Citricultura discute quem é o responsável pela colheita

Operações são realizadas há pelo menos dez anos no Estado de São Paulo para verificar se os direitos dos colhedores têm sido cumpridosUma operação do Ministério do Trabalho flagrou uma série de irregularidades em fazendas de laranja do interior paulista. Essas operações são realizadas há pelo menos dez anos no Estado para verificar se os direitos dos colhedores têm sido cumpridos. De acordo com os fiscais, a informalidade ainda é grande no setor e é comum encontrar irregularidades. O problema das condições de trabalho na citricultura traz a tona uma discussão antiga do setor: afinal, de quem é a responsabilidade pela colheita

A colheita da laranja emprega mais de 100 mil pessoas a cada safra apenas no Estado de São Paulo. Atualmente, quem tem que contratar os colhedores é o responsável pelo pomar: ou seja, o citricultor. Porém, isso nem sempre foi assim.

Até 1994, existia o chamado “contrato padrão”: uma espécie de acordo entre produtores e indústrias, prevendo, entre outras coisas, que a responsabilidade pela colheita era da indústria de suco de laranja. Só que essa prática foi questionada na época com a alegação que poderia facilitar a formação de cartel. Resultado: o contrato padrão deixou de existir e, desde 1995, o responsável pela colheita passou a ser o citricultor.

Colher significa cumprir regras previstas em lei. Entre elas, registrar os trabalhadores e fornecer condições adequadas de trabalho. São normas que citricultores como Renato Toledo de Queiroz afirmam cumprir à risca, mas que têm impacto no custo de produção. No caso dele, a colheita custa R$ 3,50 por uma caixa de laranja que o mercado hoje compra por R$ 14.

Segundo Queiroz, que também faz parte da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), uma solução seria a indústria voltar a colher, porque poderia pagar melhor e investir mais na mão-de-obra.

A indústria discorda. O presidente da CitrusBR, entidade que reúne as processadoras, admite que mesmo em pomares que são das indústrias, há irregularidades. Para Christian Lohbauer, se a responsabilidade voltasse a ser das empresas, o citricultor perderia autonomia.

A polêmica foi parar na Justiça. Em fevereiro, o Ministério Público do Trabalho de Matão, interior paulista, entrou com uma ação no Tribunal Regional do Trabalho contra as principais indústrias de suco do país, pedindo que as empresas voltassem a contratar os colhedores de forma direta. Segundo o Ministério Público, com a terceirização, o salário de quem trabalha na lavoura foi reduzido e as condições de trabalho ficaram precárias. A ação está parada até hoje.