A queda do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no terceiro trimestre se deu por três principais fatores: adversidades climáticas decorrentes do fenômeno El Niño, que provocaram perdas de produção de diversas culturas; oscilação do câmbio entre o momento de aquisição de insumos por produtores, no fim de 2015, e o de comercialização das commodities, neste ano; e recuo das margens de lucro da indústria de carnes, que teve impacto do aumento dos preços domésticos do milho e da crise econômica no país. A avaliação é de Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
“Fechamos 2015 com cambio por volta de R$ 4, quando produtores estavam fazendo plantio e acabaram comprando insumos com dólar alto. À medida que a safra foi plantada, houve uma série de problemas que reduziu o preço dos produtos (em real) na hora de vender essa produção menor. Os produtores tiveram um receita ainda menor”, analisou Junqueira.
O PIB da agropecuária caiu 1,4% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quarta-feira, dia 30. Na comparação com o terceiro trimestre de 2015, o PIB da agropecuária mostrou queda de 6%.
A projeção de Junqueira é que haja retomada do PIB da agropecuária no último trimestre de 2016, cenário puxado por exportações de alguns produtos “semielaborados”, garantiu Junqueira. “Essa retomada pode ser alavancada pelas exportações de açúcar, cujo preço subiu muito, e de café também”, avaliou.
Ele ponderou, no entanto, que a competitividade do setor vem diminuindo à medida que o país não consegue levar à prática reformas consideradas necessárias, como a trabalhista, a desburocratização e a abertura a investimentos estrangeiros. “Tenho dito que o agro tem alguma resiliência, mas não fica imune à crise profunda que estamos vivendo. O Brasil não vai crescer somente pelo agro. E a maior parte do setor depende do consumo interno, que está muito deprimido”.
Mesmo com a possibilidade de retomada no último trimestre deste ano, Junqueira acredita que o PIB acumulado do setor fique negativo ou próximo de zero em 2016.
Para ele, a queda de 6% no terceiro trimestre em comparação a igual período de 2015 é um fator relevante, tendo em vista que no segundo trimestre o PIB do setor recuou 2% em relação ao primeiro; e 3,1% em comparação ao 2º trimestre do ano passado. “A perda acumulada no ano é grande e mostra um claro enfraquecimento do setor. É difícil a gente recuperar toda essa perda até o fim do ano”, disse. “De repente, pode ficar um pouco acima do zero, mas não vai ser muito diferente disso, não”, acrescentou.