Em São Paulo, no bairro do Brás, funciona a chamada Bolsinha do Feijão. No local são negociadas em média 30 mil sacas por dia. Isso em situações consideradas normais, afirma o administrador, Valdemar Ortega. Ele conta que, neste momento, tem sido negociadas cerca de 10 mil sacas por dia e a um preço mais alto. De dezembro até agora, o valor da saca de 60 quilos foi de R$ 130,00 para R$ 190,00. Nessa época, no ano passado, o valor não passava de R$ 90,00.
– Teve esse aumento brutal em poucos dias em decorrência dos problemas climáticos nas áreas de produção, tanto no Centro-Oeste quanto no Sul – relata.
Quem compra conta que já sentiu a alta. O atacadista Ronaldo Babilônia, tem 90% do seu estoque negociados na Bolsinha. O feijão chega em sacos grandes e é revendido ao varejo em fardos com saquinhos de um quilo. O quilo chega a R$ 4,00. Cada fardo tem 30 pacotes. Dois fardos equivalem a uma saca de 60 quilos. Considerando o custo operacional que o atacadista tem, dá pra dizer que a saca que ele comprou a R$ 190,00 é vendida a R$ 240,00. E com o preço mais alto, as vendas diminuíram.
– Não consigo repassar, tenho que trabalhar com uma margem bem mais apertada pra ver se consigo fazer negócio. Você ganha menos e tenta vender para poder girar – relata Ronaldo.
De acordo com os negociadores – corretores e atacadistas – por enquanto, o mercado tem sido abastecido pelo feijão produzido no Estado de São Paulo. Essa situação de preços mais altos deve durar pelo menos mais 20 a 30 dias, quando começa a entrar no mercado a produção de outras regiões, como Minas Gerais e Paraná.
– Se o tempo ajudar, esse preço para de subir e pode até voltar a baixar. Hoje esse preço se dá pela falta de mercadoria – afirma o atacadista.
– O preço deve cair sim no momento em que entrar realmente a produção. O que não sabemos é quanto pode cair – aponta o administrador da Bolsinha do Feijão.
O pesquisador do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA), José Sidney Gonçalves, garante que não há como saber quanto o preço deve reduzir. Ele explica que o produtor de feijão já vinha desestimulado por causa dos preços baixos da safra passada, tanto que a Conab já previa redução de área nesta safra. E veio o fator clima, que atrasou a produção em algumas regiões.
– A questão desse preço é, primeiro: qual é o tamanho do atraso e qual a quantidade de feijão que ainda está para entrar? A segunda questão é que as chuvas que estão ocorrendo tiveram efeito só de quebra de safra ou tiveram efeito também sobre quebra de qualidade? Ou os dois juntos? – questiona.
Enquanto essa situação não se define, o pesquisador acredita que é um bom momento para o produtor. O preço recebido, segundo o IEA, está em R$ 140,00 a saca. Há um mês estava R$ 120,00. Na mesma época em 2011 estava R$ 60,00. Isso com um custo médio de produção calculado em torno de R$ 90,00 por saca.
– Toda essa condição de preço acima de R$ 100,00, R$ 110,00 é favorável para o agricultor. O mercado está precificando o tamanho da escassez. O produtor que tem produto hoje não deve esperar muito tempo pra desovar. Acho que ele não deve esperar a entrada de fevereiro pra vender – sugere o pesquisador.