7% no mês. Na média das praças acompanhadas pelo Cepea, houve queda de 5,8% no mercado de balcão (ao produtor) e de 5,1% no de lotes (negociação entre empresas) ao longo do mês.
A CME Group (Bolsa de Chicago) também teve forte recuo. No acumulado de janeiro, o primeiro contrato de milho se desvalorizou 6,8%, fechando a US$ 370,00/bushel (US$149,01/t), enquanto o segundo vencimento caiu 6,7%, a US$ 378,50/bushel (US$ 151,96/t) no dia 30.
Mato Grosso do Sul
O terceiro maior produtor de milho do país terá um aumento de 6,4% em sua produção para a safra 2015. Na projeção para 2015, Mato Grosso do Sul mantém a área plantada de 1,67 milhão de hectares, mas aumenta a produção do grão que deixa a casa dos 7,8 milhões e passa para 8,3 milhões de toneladas, com uma média de 82 sacas de milho por hectare. Os dados são do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga) do Estado, ferramenta da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS).
Na sequência histórica, o milho segunda safra foi a cultura agrícola que mais avançou no Estado. Há cinco anos ocupava 930 mil hectares de área plantada e a produção registrava 3,3 milhões de toneladas. Se comparado à estimativa para a próxima safra, o incremento é de 145% na produção. Entre as cultivares de verão, o destaque fica com a soja que em cinco anos avançou 22%, passando de 5,3 mil toneladas para 6,8 mil toneladas, comparando com a estimativa da safra 2014/2015 que começa a ser colhida.
O clima desfavorável nos meses de outubro e novembro, período de semeadura da soja, achatou o intervalo do ciclo de desenvolvimento do milho, que normalmente acontece de janeiro a maio. Mesmo diante do cenário atípico, ainda não é possível falar de prejuízos.
– A decisão do produtor terá forte influência nos números finais. Alguns optam por plantar fora do zoneamento, fator que determina o aumento ou a manutenção de área e incremento na produção – explica o analista de grãos da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) Leonardo Carlotto.
Em Mato Grosso do Sul, os produtores também plantam milho primeira safra, apesar desta prática ser decrescente. De acordo com a Conab, em 2013/2014 o Estado registrou 225 mil toneladas do grão plantado em primeira safra e a expectativa para a próxima é de 160 mil toneladas.
O cultivo do milho primeira safra coincide com o período de cultivo da soja, cultura que predomina no verão. Depois de colhida a soja, o produtor sul-matogrossense planta o milho segunda safra, cultura de inverno que tornou-se a principal safra do grão no Estado.
– Por conta da rentabilidade, os produtores têm convertido a primeira safra de milho em soja e em alguns casos, pelo algodão – destaca Carlotto.