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Lagartas da soja: ciência dá passo para criar novo controle biológico

A expectativa da Embrapa, que lidera o estudo, é que com a descoberta novos produtos biológicos para o controle das lagartas possam ser lançados a médio e longo prazos

As lagartas são um dos principais problemas para a cultura da soja quando o assunto é praga. São tantas espécies que nem as plantas transgênicas atuais combatem todas de uma vez.

Entretanto, uma pesquisa desenvolvida no Brasil está próxima de criar uma solução biológica para controlar esses insetos. Trata-se do sequenciamento genético de um fungo que atua como inimigo natural de lagartas que atacam a soja, o metarhizium rileyi, conhecido entre os produtores como doença branca da lagarta-da-soja.

O trabalho vem sendo desenvolvido nos laboratórios da Embrapa Soja, em Londrina (PR), e conta com a colaboração do Centro de Estudos Parasitológicos de Vetores, da Universidad Nacional de La Plata (UNLP), na Argentina. A expectativa dos pesquisadores é que com a descoberta novos produtos biológicos para o controle das lagartas possam ser lançados a médio e longo prazos.

“Esse fungo atua como um inimigo natural de várias lagartas, como a lagarta-da-soja, a falsa-medideira, o cartulho-do-milho e o curuquerê do algodoeiro. Ele infecta a lagarta por contato e não precisa ser ingerido para atuar naturalmente como controle biológico”, explica o pesquisador da Embrapa e líder da pesquisa, Daniel Sosa-Gómez.

Foto: Embrapa

Segundo o pesquisador, esse fungo foi encontrado em vários países do mundo, o que traz para a pesquisa uma perspectiva ainda mais ampla para a criação de produtos biológicos contra as lagartas. Sosa-Gómez explica que ao conhecer o comportamento de cada cepa (que são diferentes indivíduos do mesmo fungo), é possível associá-la à identidade genética e às variações que ocorrem em cada local.

“Com o sequenciamento, podemos conhecer melhor suas diferentes raças e diferenciar as cepas que são mais eficientes para uso como controle biológico comercial”, explica Sosa-Gómez.

A Embrapa Soja mantém, desde a década de 1990, uma coleção de cepas que ocorrem em diferentes partes do mundo, como Argentina, Estados Unidos, Filipinas, Japão, México e Índia.

“A pesquisa básica leva tempo porque é feita a partir de um grande volume de dados de DNA, que vai sendo revisado e organizado. O genoma foi depositado no banco de dados público de sequências biológicas, GenBank-NCBI-NIH, sob o número de acesso SBHS00000000.” afirma Sosa-Gómez.

Como descrito antes, a descoberta do sequenciamento é o primeiro passo e, agora, a ciência se debruça em como transformar isso em uma ferramenta útil no campo. Ou seja se esse controle biológico poderá ser aplicado via pulverização ou de outra maneira.

“Esse trabalho nos abre novas perspectivas para combate das lagartas. A ideia é que os primeiros produtos venham a ser usados como agentes de controle microbianos e pulverizados como um inseticida convencional”, afirma Sosa-Gómez ao Projeto Soja Brasil.

Pulverização X fungicidas

Se o método de aplicar for a pulverização, logo aparece um grande desafio para os cientistas: além dos herbicidas e inseticidas, os produtores aplicam fungicidas nas lavouras de soja e , obviamente, os fungos contra a lagarta não sobreviveriam.

Por isso, o pesquisador adianta que, para os próximos anos, a Embrapa irá atuar na seleção de isolados que tolerem altas doses de fungicidas, como os utilizados no controle da ferrugem asiática da soja.

“Os sistemas de produção estão cada vez mais complexos e não podemos mais analisar o controle de pragas isoladamente”, afirma Sosa-Gómez. “Por isso, o conhecimento obtido por essa pesquisa é tão importante: é preciso encontrar alternativas para tornar os sistemas de produção cada vez mais equilibrados”

A pesquisa também pode ajudar a identificar os genes envolvidos nos mecanismos de resistência a fungicidas, afirma o pesquisador.

Porque o fungo é conhecido como doença-branca?

O desafio é fazer com que fungos, como o Metarhizium rileyi, sobrevivam à ação dos fungicidas. Foto: Embrapa

O fungo metarhizium rileyi ataca as lagartas formando inicialmente uma camada branca sobre o inseto, por isso o nome popular de doença branca. É um agente regulador das populações das principais lagartas que afetam as grandes culturas.

Por causa de sua atuação altamente seletiva e eficiente em condições naturais ou agrícolas, o fungo se torna um importante agente biológico para o desenvolvimento de bioinseticidas e para a prospecção de componentes biológicos ativos com diferentes usos.

No passado, já serviu de base para desenvolvimento de produtos de controle biológico, mas caiu em desuso, voltando a ter potencial de exploração comercial com o uso das novas técnicas que permitem melhor produção de cepas. De acordo com Sosa-Gómez, atualmente há produtos à base do fungo sendo comercializados na África do Sul.

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