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Rural Notícias

Cervejas especiais: produção de lúpulo pode ser opção rentável

A crescente demanda pela bebida está atraindo agricultores do país a encarar o desafio de produzir o ingrediente por aqui. Atualmente 99% ainda é importado

Plantação de Lúpulo. Foto: Pablo Valler

Que o consumo de cervejas diferenciadas é crescente no Brasil, ninguém duvida, comprovado por vários estudos, inclusive. Atentos a isso, produtores estão apostando na produção de um dos principais ingredientes da bebida e, mais complicados de cultivar no Brasil: o lúpulo. Embora o Brasil não tenha as condições adequadas de clima e solo para esta cultura, uma lavoura no interior de São Paulo está provando que é possível e rentável.

Aquela velha tática de usar um comercial de cerveja com garota-propaganda bonitona já não atrai tantos adeptos. O consumidor brasileiro tem buscado aroma, textura e sabor em sua bebida, afirma o empresário Luis Fernando Amaro. “A tendência é beber menos, mas melhor. Apreciar a cerveja, beber comendo alguma coisa que combine”, diz.

As linhas premium e artesanal impulsionam o mercado há mais ou menos 5 anos. Foi quando o Flávio Augusto da Silva conseguiu o primeiro emprego como garçom, em um pub especializado. Para aproveitar algumas oportunidades, fez dois cursos de curta duração e hoje é o sommelier da cervejaria.

“Teve uma mudança significativa. Principalmente no número de cervejarias. Dizem que a cada 2 dias abre uma nova”, conta.

Dados comprovam isso

A informação repassada por Silva está correta. Em um ano o número de cervejarias cresceu 23%, segundo dados do Ministério da Agricultura. São 889 fábricas, 17 mil produtos registrados e 13 bilhões de litros por ano. Para entender este crescimento, em dez anos, o número de cervejarias artesanais passou de 70 para 700, confirmou a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva).

Foto: Pablo Valler/Canal Rural

A pesquisa realizada pela entidade mostrou que um dos principais motivos para o aumento do consumo é justamente o sabor diferenciado destas bebidas, não descartando além disso, a influência da cultura e a moda. O estudo ainda afirma que 12% das pessoas entrevistadas consomem cerveja artesanal com frequência e 53% já tomaram algumas vezes. O perfil predominante é de homens que têm entre 25 e 40 anos.

O que pode atrapalhar?

Só que o Brasil não é um grande produtor de lúpulo, uma das principais matérias-primas destas bebidas diferenciadas. “Grande parte dos insumos ainda é importado. Isso é ruim, pois as vezes dependemos de algo que está em falta. Já existe uma produção nacional, mas não o suficiente para atender este mercado crescente”, diz Silva.

O malte, por exemplo, 70% vem de fora. O mesmo acontece com o  lúpulo, no qual 99% é importado. “O Brasil poderia investir mais na produção de malte, pois existe demanda. O lúpulo é um desafio ainda maior, porque precisa ser cultivado em lugares muito específicos”, afirma Amaro.

Produção em São Paulo

Muito específico mesmo, garantem os especialistas. Só que existe quem tente produzir. Há mais de 1.500 metros de altura, no município de São Bento do Sapucaí, em São Paulo, Rodrigo Veraldi está conseguindo bons resultados.

Ele ficou curioso em produzir lúpulo, testou várias sementes desde 2005 e em 2011 teve uma surpresa. “Fui olhar a nossa área de descarte e lá estava uma planta enorme, ocupando toda a vegetação já”, relembra Veraldi.

Em 2015 plantou 900 mudas de uma planta resistente, genuinamente brasileira, em uma área de quase um hectare. Dois anos depois teve a primeira safra. Depois da colheita é preciso cortar os cipós perto da raiz, já que as trepadeiras crescem rápido.

“Um pé vigoroso, com galhada forte, denso de folhas. Só que essa característica não é padrão e com o tempo Veraldi foi percebendo que é melhor manter assim, bem podada, com uma haste só, pois assim, com menos folhas, as flores recebem mais luz”, conta.

E luz é tudo que esse lúpulo precisa. Nada de defensivos químicos, pragas ou doenças. Essa safra está bem consistente e deve render 500 quilos de flores. E aí vem outro desafio, a colheita.

Existem máquinas sendo importadas dos Estados Unidos e existe uma empresa do Paraná que desenvolveu uma máquina colhedora que promete revolucionar o trabalho, pois substitui mil pessoas na colheita, diz o sommelier Flávio Augusto da Silva.

Mesmo com essa tecnologia em falta, a nova variedade de lúpulo já é produzida por 15 pessoas no Brasil. Até mesmo em Goiás, que não tem aquelas ‘condições muito específicas’ citadas na reportagem. Com o avanço da produção a expectativa das indústrias pode mudar. “Nos próximos 10 anos podemos atender 10% do mercado de lúpulo”, prevê Rodrigo Veraldi.

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