Entomologista conta que grandes infestações da praga trazem prejuízos superiores a 10 sacas por hectare
Pedro Silvestre, de Mato Grosso
No começo da temporada a falta de chuvas atrasou os trabalhos de plantio e trouxe dor de cabeça para os sojicultores do país. Agora, na reta final da safra, o excesso de precipitações é que traz problemas. Em Mato Grosso, o excesso de chuvas está prejudicando as aplicações de defensivos nas lavouras de soja e favorecendo a proliferação de algumas pragas.
Por todo o estado, as lavouras estão se desenvolvendo bem, mas o excesso de chuvas está atrapalhando a pulverização, principalmente nas variedades mais tardias. “Após a segunda quinzena de dezembro, a condição climática começou a dificultar muito as aplicações de fungicidas e inseticidas. Em apenas um final de semana tivemos mais de 150 milímetros acumulados. Tivemos praticamente dez dias sem sol”, diz o técnico agropecuário, Deivis Carlos Mussi.
Além da interrupção no manejo com defensivos, o excesso de umidade também favorece a proliferação de doenças e pragas nas lavouras. A mosca-branca é uma das que mais causa preocupação no produtor, além dos percevejos e da ferrugem asiática.
“Por aqui, agora temos a pressão da ferrugem, pragas de um modo geral e doenças de difícil controle, como o percevejo que começou a entrar. Se perdermos o período correto para aplicar defensivos contra essas pragas e doenças, isso trará muitos problemas depois”, explica Mussi.
No ano passado a incidência da mosca-branca foi alta e elevou os custos dos agricultores. Nesta safra, o técnico agropecuário acredita em um novo surto do inseto, já que há dificuldade em se prevenir das doenças.
“A mosca-branca está presente nas lavouras. Encontramos muitos ovos e ninfas ainda. Precisa monitorar para aplicar os químicos, porque ela é extremamente voraz. Quanto mais cedo conseguir eliminar as primeiras infestações da mosca-branca, mais sucesso no controle vai ter. Notamos que com a chuva temos uma incidência um pouco maior dela, começando no algodão e indo para a soja”, conta Mussi.
O produtor de soja, Robson Luiz Pinto, também está alerta. Ele já sentiu no bolso os prejuízos causados pela mosca-branca, no ano passado. Ele perdeu praticamente uma lavoura inteira de feijão. Como já há indícios da praga na lavoura de soja, ele tem aproveitado as janelas de sol para garantir as aplicações de defensivos.
“Também estamos preocupados. Já fizemos aplicação em toda a área, com produtos específicos para ela. Nos últimos talhões vimos que está precisando fazer uma segunda aplicação, pois apareceu bastante ali. Esse é um ano preocupante”, garante o produtor.
Segundo o entomologista Márcio Goussain, um estudo realizado com a mosca-branca, mostrou que as perdas chegam a quase 10 sacos por hectare, em lavouras com altos indices de infestação.
“O que nos preocupa é o veranico, pois como os produtores não fizeram essas aplicações necessárias, é possível que tenha uma incidência muito grande dali para a frente. Se não entrar no momento certo para aplicar, a mosca invadirá as lavouras e teremos mais gerações dentro da soja, pois ela vai migrar para uma soja mais nova e isso tende a aumentar o problema”, afirma Goussain.