A agenda do agricultor Paulo Henrique Santana é cheia. Pela manhã, ajuda o pai nos 14 hectares de hortaliças e frutas. Após vai para o curso na área de tecnologia. À tarde, a aula é agrícola. No fim do dia é técnico de informática à distância. Aos 19 anos, o seu plano de vida está traçado.
? Pretendo ficar aqui até quando eu puder. Ficar dentro da área rural e trabalhar pra mim é excelente. A gente vê por ai muito desemprego. Por quê? O campo hoje está sendo tecnológico. Você vê trator com computador a bordo, com GPS, com tudo isso e quem não têm os cursos de informática, de tecnologia vai ficando pra trás ? conta.
As oportunidades, ele diz, são mérito próprio. A ajuda do governo poderia vir de outra forma.
Para o jovem que vive na zona rural, muitas vezes as dificuldades estão do lado de fora da propriedade. A maioria dos acessos é de chão batido e o transporte público muitas vezes não atende a demanda. Por isso, para conciliar trabalho e estudo só mesmo com veiculo próprio.
? Se você quer fazer um curso tu não pode porque os horários do transporte rural não batem. Os ônibus são péssimos, saúde também é péssima, falta médico, falta tudo.
A 70 quilômetros da propriedade de Paulo, mora Mariana de Jesus. Residindo com os pais e oito irmãos, também sente falta da infra-estrutura para construir os sonhos.
? O transporte é ruim porque passa três vezes ao dia, e não tem hora certa, então pra quem trabalha na cidade não tem hora certa pra chegar. Então não tem nem como conseguir alguma coisa desse jeito ? relata.
Na plantação a Mariana ajuda a família principalmente na colheita. Ela conta que já sofreu preconceito por ser mulher, mas se inspirou na historia de vida da própria mãe para superar os desafios.
? Muitos falam assim: você é mulher e não vai dar conta de fazer esse serviço. Hoje em dia as pessoas estão vendo que a mulher esta tomando a frente. Aqui em casa mesmo a minha mãe toma a frente das coisas, a minha mãe é o braço forte, ela é a parte que não deixa cair, não deixa desanimar ? ressalta.
Mariana e Paulo são colegas no curso da Emater que forma jovens líderes no campo. Nos encontros mensais eles debatem alternativas para os problemas da sua região.
? Nenhuma instituição vai resgatar laços familiares, laços comunitários, resgatar aços culturais, culturas de uma região. São os próprios moradores, os próprios jovens as próprias famílias desses locais é quem podem fazer isso. A gente está tentando dar uma ajudinha ? explica Maria Bezerra, Extensionista Rural Emater.
Educação para estimular as mudanças, é o que defende a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura, que já qualificou 30 mil jovens rurais com o ensino a distância.
? Com acesso a informação nós inclusive temos a oportunidade de buscar mais políticas para poder viver nesse espaço com qualidade de vida, pra nós e para nossas famílias e principalmente para se organizar enquanto jovens para transformar a nossa realidade, o nosso local, e transformar esse país ? conta Elenice Anastácio, Secretária de Jovens da Contag.
Nos últimos anos, os programas públicos de acesso ao crédito ajudaram a manter 26 mil jovens agricultores no campo. Ainda é pouco. Até o governo federal reconhece: faltam políticas com foco na zona rural.
? O desenvolvimento do meio rural brasileiro, o enfrentamento de um processo de êxodo rural, ele passa por um processo de investimento para criar no campo brasileiro aquelas condições que qualquer cidadão procura, deseja ter quando vive na cidade. Isso envolve o acesso a todos os serviços sociais, aos serviços básicos, a cultura, ao lazer, a segurança pública, a saúde, a educação ? reforça Ademar Almeida, Secretário de Reordenamento Agrário do MDA.