Para entidade, o Brasil deve ter concorrência maior na venda de derivados da oleaginosa, já que os argentinos devem se recuperar e produzir grande safra
Com o início da colheita da soja, muito produtores também começam a pensar nas negociações do grão. Os primeiros dias de janeiro mostraram fortes desvalorizações no mercado interno, puxados pela perspectiva de uma colheita grande no Brasil e da safra recorde dos Estados Unidos. Para os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o ano será complicado e as margens apertadas.
Antes de mais nada a entidade engrossa o coro de que o Brasil não irá colher uma safra recorde, devidos aos problemas climáticos. Para os pesquisadores, nem mesmo o crescimento de 1,8% na área será insuficiente para compensar a queda na produtividade. A Companhia Nacional de Abastecimento prevê uma safra de 118,8 milhões de toneladas.
“O clima seco em dezembro antecipou o ciclo das lavouras implantadas em setembro, prejudicando o potencial produtivo de muitos estados brasileiros. Paraná e Mato Grosso devem antecipar a colheita para períodos nunca vistos anteriormente”, afirma o Cepea.
Oferta mundial
A oferta de soja em grão é prevista em 369,2 milhões de toneladas na safra 2018/2019, incremento de 8,7% sobre a temporada passada, segundo levantamento do USDA. Pouco mais de 156 milhões de toneladas de soja em grão devem ser negociadas mundialmente, 1,9% a mais que na temporada 2017/2018.
Apesar de seguir como o principal importador, a China deve reduzir a demanda por soja em 4,4%, para 90 milhões de toneladas, devido ao enfraquecimento na procura interna, especialmente por parte de suinocultores. A União Europeia é o segundo principal importador de soja em grão, com 15,8 milhões de toneladas (+8,3%), seguida pelo México (+3,2%), Egito (+2,9%), Japão (+1,4%) e Tailândia (+26,9%).
“Neste ano, as exportações brasileiras de derivados de soja devem ter maior concorrência com a Argentina, já que devem colher 55,5 milhões de toneladas de soja, 46,8% a mais que na temporada passada. Além disso, os Estados Unidos colheram 125,17 milhões de toneladas, volume recorde”, diz o Cepea.
Custos de produção
Em relação aos custos de produção, o Cepea afirma que o aumento nesta temporada foi resultado da valorização do dólar frente ao real, do custo de transporte no Brasil e da maior demanda. “Nossos cálculos indicam aumento de 8% nos custos da safra 2018/2019 frente à anterior em Guarapuava (PR) e Passo Fundo (RS); de 9% em Cascavel (PR); de 11% em Rio Verde (GO); de 7% em Balsas (MA) e de 5% em Sorriso (MT).
Como ficam os preços?
Para a entidade, essa maior oferta global, aliada a menor busca do produto pelos chineses, deve pesar sobre os preços da oleaginosa e limitar as altas. “A disputa comercial entre os Estados Unidos e a China também seguirá no foco do setor neste início de 2019. Além do clima, produtores estão atentos à possibilidade de menor preço na época de colheita, tendo em vista os aumentos dos custos observados nesta temporada”, comenta.
O Cepea destaca que o lado bom para os vendedores brasileiros é que, em meados de 2018, muitos produtores já negociaram parte da safra 2018/2019. Segundo o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), 41,33% da safra de Mato Grosso já foi vendida. No Paraná, a Seab indica que 20% da produção do estado foi comercializada.
A receita também dependerá do dólar, uma vez que os preços de soja nos Estados Unidos estão inferiores aos do Brasil. O contrato com vencimento em março/19 na B3 foi negociado a US$ 22,11/sc de 60 kg no dia 3 de janeiro, expressivos 10% acima do verificado na Bolsa de Chicago (CBOT) na mesma data, de US$ 20,12/saca de 60 kg.
Contudo, é importante sinalizar que os valores na Bolsa apontam elevações para os próximos dois anos, depois de terem registrado perdas expressivas em 2018. Já para o Brasil, ao se considerar os valores FOB (Free on Board) porto de Paranaguá (PR), os contratos a termo de fevereiro a julho de 2019 apontam relativa estabilidade.
Exportações
A paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá indica preços de R$ 79,18 por saca a R$ 82,35 por saca, quando considerado o dólar futuro negociado na B3 no dia 3 de janeiro. No mesmo período de 2018, a paridade de exportação indicava valor abaixo de R$ 80,00 por saca de 60 kg para o primeiro trimestre de 2018, cenário que se concretizou naquele período. Ressalta-se que, de janeiro a março de 2018, o dólar não passou de R$ 3,30, sendo que, para 2019, a moeda norte-americana é negociada atualmente entre R$ 3,76 e R$ 3,80 na B3 para os contratos de janeiro a dezembro.