Certificação é essencial na cadeia produtiva de orgânicos e de não-transgênicos

Primeira certificadora internacional de soja não-transgênica é uma pequena empresa sediada em Porto AlegreO cultivo de produtos agrícolas orgânicos e de não-transgênicos se desenvolve no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste, como um pequeno nicho produtivo capaz de alcançar preços mais elevados em mercados exigentes como o europeu e o japonês. Insumos, tecnologias, conhecimento e respeito às normas nacionais e internacionais caracterizam o negócio diferenciado dessa cadeia produtiva, responsável por pequena parte da alimentação humana e animal no país.

O número de consumidores desses produtos não pára de crescer em todo o mundo. Essa cadeia faz parte da chamada nova economia, que objetiva não apenas lucros, mas também está comprometida com a sustentabilidade, ou seja, com a harmonização entre equilíbrio ambiental, eficiência econômica equidade social.

Novos elos desse ramo do agronegócio foram implantados no País na última década. Entre eles, a chegada das certificadoras internacionais de produtos orgânicos e de não-transgênicos é um dos fatos mais relevantes desse período. A produção de soja convencional ou não-transgênica é a maior de todas e a mais consolidada no Brasil, e a exigência de sua certificação se intensifica.

As certificadoras estão sediadas nas regiões Sul e Centro-Oeste na condição de micro e pequenas empresas que prestam o serviço essencial de reconhecimento e atestado da condição diferenciada dos produtos agrícolas cultivados segundo determinados critérios socioambientais e sem utilizar agrotóxicos ou sementes geneticamente modificadas. O modelo de negócio dessas certificadoras está focado, em especial, na demanda e atendimento do resistente e exigente consumidor europeu.

Pequena e transnacional

? Somos pequenos, mas somos uma transnacional ? resume Augusto Freire, diretor da Cert-ID no Brasil, certificadora integrante da holding Global ID do setor de alimentação e rações, sediada em Porto Alegre (RS).

? Atuamos desde 1999 na área de orgânicos e fomos os primeiros a certificar não-transgênicos no país ? informa.

No início, Augusto conta que ele e as pessoas envolvidas na montagem da representação da Cert-ID no Brasil pensaram em criar uma organização não-governamental.

? Somos comprometidos com a causa ambientalista e nosso objetivo era estabelecer bases sólidas para a prática e disseminação da agricultura sustentável no País. Logo vimos que não poderíamos comercializar como ong, então a alternativa foi criar uma pequena empresa.

Atualmente, a equipe da Cert-ID é composta por dez funcionários e conta com um grupo de quarenta auditores, que prestam serviços.

? A necessidade da certificação começou mesmo quando as sementes da soja transgênica começaram a chegar clandestinamente da Argentina ao Rio Grande do Sul. O mercado europeu não gostou ? conta Augusto.

? Os países europeus são os maiores compradores de soja convencional brasileira e trabalham com o princípio da precaução, ou seja, aguardam a comprovação científica de que a soja transgênica não faz mal à saúde humana e animal.

Testes de laboratório apontam a presença de soja transgênica na plantação e na safra colhida. Com um percentual entre 0,1% e 0,9% de transgenia na soja, já é exigida rotulagem específica de advertência pelos europeus. Acima de 0,9% o produto tem de ser rotulado como transgênico.

? Se for transgênica, a tolerância é zero por parte deles. Tem de ser retirada do mercado.

Outro produto que deve ser certificado para entrar no mercado europeu é a proteína de soja, muito utilizada pela indústria de salsichas, presuntos e embutidos em geral. O mesmo ocorre com farelo e lecitina de soja, insumos importantes da indústria de sorvetes, chocolates, biscoitos, cosméticos etc.

? No início, fizemos um trabalho extenso junto aos exportadores e esmagadores de soja. Eles não sabiam do grande risco de contaminação que poderia haver se misturassem soja convencional com transgênica e do prejuízo que poderiam causar aos produtores. Também tivemos de fazer muitas ações no varejo sobre a soja brasileira ? conta Augusto.

A produção de soja não-transgênica está concentrada nos estados do Paraná, Goiás e Mato Grosso, informa o diretor da Cert-ID.

A confirmação da qualidade e origem da soja é obtida por meio do teste gênico PCR de amostras das plantações. Desde 2005, a Cert-ID realiza o Programa Pró-Terra, que também envolve a questão da responsabilidade socioambiental.

? Para essa certificação, vamos pessoalmente às propriedades para realizar as auditorias ? revela.

O público-alvo é formado por pequenos produtores e agricultores familiares.

Aproximadamente 3,5 mil produtores de soja convencional de todos os portes foram certificados pela Cert-ID, de acordo com Augusto. Catorze empresas ligadas a produção de lecitina de soja, óleo de soja, proteína e farelo do grão convencional também foram certificadas. Os custos da certificação da soja convencional fica entre R$ 500 e R$ 1.500, dependendo do tamanho da propriedade. A validade do certificado é de dois anos.

É possível participar de processo de certificação em grupo. Se o grupo for composto por 20 a 30 produtores, o custo total, incluindo consultorias e certificação, fica em cerca de R$ 1.500/cada. Para grupo com 80 produtores, deve ficar entre R$ 500 a R$ 700/cada.

? Se for pequena produção familiar, pode sair mais barato, pois é possível contar com apoio da indústria esmagadora e do governo federal ? informa o diretor da certificadora.