Alguns enfrentam até problemas para pagar as contas, como o produtor de soja Marcelo Grunwald, 47 anos. Grunwald colheu apenas entre quatro e oito sacas por hectare, quando o habitual era ultrapassar 40 sacas. Parte do cultivo, em 200 hectares, foi feita com recursos próprios. O restante foi garantido com financiamento.
– Tenho uma plantadeira financiada, insumos, como sementes, fungicidas e herbicidas para pagar. Só os adubos haviam sido pagos. Se somar tudo, é uma dívida em torno de R$ 80 mil – calcula.
Produtores como Grunwald renegociam dívidas e reduzem gastos no comércio e nos serviços em suas cidades. Um estudo da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS) apontou os ramos mais sensíveis à seca: os ligados a itens não essenciais, como joalherias e lojas de eletrodomésticos, e os diretamente ligados à atividade, como concessionárias de veículos.
Em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) vai acionar o programa que permite a filhos de agricultores conveniados a cooperativas pagarem estudos com produtos como soja, milho, leite e frango – desde que matriculados nos cursos de Agronomia, Engenharia Agrícola e Engenharia de Alimentos. Iniciado em 2010, o projeto prevê a prorrogação do prazo de pagamento em caso de problemas que afetem as lavouras. Neste ano, pela primeira vez, a cláusula será acionada, diz Paulo José Sponchiado, diretor da universidade.
Gerente de vendas da Uglione, concessionária Chevrolet em Santa Maria, Luziano Grellmann explica que, nos cinco primeiros meses do ano houve queda de 30% nas vendas feitas com desconto para pessoas jurídicas e produtores rurais. Grellmann atribui metade da redução ao impacto da seca por.
– O produtor que compraria uma caminhonete top de linha agora quer um modelo mais básico – exemplifica.
Essa mudança faz parte do ciclo explicado pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Mielitz. Ele ressalta que a safra frustrada impacta em duas frentes: diretamente, ao reduzir o poder de compra do agricultor, e indiretamente, por desaquecer setores importantes da economia:
– É um efeito multiplicador perverso, pois afeta a geração de emprego.
Nas contas de Mielitz, cada R$ 1 mil aplicados no campo movimentam R$ 3 mil em cidades mais vinculadas à atividade rural.
Um ramo que se ressente da diminuição do dinheiro no campo é a rede hoteleira. O empresário Geovani Gisler, de Santo Ângelo, no noroeste do Estado, teve de adiar projetos como a ampliação do estacionamento do hotel Versare Maerkli. A seca lhe tirou 30% das hospedagens nos últimos meses, porque empresas do setor agrícola têm cortado as viagens de vendedores à região. Para driblar a crise, Gisler reduziu a tarifa nos fins de semana em até 60%.
– Quando há seca, a queda costuma ser rápida, mas a retomada é lenta – diz.
Empresário em uma cidade que se intitula o berço nacional da soja, Santa Rosa, Nelson Theisen amarga redução de 30% em relação ao mesmo período do ano passado nos negócios de sua loja, que vende climatizadores de ambiente.
– Os agricultores tiveram quebras superiores a 40%. O comércio que mais sentiu na região foi o voltado à agricultura, mas quem vende artigos de conforto, como climatizadores, ou piscinas, também percebe – explica Theisen.